Junta de freguesia nos Paços da Cultura
Erro político, resignação ou vulnerabilidade?
A primeira questão que me ocorre é: se a junta de freguesia fosse governada por outra força política, estaria o atual executivo disponível para cometer este erro colossal que à evidência tanto prejudica os Sanjoanenses?
É minha firme convicção que NÃO.
A segunda questão: como é possível que um executivo socialista, eleito na perspetiva de melhorar as condições de vida dos Sanjoanenses, possa cometer este erro por razões políticas e para satisfação de vaidades pessoais?
Este é um erro grosseiro e uma decisão precipitada que prejudicam claramente a vida dos munícipes.
Vejamos: um cidadão dirige-se ao Fórum Municipal, ou seja à Câmara, às Finanças ou à Loja do Cidadão, para tratar de um assunto que, por questões legais, lhe exige um certificado de residência, de prova de vida ou de agregado familiar.
Ora até este momento, só tinha que se dirigir à entrada do Fórum onde estava a Junta de Freguesia.
Mas com esta decisão, o mesmo cidadão terá que se descolar agora ao outro lado da cidade (aos Paços da Cultura) para ir buscar o tal atestado e voltar depois, pelo mesmo caminho, para o Fórum Municipal para continuar então a tratar do seu assunto.
Mas alguém de boa-fé acredita que concorrer para esta situação é defender os interesses dos munícipes?
Claro que não.
A minha dúvida é muito simples: será que existe, da parte do executivo camarário, uma tal cegueira política que o leva a negligenciar os interesses dos munícipes a favor de interesses corporativos (PS)? Ou não terá o executivo, a força política suficiente para se opor à teimosia e vaidade pessoal da presidente da junta, resignando-se politicamente e demonstrando assim uma vulnerabilidade política que, aqui e ali, começa a ser evidente?
Os argumentos da presidente da junta e do PS não colhem.
São, aliás, de uma enorme falta de rigor, para não ir mais longe nos adjetivos.
Diz a presidente da junta que nada vai mudar e apenas vão criar mais dinâmica ao espaço, dando como exemplo as exposições patentes na galeria de arte dos Paços da Cultura que, segundo ela, tem poucos visitantes.
Pois bem: acredita, honestamente, a senhora presidente da junta que os 49 munícipes que em 2018 foram aos serviços da junta tirar licenças para canídeos ou os 59 munícipes que requisitaram atestados diversos irão visitar as exposições?
Acredita a senhora presidente da junta que uma repartição pública com um horário laboral das 9h às 17h00, de segunda a sexta-feira, vai aumentar o fluxo de pessoas nos Paços da Cultura?
Um outro argumento é o da localização dos Paços da Cultura que, por se encontrar junto aos CTT, que por acaso também funciona em horário laboral, vai contribuir para a captação de públicos.
Pois bem: em primeiro lugar, deve dizer-se que esta proximidade existe desde sempre e não existe qualquer evidência que uma pessoa que vai levantar ou despachar uma encomenda ou o idoso que lá vai levantar a sua reforma, sai tranquilamente dos CTT para ir, cheio de vontade, visitar uma exposição aos Paços da Cultura. Não aconteceu antes e não vai acontecer agora. Com ou sem junta no edifício.
É por demais evidente que estes argumentos são falaciosos e desonestos intelectualmente.
Então qual seria a solução para dar um espaço digno à Junta?
Esta semana desloquei-me ao Fórum Municipal e reparei que mesmo ao lado do balcão de atendimento ao munícipe existe um enorme balcão completamente desocupado e pensei, com os meus botões: se os políticos que dirigem esta terra fossem politicamente livres dos jogos partidários e pensassem acima de tudo no interesse dos sanjoanenses, este seria o local ideal para instalar os serviços da junta. Alguém me disse que por ali existe, também, um gabinete sem uso que daria um bom gabinete para a senhora presidente da junta. Mas para isso era preciso deixarem de lado as vaidades pessoais, as teimosias e o egoísmo político, e pensar acima de tudo na qualidade de vida da comunidade.
Ou considera a presidente da junta de freguesia ser mais competente do que o executivo camarário para a atração de públicos?
Ou considera a presidente da junta que os seus serviços têm mais capacidade na gestão de um espaço cultural emblemático da cidade do que os serviços camarários?
Ou, ainda, considera a presidente da junta que o trabalho feito ao longo de tantos anos na criação de um espaço cultural com méritos reconhecidos foi mal feito, também, por este executivo, e então o melhor é entregar a quem possa fazer melhor?
Só falta que, num momento de deslumbramento político, a presidente da junta se considere mais competente do que o actual presidente do executivo para presidir ao mesmo!
É lamentável que um assunto com esta dimensão e importância estratégica não tenha sido bem decidido pelo executivo ou, pelo menos, colocado à discussão pública e tenha sido decidido nos corredores da política partidária.
Jorge A. Silva