Animais de estimação no local de trabalho. Então, e as pessoas?
O executivo decidiu que o Gabinete dos Vereadores iria adotar gatos e que os funcionários estavam autorizados a levar os seus animais de estimação para o local de trabalho. Creio tratar-se de uma decisão voluntarista, generosa mas pouco ou nada refletida.
E, digo pouco refletida porque:
– Cuidou o presidente do executivo de saber se entre os funcionários da autarquia existem pessoas com alergias ou fobias a gatos ou a qualquer outro tipo de animais de estimação?
– Cuidou o presidente do executivo de ter em atenção a qualidade de vida dos munícipes que, sofrendo de algumas destas patologias, tenham que se dirigir aos serviços da Câmara?
– Cuidou o presidente do executivo de prevenir o efeito que estas alergias ou fobias podem ter nos níveis de absentismo laboral?
– Cuidou o presidente do executivo de refletir sobre o facto de os animais no local de trabalho constituírem um fator de distração e influírem nos níveis de produtividade? E de que animais, como os cães, precisam de ser passeados ao longo do dia?
– Cuidou o presidente (a persistir nesta decisão) de criar condições de igualdade para que qualquer funcionário, sem exceção, possa levar o seu animal de estimação para o trabalho? Ou será que tal medida vai inserir novos fatores de desigualdade, entre os que podem e os que não podem brincar com os seus cães ao longo do dia de trabalho?
Esperando que todas estas questões tenham sido bem ponderadas, limito-me aqui à minha experiência. Trabalho numa empresa com cerca de 40 pessoas onde o mais importante são de facto as pessoas. Tenho pena, até porque tenho um cão e dois gatos e preferia tê-los comigo ao longo do dia. Mas deixo-os em casa porque na minha empresa não são permitidos animais, porque uma das colegas tem fobias a cães e outra é alérgica a gatos, porque os clientes que nos visitam não têm que ser expostos aos nossos animais e porque se as cerca de 20 pessoas que têm animais de estimação na minha empresa decidissem levar os ‘bichos’ para o trabalho quase podíamos transformar o escritório num Zoo visitável!
Enfim, isto é o que acontece nos locais de trabalho onde as pessoas ainda importam.
“Guiar-me-ei pelo interesse dos sanjoanenses e pelo programa que apresentei à cidade” (Jorge Vultos Sequeira)
Este fim de semana foram inauguradas duas exposições nos museus da cidade. Devo dizer, se ainda não as visitaram, que são ambas interessantes e merecem que ali se perca (ou se ganhe) algum tempo.
Primeiro foi a vez do Museu da Chapelaria com uma exposição de uma artista espanhola. A seguir, chegou a vez do Museu do Calçado com uma designer austríaca.
E foi precisamente enquanto assistia, no meio da escadaria de acesso ao Museu do Calçado, ao pequeno espetáculo de música (creio que tocaram Mozart), que me veio à cabeça o programa eleitoral do Partido Socialista.
Recordava-me vagamente de uma promessa relativa a este museu que nesse momento fez todo o sentido para mim e que durante esta cerimónia me voltou à cabeça.
Mais coisa, menos coisa, era qualquer coisa como isto:
“Encontraremos uma solução para ampliar as instalações do Museu do Calçado para dar maior dignidade a um museu premiado e garantir espaço para exposições de dimensão internacional”.
Ora aqui está uma promessa de peso que faz todo o sentido. S. João da Madeira é a grande capital do calçado e como capital que é deu ao País e ao Mundo um interessante e grande Museu, em conteúdo e qualidade (mas não me acreditem; comprovem pelos vossos próprios olhos, fazendo uma visita) que, infelizmente não se percebendo bem porquê, foi atirado para a cave de um edifício.
Lembro-me, quando vi aquela promessa, que o Partido Socialista tinha exatamente a mesma perceção. Este museu tem capital para se transformar numa grande referência cultural do nosso país, como aliás os tais prémios bem o demonstram, mas não lhe foi dado politicamente, pelo executivo municipal anterior, a dimensão e a importância que justificadamente deveria ter.
Mas um ano passado sobre aquela promessa, e como se percebeu este fim de semana, pese o esforço de toda a gente para enobrecer o momento, o Museu continua a não ter a prometida ampliação de instalações “para dar maior dignidade” à nossa história, nem para garantir exposições de dimensão internacional, tal como foi prometido.
Um ano passado, desde aquela promessa, pergunto: até quando o executivo vai ignorar os seus compromissos com a cidade?
Jorge A. Silva