Instalação “Coincidências & Identidades”, da autoria de Célia Ribeiro, quer “provocar a reflexão”

“Esta pesquisa toda [além das fotografias] fez-me ver que tenho capacidades. Veio dar-me um novo ânimo, mostrar que sou capaz de fazer qualquer coisa”. As palavras são de Célia Ribeiro, de 56 anos, a autora da instalação “Coincidências & Identidades” que, também no âmbito do Hat Weekend Festival e na passada sexta-feira, foi inaugurada na Praça Luís Ribeiro. Precisamente no local onde há um ano “fotografou exaustivamente”, com o seu telemóvel, a demolição do Elemento Arquitetónico – vulgo Pirilau – que durante anos “homenageou” a industrial local no centro da cidade.

Fê-lo “por acaso e iniciativa própria”, “daí o nome coincidências”, explicaram ao laborTeresa Maia e Alexandra Mortágua, respetivamente, educadora social e psicóloga afetas ao Trapézio Sem Rede II, projeto levado a cabo pelo Trilho – Unidade de Apoio a Toxicodependentes e Seropositivos da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira e no qual se integra o Espaço Ocupacional de Fotografia que Célia Ribeiro frequenta assiduamente desde 2015. A frequência deste ateliê, à semelhança de outros do género que o Trilho promove, não é obrigatória.

 

Instalação vai agora para o Fórum Municipal

Começando por ser individual, culminou num trabalho colaborativo e promotor de identidades e coincidências inclusivas que agora são mostradas à comunidade. “Era um projeto da Célia, mas depois houve aqui uma apropriação pelo próprio grupo. O projeto foi sendo construído pelo grupo [ao longo de um ano]”, contaram ao labor Teresa Maia e Alexandra Mortágua.

A ideia da equipa do Trilho era prolongar a exposição mais um mês, para aproveitar o período de férias em que a Praça Luís Ribeiro é visitada por mais pessoas, inclusive vindas de fora da cidade. Mas, ao que labor conseguiu saber junto da edilidade, “Coincidências & Identidades” vai agora ser remontada no piso 1 do Fórum Municipal

 

Objetivo é apenas “provocar a reflexão”

Que fique bem claro que com esta instalação composta por cerca de 60 fotos, mas também alguns textos, “não fazemos crítica nem tomamos o partido de quem quer que seja”, esclareceram Teresa Maia e Alexandra Mortágua, acrescentando que estamos perante “um olhar ingénuo e despretensioso”. “A Célia não tirou fotos nem nós expomos com nenhum sentido crítico”, reforçaram a ideia, garantindo ainda que o objetivo é tão-somente “provocar a reflexão”.

Alinhando pelo mesmo diapasão, André Rocha afirmou que Célia Ribeiro “fê-lo [realmente] sem qualquer presunção”. Em conversa com o jornal, o monitor do ateliê contou que a natural de Vale de Cambra, residente em S. João da Madeira desde muito nova, “me surpreendeu quando a dada altura me aparece com aquele volume de trabalho todo” “por iniciativa própria e totalmente impresso”.

“Ela não mostra apenas o processo de destruição. Há ali uma atitude de quase contemplação”, chamou a atenção o fotógrafo, prosseguindo: “A exposição não quer dizer nada especial, muito menos mensagens políticas, de intervenção (…). O objetivo é [também] mostrar que este tipo de população é sensível, tem sentimentos em relação ao que acontece à sua volta e merece ter uma voz”.

Para André Rocha, Célia Ribeiro “não deve ser considerada uma artista, porque não exerce a fotografia como um ofício, mas é autora de um trabalho artístico que faz reflexão de forma muito simples”.

A título de curiosidade, note-se que falamos da chamada “fotografia vernacular”, “tirada de forma espontânea, com equipamento simples, que retratam cenas do quotidiano”, conforme explicou o profissional de fotografia que tem um espaço na Oliva Creative Factory.

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