O convite apanhou-a de surpresa?

Foi uma surpresa grande ter recebido este convite do Ministério da Cultura. Claro que me honra muito, e me levou a repensar um projeto de vida que estava definido em S. João da Madeira e agora de repente vai passar por Coimbra. Fui contactada em final e novembro, início de dezembro pela secretária de Estado da Cultura e a partir daí começou a traçar-se este projeto que obviamente foi apoiado e estimulado pelo presidente da Câmara de S. João da Madeira sem cujo apoio nada disto se poderia verificar como é evidente.

Disse logo que sim?

Tive pouco tempo para pensar devido à necessidade de uma resposta rápida por parte do Ministério da Cultura. Ponderei as consequências da decisão do ponto de vista pessoal e profissional. Pareceu-me a mim e às pessoas que me rodeiam, pessoal e profissionalmente, que estariam reunidas as condições para poder dar este passo. Aceitei o convite em muito menos de 24 horas.

“Vou deixar de estar num Município para estar em 77 Municípios”

Quais as expectativas para o novo desafio que tem a partir de 1 de janeiro de 2019?

Neste momento seria prematuro fazer qualquer tipo de planos. Estamos a falar de uma responsabilidade e de uma função cuja atribuição por natureza é regional. Só posso antever, neste momento, que a mudança vai ser grande. Vou deixar de estar num Município para estar em 77 Municípios. Admito que isso venha a ter consequências.

“Sem estas pessoas ao meu lado o caminho não teria sido tão bom e tão positivo”

Como estão a ser os últimos dias à frente da Divisão da Cultura do Município?

Como estamos no final do ano por natureza está a acontecer o procedimento de encerrarmos um ano e abrirmos um novo ano de trabalho que já está planeado do ponto de vista da programação e grandes eixos de trabalho para 2019. Claramente e solidamente estabelecido também do ponto de vista político. Neste momento, estou a fechar o ano no que diz respeito a tudo aquilo que podia transitar para 2019 e que tem de ser redistribuído a colegas. Estou a analisar os processos todos e tentar não me esquecer de nada para garantir que tudo aquilo que tinha em mãos e estava sob a minha responsabilidade ficará entregue aos responsáveis pelas instituições para darem continuidade de uma forma profissional aos projetos. O que tenho a plena convicção que irá acontecer. Essa é uma grande tranquilidade que tenho e o presidente da câmara que é o sabermos da qualidade das equipas que trabalham na Divisão da Cultura quer no Museu da Chapelaria, no Museu do Calçado, na Biblioteca, na Casa da Criatividade e nos Paços da Cultura. O que me dá a garantia a mim e ao presidente de que todo o trabalho desenvolvido até agora, todo o caminho que se fez em termos culturais na cidade não vai nunca regredir, pelo contrário, tem todas as condições para melhorar. Temos grande confiança nestas pessoas absolutamente extraordinárias e temos a certeza que sem estas pessoas ao meu lado o caminho não teria sido tão bom e tão positivo para a cidade. O sentido de missão que todos eles têm é o que nos assegura que o caminho vai continuar a ser feito com imenso sucesso. Além do mais temos uma equipa política profundamente comprometida com a cultura e isso faz toda a diferente porque há um projeto, uma politica cultural muito firme, com objetivos muito orientados para aquilo que é as necessidades da comunidade e que claramente alicerça o projeto técnico.

“Houve sempre equipas que me foram testando e lançando desafios completamente diferentes”

Qual o balanço que faz de 23 anos a trabalhar para o Município?

Cheguei à câmara em 95 para fazer um estágio porque estava à espera de ir para mestrado. Quando dei conta passaram 23 anos. Acho que foi um caminho muito grande que fiz como pessoa e profissional. Cheguei à câmara para fazer um estágio no gabinete de comunicação e assessoria de imprensa até porque sou licenciada em Comunicação Social. Ao fim de dois meses comecei a ser chamada para dar apoio a outros pelouros. A dada altura sou chamada pelo presidente da câmara da época para dizer que pretendiam desenvolver um museu em S. João da Madeira. E então? É que de museus não percebo nada. Ele disse vai fechar uma fábrica, onde é agora o museu, vamos ver o que se pode fazer e vai ficar responsável por isso. A partir daí, deste grande desafio, o que sinto é que estes 23 anos foram feitos de muitos desafios porque do lado da câmara, politicamente, houve sempre equipas que me foram testando e lançando desafios completamente diferentes. Fui colocada perante desafios maiores que me obrigaram a um grande investimento pessoal ao avançar para mestrado e doutoramento. Sinto que tive mutos empregos, em muitos sítios com pessoas diferentes. E pronto tenho um enorme carinho e amor pelas coisas que deixo na cidade que acho que de alguma forma ajudaram a desenvolver a cidade, a fazer-nos crescer a todos enquanto comunidade.

