Dos modos correntes

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Enquanto seres vivos, povo por assim dizer, temos dos modos correntes (costumes) partilhados que nos concedem uma parte substantiva daquilo a que chamamos identidade e que permitem saber quem uma pessoa é. A muitos desses modos correntes que se foram enraizando e invadindo o quotidiano chamamos nós tradição e valorizamo-los ou desprezamo-los consoante uma intriga, pequena que seja, mas complexa de razões de caráter pessoal.

Nessa tradição, que não sabemos como se constitui nem quão antiga é, cabem aspetos variados. Desde a moral judaica-cristã, que dizemos ser a nossa, assim nos ensinaram, até à tal dieta mediterrânea que pode prevenir doenças cardiovasculares, passando pela música, que de caminho ajuda a explicar algum fatalismo constitucional e uma essência de saudosismo descontente que relacionamos com predomínios perdidos.

Dos modos correntes que partilhamos com outros, não com todos, poucos, mas em todo o caso suficientes para sentirmos que temos uma família, só temos bem a dizer.

Que bom que é voltar todos os anos aos mesmos sítios que ainda têm cheiro de infância, celebrar aniversários ou natais, comparecer aos mesmos locais que cruzamos num dado momento, ir vendo como as vidas têm um rasto de tranquilidade e segurança que perdura no resto do tempo em que temos que estar abertos à mudança e à correria do tempo.

Dos modos correntes, como quem diz dos costumes de cada um de nós, quer dizer dos procedimentos automáticos que nos arranjam, ainda há pelo meio do espaço mental fértil enquanto desenvolvemos profissionalmente algumas tarefas, não há muito a dizer. Tarefas que até dão jeito e facilitam desempenhos. Outras nem por isso. Só dão para desperdiçar energias e essas são as que normalmente chamam mais à atenção e não dá para as mantermos sob controlo. De vez em quando, interrogamo-nos sob o estatuto de alguns dos nossos comportamentos e sentimentos. Perguntamo-nos se é por modo corrente que fazemos o que fazemos, somos o que somos. Por aí, os considerandos sobre os modos correntes complicam-se, porque nós complicamos.

Os nossos modos correntes, os costumes sempre foram e são os nossos alicerces, a nossa rotina, a nossa segurança, os nossos prazeres, mesmo que pequenos que sejam, mas também pode ser a nossa “desgraça”, um empecilho na vida de tal forma que podemos não nos conseguir livrar.

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