“França admite:
Carpinteiros de cofragem
Trolhas e pintores”.
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Trolhas de 1.ª, carpinteiros de cofragens para Portugal, Espanha e Bélgica.
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Empresa francesa necessita de m/f:
Trolhas de 1.ª e serventes
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Já aqui referi a explosão da construção que Portugal vive em certas zonas. E talvez se assista ao pior período nos últimos 30 anos em termos de qualidade construtiva.
Nos jornais diários correntes surgem, continuamente, anúncios com convites aliciantes para fazer sair do país a já tão precária mão-de-obra existente neste setor.
Porque, afinal, a construção que vivemos é anómala e anárquica acarretando, ainda por cima, uma mão-de-obra mal paga.
Em boa verdade, as empresas de construção têm até fraca rentabilidade e vícios do passado que levam a esta situação. Diversos fatores contribuem para isso: impostos pesados, fraca implantação de novas tecnologias, mão de obra não qualificada e pouco profissional, burocracia imensa na implementação das suas obras e um número infinito de obrigações na segurança no trabalho copiadas de algum país civilizado, com outro panorama construtivo.
A construção em Portugal faz, pois, lembrar um trator equipado com motor de Fiat 500. Lenta, inoperante e dispendiosa. Quando se chega ao produto final todos ficam algo descontentes.
As “empreitadas gerais”
Com tanto fervor que hoje se vive nesta área, muitos investidores querem saber de antemão, com grande rigor, o quanto vão gastar em determinado empreendimento. Então decidem contratar alguém que lhes faça a obra com “chave na mão”. Um pouco como aconteceu nos anos 90.
Decidem então contratar o chamado “empreiteiro geral” que possui nos seus quadros trabalhadores insuficientes para as obras em questão. Com efeito, a maior parte deles já emigrou no tempo da “troika” e, atualmente, não possui trolhas qualificados e produtivos. Não têm pessoal que trabalhe o ferro do betão armado (feito no sítio ainda como há 50 anos atrás sem apostar na pré-fabricação), não tem serralheiros de ferro ou alumínio nem carpinteiros nem electricistas ou canalizadores.
Esse dito “empreiteiro geral” vai, então, contratar os “sub-empreiteiros” e estes, por sua vez, contratam “sub-sub empreiteiros”. Tudo num quadro legal, diga-se de passagem, mas totalmente imprevisível e descontrolado. No fundo, as empresas são pequenas, as que prestam esses serviços, e algumas delas constituídas há pouquíssimo tempo. Mas prontas a serem dissolvidas mal as obras abrandem.
O investidor da obra em questão vai poder encarar no curso dos trabalhos com pessoal que pouco ou nada percebe do que está a fazer. São muitos deles jovens sem formação, com vícios já de trabalho pouco produtivo, sem motivação porque afinal foram muito mal remunerados pelos seus serviços.
O dinheiro que o investidor paga foi-se subtraindo pelas comissões dos “sub” e dos “sub-sub”.
Nos países latinos, como o nosso, esse tipo de exploração “vertical” torna-se ainda mais bárbara e camuflada, pois a indisciplina surge em todas frentes que fazem parte de uma empreitada com valores, por vezes, avultados. Na verdade, em obras pequenas esta realidade não se passa.
Por tudo isto, caro leitor, não é de admirar a torrente de anúncios diários a instigarem à emigração. Não valerá de nada o nosso atual 1.º ministro convidá-los a regressar. Quando se emigra não se regressa facilmente.
Os investidores no setor da construção têm de ter maior conhecimento e articulação dos vários tipos de empreiteiros que vão intervir na sua obra fazendo ajustes diretos com os mesmos e obrigando-se a uma maior fiscalização de obra. Evitam assim preços exorbitantes, comissões desreguladas e pouco dignas para com o trabalho duro e braçal de muito pessoal que contribui para o sucesso do seu investimento.
No final terá maior controlo da qualidade dos trabalhos diversos que compõem a sua construção e empreendimento. E não assiste a certas derrapagens de preços que o tal “empreiteiro geral” lhe vai apresentar no decurso da obra.
Por parte dos governos que, sucessivamente, têm olhado para o lado face a esta realidade é tempo de reduzirem impostos, já que estamos tão bem no crescimento económico.
Reduzir também “pesos mortos” nas exigências burocráticas neste setor retirando peso ao corporativismo e reduzindo poder amorfo da burocracia da proteção civil (bombeiros ) ou das câmaras municipais que nas grandes áreas urbanas, como o Porto, Lisboa, Gaia e Matosinhos, somente contribuem para alimentar casulos de corrupção e clientelismo .
E, por fim, apostar fortemente na especialização e formação das várias “artes” e especialidades que compõem o setor da construção civil. Afinal, são estes trabalhadores que muito fazem pelo crescimento da economia e que tão pouco recebem em troca, pelo seu trabalho sem direito de antena diária nos telejornais.
E, já agora, parar de chamar a quem investe de bandidos, especuladores como alguma rapaziada partidária faz maliciosamente transparecer para a comunicação social através de propostas de lei falsamente moralistas e que só estimulam a inveja.
