Em 2011 Teresa Margarida Brandão dava início a uma “mudança radical” na sua vida. Com uma carreira de cerca de 30 anos ligada à área da espiritualidade e do desenvolvimento pessoal, há muito que “ouvia falar que no Brasil havia uma coisa diferente” e foi a chegada da internet a Portugal que deu a conhecer a Biodanza a esta docente licenciada em Línguas e Literaturas Modernas – Inglês/Alemão. “Passado pouco tempo o António Sarpe, atual diretor pedagógico das Escolas de Portugal de Biodanza (Lisboa e Porto) veio para Portugal e a minha orientadora começou a formação e eu entrei logo na terceira turma”, recorda Teresa Margarida Brandão.
A paixão por este sistema fez com que a docente avançasse com a formação em 2011 e três anos depois começava a dar aulas, decisão que trouxe mudanças à sua vida. “Hoje estou muito mais à-vontade e sinto-me bem como sou. Já não sou a moça de 20 anos, mas tenho mais agilidade e, talvez, mais bem-estar, resultado do humor endógeno, que é algo que cultivamos na Biodanza”, explica a professora, garantindo que o sistema a levou a aceitar-se como é. “Não sou uma Naomi Campbell ou Gisele Bündchen, mas não há ninguém igual a mim, e isso é incrível”, acrescenta Teresa Margarida Brandão, admitindo que a Biodanza também lhe trouxe benefícios em termos profissionais enquanto docente.
Criada pelo psicólogo e antropólogo chileno Rolando Toro que a definia como “um sistema de desenvolvimento humano, renovação orgânica, integração afetiva e reaprendizagem das funções originárias de vida”, a Biodanza assenta num conjunto de exercícios e músicas com o objetivo de aumentar o nível de saúde, desenvolver a comunicação e estimular a criatividade. “Não tem nada a ver com exercício físico nem com dança no sentido tradicional do que é a dança”, explica Teresa Margarida Brandão. “É a expressão corporal utilizando a música, sem necessidade de passos, cadências ou a rigidez que outro tipo de dança exige. O corpo sente o move-se ao som da música num ambiente enriquecido”, realça a facilitadora (designação que se dá a quem dá aulas).
Na década de 60, ao longo das suas experiências em hospitais psiquiátricos, Rolando Toro concluiu que a dança e a música influenciavam os doentes. Foi a partir daí que começou a desenvolver a Biodanza, que inicialmente chamou de Psicodanza. “Teve um sucesso brutal. Foi quando percebeu que nós ativamos, mas também regredimos. São dois momentos que existem numa aula e que são fundamentais”, explica Teresa Margarida Brandão, sublinhando que a mudança de nome do sistema para Biodanza surgiu por iniciativa do fundador por achar que bio “estava ligado à vida e a tudo o que nos preenche. É o princípio de tudo”, refere.
Sem qualquer limitação, podendo ser praticada por qualquer faixa etária, desde crianças até idosos, são vários os benefícios atribuídos à Biodanza, que, segundo a facilitadora, permite que o “ser humano passe a viver a partir dos instintos”. “Eles estão cá, continuam a funcionar, mas nós apertámo-los. O que seria instintivo passa a ser reprimido”, conta a docente, esclarecendo que nas aulas de Biodanza é feita a reorganização celular e física e a reaprendizagem afetiva. “Se uma pessoa anda desanimada, sem força ou deprimida, quando chega a uma aula ganha energia para viver. Se até tem força e ânimo, mas é completamente desfocada, há exercícios que ajudam na focagem”, assegura a facilitadora, que também promove a modalidade na escola onde leciona e aponta várias vantagens para os alunos. Mais disponibilidade para a aprendizagem, afetividade, respeito, fortalecimento e manutenção de autoestima sã, cidadania consciente e edificação de valores humanos universais são alguns dos benefícios apontados por Teresa Margarida Brandão.
O sarau de ginástica da Associação Desportiva Sanjoanense, realizado no passado dia 7 de julho, demonstra isso mesmo. Uma aula na quarta-feira anterior ao evento foi fundamental para o sucesso do mesmo, segundo a treinadora Maria João Paixão, que também pratica Biodanza. “Fiz uma aula de propósito para criar nas ginastas sentido de equipa, amparo e apoio. No dia seguinte foram para o treino e a Maria João disse que não as conhecia, que estavam cheias de força e de ímpeto e que estavam a desempenhar melhor do que nunca”, revela Teresa Margarida Brandão. “O sucesso do sarau de ginástica da Sanjoanense não se deveu só a essa aula. Foi também devido ao facto da Maria João praticar Biodanza há dois anos e meio”, acrescenta a docente, garantindo que a treinadora “está completamente diferente”.
Com vários benefícios ao nível motor, como coordenação, flexibilidade, ritmo, entre outros, passando pela melhoria da resistência imunológica, do aumento da energia vital e contribuindo para o aumento da felicidade e alegria, Teresa Margarida Brandão confessa que gostaria de desenvolver este sistema junto de clubes, como a Associação Desportiva Sanjoanense. “Fazer Biodanza uma vez por semana faz com que os atletas se sintam mais integrados, mais em equipa e mais coesos uns com os outros”, refere. “Se, por exemplo, nas equipas de futebol se fizesse Biodanza os jogadores não chamavam nomes ao árbitro”, assegura a facilitadora, que explica o porquê de se limitar a uma aula semanal. “Todo o nosso hardware (corpo) e software (mente) tem de ter tempo para processar tudo. Se forem muitas aulas por semana não consigo elaborar o que aquela dança me trouxe, como estou, o que está a mudar ou o que preciso de mudar em mim”, esclarece, sublinhando que o sistema Biodanza estimula cinco funções universais chamadas linhas de vivência (vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência).
Desde a sua criação no Chile, na década de 60, que este sistema tem vindo a crescer e a expandir-se e hoje conta com escolas espalhadas por todo o mundo. Ao Brasil a Biodanza chegou por volta de 1976, seguindo-se depois a Europa, com as primeiras aulas em Portugal a serem dadas em 1998. Atualmente são dezenas os grupos dispersos pelo país, com S. João da Madeira a fazer parte das cidades onde a Biodanza está disponível.