Em S. João da Madeira, o Padre Anselmo Borges alertou para o que significará, por causa da robótica, viver numa sociedade sem trabalho
“Com as novas tecnologias NBIC (nanotecnologias, biotecnologias, inteligência artificial, ciências cognitivas e do cérebro) em conjunção e entrecruzamento exponencial, estamos ou podemos estar à beira de uma realidade nova como nunca houve e cujo futuro ainda desconhecemos, mas que leva a colocar as questões do chamado transhumanismo e pós-humanismo”, chamou a atenção o teólogo natural de Paus (Resende), para quem “estão a nascer miúdos que nunca vão ter um trabalho” e se assiste, hoje, a um “excesso de poder”.
Subordinada ao tema “A Humanidade e os seus desafios éticos”, a terceira conferência do ciclo “Pensar Futuro” trouxe a S. João da Madeira (SJM) o conhecido sacerdote da Sociedade Missionária Portuguesa, docente de Filosofia e Ética na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e colunista do Diário de Notícias.
Nos Paços da Cultura – perante um público que até se fez representar em grande número para uma tarde de bom tempo como aquela que convidava a passeios ao ar livre e que se destacou por algumas intervenções “quentes” no final – o Padre Anselmo Borges falou daqueles que, em seu entender, são os “desafios éticos” da Humanidade. Estes, além das NBIC, passam pelo armamento nuclear, pela ameaça ecológica, entre outros.
Segundo o conferencista, “há armamento atómico suficiente para destruir o planeta e acabar com a vida na Terra e, por outro lado, se não tomarmos medidas urgentes do ponto de vista do ambiente, da ecologia, corremos o risco de a Terra, que esteve sem nós milhões de anos (nós somos recentes na terra), nos excluir dela”.
“É [pois] preciso refletir eticamente sobre estes grandes problemas que se apresentam à Humanidade e ao seu futuro”, apelou, por mais do que uma vez ao longo desta sua conferência em SJM, o professor universitário.
Plano Marshall para África
Também em SJM, tal como já havia feito em outras ocasiões e em outros locais, o Padre Anselmo Borges defendeu um Plano Marshall para África. E com isto apenas quis voltar a alertar “para os problemas gigantescos que as migrações, concretamente atendendo ao desastre africano, não só por causa das guerras, mas também do subdesenvolvimento e da desertificação, vão colocar ao Mundo, nomeadamente à Europa”. Na sua ótica, “precisamos de tomar consciência de que é urgente fazer algo por África, para que os africanos se possam desenvolver lá, nos seus países. Isso seria bom para eles e para a Europa, como aconteceu com o Plano Marshall (Estados Unidos e Europa, concretamente Alemanha). Caso contrário, chegarão centenas de milhares de africanos ou mesmo milhões à Europa”.
Manuel Sobrinho Simões é o conferencista que se segue
Depois de Anselmo Borges, o próximo convidado desta iniciativa promovida pela câmara municipal é o médico e investigador Manuel Sobrinho Simões, para uma sessão agendada para as 17h00 do dia 10 de novembro. A entrada é gratuita, mas os interessados em participar devem reservar bilhete antecipadamente nos Paços da Cultura.
Recorde-se que o ciclo “Pensar Futuro” teve início em abril deste ano com a participação de Teresa Tito de Morais, presidente do Conselho Português para os Refugiados, e de Carlos Magno, ex-presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). O tema foi “A Humanidade e os seus Refugiados”.
A segunda conferência, com o título “A Humanidade e as suas cidades de futuro”, decorreu em junho, tendo como orador o sociólogo João Teixeira Lopes.