A minha coluna

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Parti o meu feissebuque

Não gosto muito de estrangeirismos. Sempre achei que a Língua Portuguesa tem todos os termos imagináveis para que nos possamos expressar de forma correta – os que fizeram pelo menos a 4ª classe do meu tempo… – e, se os não tiver, somos todos suficientemente criativos para os criar. É também por isso que gosto muito da expressão feissebuque inbêz (cá está uma criação popular curtíssima para dizer “em lugar de” ou “em alternativa”) daquele termo estrangeiro que literalmente poderia até significar “o livro das caras”. Em tempos idos também aderi à tendência dos feissebuques. Cheguei a ter um muito jeitoso onde recebia muitos vídeos engraçados de animais (com o devido respeito, claro), onde descobria imensos amigos muitos dos quais nunca cheguei a conhecer e onde cheguei a parabenizar os que conhecia em dias festivos. Imaginem que cheguei a ser amigo do Cristiano Ronaldo, do José Reis e do Paulo Esticamisso. Admirados? Não sabem quem é o Cristiano Ronaldo? Bom. Só posso dizer que eu era amigo de meio mundo e o outro meio era meu amigo também. É claro que mais de meio não sabia escrever e a maioria dos outros era falso. Os perfis e os autores. Eu até tinha amigos que no desemprego se transformaram em “jornaleiros feiqueneuze”. Era um espetáculo. Só que, com o peso dos comentários e das asneiras que ali passavam, um dia deixei cair o feissebuque e parti-o. Ficou praticamente irreconhecível. Recuperei apenas uma parte dos amigos que conhecia mesmo e continuo a receber os vídeos dos gatinhos. Apesar da minha resiliência nem consegui sequer salvar o grupo de palhaços de circo de que era seguidor. O pior é que esses continuam a deambular por aí, despassarados, tristes como a noite e ainda sem acreditar no que sucedeu. E isto tem pouco mais de um ano. Confesso que já não é como inhantes. Mas isso os palhaços do circo sabem-no bem melhor que eu. Ao jeito de muitos feissebuqueiros poderia até “amandar uma feissebucarra” e dizer eles “inhantes é que estábu-lo” bem. Agora…

Balha-me Deus…

Ao dispor?

Ainda no âmbito da Língua Portuguesa e da sua utilização reconheço que por vezes me sinto ultrapassado nos conhecimentos que adquiri na escola pública no tempo da outra senhora. Os métodos da altura não seriam os melhores. Um erro numa palavra dava origem à sua reescrita 100 vezes ou mesmo a umas palmatoadas. Hoje a professora iria presa e seria o tema dos noticiários e das investigações SIC, TVI e CMTV. Mas nessa altura aprendi que quando alguém no final de uma conversa, se despede da outrem dirá um “até logo”, “até amanhã”, “continuação de bom dia” ou coisa semelhante. Nunca nos ensinariam a dizer, nessa situação um “continuação”, um “boa continuação” ou, no mesmo calibre, um “então vá”. Continuação de quê? Vá aonde? Aqui é até caso para temer o pior… São simplismos linguísticos que se agravam em texto escritos. Como hoje não há cartas surgem nos e-mails. Expressões que, finalizando uma missiva terminam, por exemplo, com “qualquer questão ao dispor” (as questões estão ao dispor?) ou “qualquer questão estou ao dispor”. É claro que a nossa mente se adapta e consegue perceber o que o remetente quer dizer. Mas será mesmo assim que os professores de hoje ensinam a Língua Portuguesa? Apesar do Mário Nogueira estou em crer que não. Porque se essas expressões estivessem corretas lá teria de finalizar estes textos com um “boa continuação e qualquer questão ao dispor”. OK? Então vá! 

Balha-me Deus…

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