A falta de ambição

A coligação PSD/CDS decidiu abster-se na votação do Orçamento Municipal (OM) de 2019. Ao fazê-lo, a coligação demonstrou uma grande falta de ambição e cometeu um enorme erro político.

Senão vejamos:

O Orçamento Municipal de 2019 seria sempre aprovado, fosse qual fosse o sentido de voto da coligação, por isso, este era o momento de transformar o voto numa declaração política, enérgica e marcante.

Ao abster-se, a mensagem que a coligação envia aos sanjoanenses é de que o OM 2019 do PS pode não ser bom, mas também não é mau. Ou quando muito, tem umas “coisitas” com as quais não concordam mas no geral passa. Não pode a coligação defender-se dizendo apenas que se absteve devido ao seu sentido de responsabilidade e para se diferenciar da política de obstrução outrora seguida pelo PS, pois, como é evidente, o OM seria sempre aprovado. Os sanjoanenses esperam da coligação uma oposição forte de modo a que o executivo cumpra as suas promessas eleitorais.

Numa crónica anterior, sugeri que o PSD fizesse uma séria reflexão sobre os resultados eleitorais, tirasse daí as devidas conclusões e, em função dessa reflexão e autocritica, mudasse a sua orientação política.

Porque sou um cidadão preocupado com a cidade e com o seu desenvolvimento, procuro pugnar por uma oposição com ambição, e por essa razão, deixo aqui algumas questões e reflexões.

Como foi possível que o anterior presidente da Câmara, em apenas seis meses, desbaratasse as maiorias eleitorais anteriormente conseguidas?

Como é que se deixaram deslumbrar com um resultado completamente enganador, obtido nas intercalares, que foi conseguido exclusivamente por demérito do PS e da sua inabilidade no assunto das piscinas (basta lembrar o número de assinantes da petição a favor da sua construção)?

É para mim seguro que se tivesse sido o anterior presidente o candidato da coligação às eleições de 2017 a derrota seria, também, o resultado obtido (talvez não pela mesma margem mas com certeza com uma maioria a favor do PS). E isto porque, durante o seu mandato, não houve um projeto para a cidade e de cidade e não se fez obra. Limitou-se a gerir o dia-a-dia, por vezes de forma errática ou guiado por estados de alma (tão visível em várias entrevistas e discursos públicos), e sempre sem uma visão global para o desenvolvimento da cidade.

Por isso, ao apostar neste (inexistente) projeto político, apresentando a votos um candidato que foi, durante muito tempo, a imagem dessa governação, a coligação PSD/CDS entregou de mão beijada a vitória ao PS.

E, ao insistir em ter como seu principal rosto o vereador que foi o candidato derrotadíssimo nas últimas eleições, a coligação fragiliza-se e “refugia-se” em intervenções nas reuniões de Câmara e Assembleias Municipais. Ao esconder-se, também não se permite qualquer iniciativa verdadeiramente politica que a coloque na rua a sentir o pulso à população. As oportunidades, não tendo abundado, também não faltaram.

É por demais evidente que o executivo PS está a fazer um excelente trabalho (em algumas áreas bem acima do esperado). Mas, em todo o caso, não tem estado isento de erros, que a coligação não tem sido capaz de aproveitar politicamente.

Em política existem heranças que devem ser assumidas e outras que o melhor é nem sequer considerar.

Andou bem o PS ao afastar-se da herança deixada pela sua anterior direção.

Andou mal o PSD ao não saber distinguir entre aquilo que era a herança política vencedora deixada por Castro Almeida e uma herança política condenada a ser perdedora deixada pelo seu sucessor.

 

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