Não podemos nem devemos fazer como a avestruz: enterrar a cabeça na areia para não vermos o que se passa à nossa volta, o que nos assusta ou nos incomoda, como se o acontecimento de não vermos permitisse também que não sofrêssemos. Isto não é qualquer coisa que trate como sendo qualidade privativa. Isto é particularmente verdade – verdade descarada quando temos que lidar com a diferença – a diferença que outros seres humanos apresentam em relação à maioria que se convencionou chamar “normal”.
Nas sociedades civilizadas, o progresso tecnológico e científico, novas e referenciadas práticas clínicas e a determinação de uns quantos homens e mulheres têm permitido acabar com quem era condenado por crimes políticos, como quem diz, com ostracismos, berrantes, como sucedia com o isolamento a que eram sujeitos os doentes com moléstia de pele ou que sofrem de perturbações mentais. Mas os hospitais para a apavorante doença e os manicómios persistem na nossa cabeça, tendo ainda a força das paredes que confinavam ao isolamento, o que era desagradável ao nosso olhar. Uma verdade particularmente dura para quem tem SIDA, uma doença que não se “vê”, mas sobre a qual o doente/portador se sente obrigado a informar o que muitas vezes lhe custa a exclusão e a rejeição em comunidades que até teriam o dever de estar amplamente bem informada para o não o temerem. É pelo direito, um direito afirmativo à inclusão de todos que uma sociedade evoluída com força tem de lutar – mesmo que o faça em paralelo com outros combates que aparecem mais urgentes, como acabar com a pobreza e a fome, conseguir o direito à saúde e à educação para toda a gente. Isto seria um bom tema para uma entrevista, como também seria sobre a queda do Muro de Berlim (já lá vão 29 anos), pois ainda há Alemães de leste e Alemães ocidentais num País que se partiu ao meio e que ainda não conseguiu verdadeiramente “unificar-se”, e essa união só se fará não pela força mas pela vontade de todos pertencerem a uma mesma nação.