Esta última terça-feira à tarde, os colecionadores de arte contemporânea Norlinda e José Lima voltaram a “fazer história”, trazendo para S. João da Madeira aquela que, pelo menos que seja do conhecimento público, é uma das duas secções do Muro de Berlim existentes no país. A outra encontra-se exposta no Santuário de Fátima, na cidade de Fátima (concelho de Ourém), desde 1991.
Sendo o único órgão de comunicação social presente no local, o labor assistiu à chegada deste “pedaço de história” à cidade, onde no exterior da Oliva Creative Factory, junto à entrada do Centro de Arte de S. João da Madeira, vai permanecer temporariamente, podendo ser visitado por sanjoanenses e não só. O seu transporte foi feito por camião desde a Alemanha.
Trata-se, segundo disse a diretora do Núcleo de Arte da Oliva (NAO) em exclusivo ao jornal, de uma “instalação temporária”. Aliás, conforme acrescentou Andreia Magalhães, “está a ser planeada a implementação permanente desta secção do Muro de Berlim num outro local da cidade”, indo contra àquela que, atualmente, José Lima pensa ser a melhor solução.
“Inicialmente, pensei em colocá-la fora do Núcleo de Arte. Mas depois de pensar melhor acho que ficaria melhor aqui”, defendeu o colecionador, acrescentando: “Se for bem publicitada e divulgada vai chamar muita gente” ao NAO.
“Fragmento” do Muro de Berlim foi adquirido a um particular

José Lima não quis adiantar ao labor quanto pagou por este “fragmento” do muro que durante anos dividiu a Alemanha, mas contou que o adquiriu a um particular, que o tinha “em sua casa a 30 quilómetros do centro de Berlim”.
Com esta compra, após “para aí uns oito anos” de pesquisa e de lhe terem sido propostas “coisas absurdas, a preços impressionantes”, o colecionador vê assim mais um dos seus “sonhos” a concretizar-se. “A negociação foi um bocado demorada, mas conseguiu-se arranjar um preço razoável, aceitável, comportável”, afirmou.
A título de curiosidade, a secção do Muro de Berlim, símbolo de união e paz, que agora integra a Coleção Norlinda e José Lima “pesa 2.600 kg e tem 3,20 metros de altura e 1,25 de largura”, sendo originalmente oriunda da Potsdamer Platz, que “atualmente é uma praça central de Berlim, mas que na altura era praticamente deserta”.
“Em S. João da Madeira falta trabalho de mediação”
Segundo o também empresário da indústria do calçado sanjoanense, esta secção é “uma mais-valia não só para a coleção, mas também para S. João da Madeira. Faz parte da história contemporânea, da história da humanidade, mas sobretudo da história da Europa” e foi isso que “me moveu”, prosseguiu, fazendo questão de deixar claro que esta sua aquisição “não tem nenhum cariz político”.
Aproveitando a conversa com o labor, José Lima “bateu”, uma vez mais, “na tecla” da falta de divulgação do Núcleo de Arte da Oliva onde está guardada a sua coleção de mais de 1.000 obras de arte. “Por muito boa vontade que haja, se não houver mediação nem publicidade as pessoas não aderem”, chamou a atenção, dando nota de que “em S. João da Madeira falta trabalho de mediação”.
Em seu entender, “o trabalho está a ser bem feito dentro de portas e mal feito fora de portas”. Ainda na sua ótica, a autarquia devia, além de “obrigar as escolas a virem cá”, “ter um mediador que vá a todas as instituições locais e regionais” dar a conhecer o NAO.
Câmara satisfeita com vinda de “marco raro” para a cidade
Interpelada sobre esta matéria, a câmara municipal mostrou-se satisfeita com a vinda desta peça de arte para S. João da Madeira. “É uma peça que traz para S. João da Madeira uma dimensão muito importante da história ocidental. A união da Alemanha e a conquista da liberdade são aspetos fundamentais da construção europeia e é muito relevante que a nossa cidade tenha um marco raro nesse processo”, referiu o Município em declarações aosemanário.