Qual o desafio mais desafiante?

Eles são todos desafiantes no sentido em que sempre que fui confrontada com um novo desafio, senti imediatamente que tinha de saber, estudar e investigar mais. Nunca fiz um projeto igual aos outros e todos eles tinham um grande de exigência e de desafio muito específicos e próprios. Em termos de projetos que conduzi de início a fim temos os dois museus, na Oliva Creative Factory entrei numa primeira fase na equipa que fez reflexão sobre a candidatura e estive como diretora executiva durante o primeiro ano de funcionamento do projeto. Eles foram projetos muito duros em termos de implementação, processos muito exigentes. De uma forma mais marginal, mas igualmente desafiante, acompanhei a abertura da Casa da Criatividade que na altura tinha um Diretor Artístico e depois da sua saída tive de assumir essa responsabilidade. Entre todos eles, olharia para o Museu da Chapelaria como o primeiro desafio mais desafiante porque foi a minha primeira grande conquista. O Museu da Chapelaria não é o início da minha carreira, mas de tudo.

“Seria muito mais difícil ter uma política cultural sólida e consolidada sem instituições culturais”

Como descreveria a evolução da programação e atividade cultural?

Se olhar para trás sinto que a política cultural do Município foi crescendo paulatinamente ao longo dos anos na medida em que um projeto cultural mais amplo se foi estabelecendo com a criação das instituições culturais. Portanto, seria muito mais difícil ter uma política cultural sólida e consolidada se de facto não tivéssemos dois museus, duas salas de espetáculos, a Biblioteca Municipal, a Oliva e o Núcleo. Neste momento, temos as instituições culturais com um programa cultural consolidado, equipas coesas e uma administração política fortemente empenhada em criar as condições adequadas para que todo este processo se mantenha. O que vai permitir daqui para frente caminhos e abordagens ainda mais interessantes e desafiantes até porque a própria cidade enquanto comunidade está cada vez mais exigente para com as instituições culturais.

“Uma nomeação que prestigia S. João da Madeira”

E é um “reconhecimento da qualidade do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área da cultura”, considerou o autarca Jorge Sequeira

A nomeação de Suzana Menezes como Diretora Regional de Cultura do Centro é “uma nomeação que prestigia S. João da Madeira e que é um sinal de que o trabalho desenvolvido na área da cultura é um trabalho de qualidade”, afirmou o presidente da câmara Jorge Sequeira.

O Município tem “projetos consolidados, uma programação consolidada e equipamentos consolidados. Portanto, obviamente que tudo isso foi avaliado por quem a avaliou pelo seu desempenho e currículo e essa nomeação é o reconhecimento da qualidade do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na área da Cultura em S. João da Madeira”, considerou Jorge Sequeira.

A saída de Suzana Menezes deixa em aberto o cargo de Chefe de Divisão de Cultura do Município, não estando, para já, definido quem será o seu sucessor. “Neste momento, essa questão ainda não está definida”, afirmou o autarca.

Impressão Digital

Suzana Menezes

Tem 45 anos, nasceu em Luanda, viveu na África do Sul e depois veio com os pais para Portugal. Por um mero acaso vieram viver para S. João da Madeira.

O percurso escolar foi todo feito em escolas sanjoanenses, exceto o 12.º ano que terminou em Viseu. Tirou a licenciatura em Comunicação Social na Universidade da Beira Interior. Chegou a estar inscrita no mestrado da mesma área e na mesma universidade. Como não havia alunos suficientes inscritos, o mestrado não começaria em setembro, mas em dezembro. Suzana Menezes, durante este compasso de espera, estagiou no gabinete de imprensa da Câmara Municipal de S. João da Madeira. O sonho de ser jornalista de investigação foi substituído pela oportunidade de continuar projetos, que viriam a incluir a parte da investigação, no Município. Uma jornada que começou em 1995 e continua até ao fim de 2018. Suzana Menezes tirou mestrado em Museologia e concluiu o doutoramento em Estudos Culturais em maio deste ano. Desde 2009 é Chefe de Divisão da Cultura do Município. A seu cargo tem os Museus da Chapelaria e do Calçado, a Biblioteca Municipal, os Paços da Cultura e a Casa da Criatividade.

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