Tantas vezes o António me desafiou para ir ver a horta que ele planta com carinho em Fundo de Vila, num talhão (terreno) junto ao caminho de ferro, na Rua Vale do Vouga, em S. João da Madeira, que eu, no passado domingo, não tive outro remédio se não aceitar o convite.
Já se sabe como são os pedidos destes jovens: pedem, pedem, insistem, insistem. Não censuram uma recusa, mas olham-nos de uma forma, com aquele jeito de piedade, que acabam por nos levar à certa.
Fui e, confesso, não me arrependi nem um bocadinho. O António (Gaiato) mostrou-me as couves, as batatas – e nem deu tempo para dizer que não: três quilos vieram para casa -, as cebolas, os alhos, as ervilhas de quebrar. Por fim, a salsa e os espinafres não podiam faltar: tudo que podia plantar tinha o António, “Grande Pequenote”, no terreno. E enquanto me levava a reboque para ver o produto da sua atividade, foi-me dizendo que gostaria de mudar para um talhão (terreno) maior, porque o que que trata neste momento já não chega para as encomendas.
Rendido a esta agricultura dita urbana – ou comunitária como lhe chama a Câmara Municipal de S. João da Madeira, quem gere os talhões – recordei o meu tempo de infância e o quintal da casa da minha avó, na Rua Marques Marinho na freguesia de Cedofeita, Porto, onde vivi os primeiros anos de vida, mas muitos mais anos aquando de férias de escola e mais tarde de trabalho.
O quintal tinha uns bons 25 metros de comprimento e 10 de largura, um perfeito paraíso com árvores, duas ameixoeiras e uma figueira e ainda uma ramada de framboesas; havia um tanque e um poço. A água corria em abundância do tanque de pedra. Nem tudo desapareceu e agora o que resta só vive na minha memória.
Por isso, me fez muito bem ir ver a horta do António, que partilhou comigo o facto de no futuro vir a ser bailarino, não agricultor. Bom … O tempo dirá o que vai ser: na verdade ele só tem nove anos e não há pressa!