Gosto de ir lavar o carro numa máquina automática e o homem esfregar o veículo tão bem que não mereceria ser mais lavado.
E dizer-lhe: “Não precisa de lavar tanto que a máquina lava.
E ele responder: “Não senhor, que a máquina não limpa certas coisas !
Ou ir a outro posto de gasolina com a “embaladeira” debaixo do carro a arrastar pela estrada fora e um homem bem vestido e com mãos limpas, sem ferramenta, sujar-se todo e fazer tudo para me desenrascar sem qualquer interesse monetário.
Ou ainda … Deixar o dinheiro na máquina do multibanco em pleno Continente e uma hora depois saber que houve alguém que tirou o dinheiro e o foi entregar ao “segurança” do supermercado e dizer-me pelo telefone quando lhe agradeci, que não precisa do dinheiro de ninguém (tinha mais de 65 anos).
O que gosto em Portugal é do sol e dos contrastes que ele faz sobre as montanhas de Arouca, sentindo a satisfação daqueles que nos trazem uma boa carne arouquesa no prato recheada de batatas fritas cintilantes, para nos fazerem felizes naquele momento.
Ou daqueles que nos encontram passados 20 anos e ainda se lembram de nós e contam histórias que já esquecemos e sentimos que eles deram importância aos momentos passados, por mais insignificantes que eles nos pareçam ter sido.
O que gosto em Portugal é a gente rural, homens e mulheres de feições rudes, marcadas pelo trabalho duro e não recompensado, com mãos ásperas, desconfiados por vezes, mas que sorriem para nós e nos indicam o caminho, desfazendo-se em explicações, por vezes confusas, mas sempre com vontade de ajudar ….
O que gosto em Portugal é o colorido das festas populares, o S. João do Porto em especial, com o céu de junho salpicado de balões coloridos e toda aquela massa de gente a martelar-se entre si, sem saber bem porquê, mas cheia de vida e alegria pela noite adentro.
O que gosto em Portugal são aquelas pessoas que ajudam e que aparecem quando um imprevisto casual nos aflige ou em casa ou na rua. Ou sentir que ajudei uma pessoa em cadeira de rodas numa noite chuvosa e ela se tornou minha amiga para sempre.
O que mais gosto em Portugal é reunir-me com os amigos e dizermos palermices uns aos outros, sempre a rir e a fazer troça de cada um sem nos chatearmos ou magoarmos. E elogiar as mulheres no seu trabalho doméstico e elas olharem para nós com certo ar descrente.
Mas, se calhar, o que mais gosto em Portugal ainda são os olhos bonitos e grandes das mulheres portuguesas e trigueiras, com o seu sorriso matreiro, superior a qualquer mulher estrangeira.