Caso da câmara de S. João da Madeira será único no país

“Aqui há gato!”. O aviso na porta do sexto piso do Fórum Municipal não deixa margem para dúvidas quanto a ali haver gato, ou melhor dois gatos. Desde há cerca de dois meses e meio que ali, “num T5 só para eles” como se referiu Paula Gaio ao amplo espaço ocupado pelos vários gabinetes dos vereadores, vivem, “felizes da vida”, o Sanjo e a Oliva, que inicialmente estiveram para se chamar João e São. Os nomes Sanjo e Oliva acabaram por ser escolhidos em homenagem “à história da nossa cidade”, em particular a “duas fábricas que tiveram uma importância muito significativa”.

A vereadora da Ação Social é a madrinha do Sanjo. Conta com a colega de vereação Irene Guimarães – que, por sua vez, é a tutora da Oliva – nesta nobre missão de cuidar dos gatos que foram adotados pelo Município de S. João da Madeira em outubro do ano passado. As duas têm ainda Norlinda Lima, ex-presidente da Assembleia de Freguesia, como um “braço direito”, que as ajuda quando não podem tratar dos “afilhados” com perto de oito meses.

“Na eventualidade de o executivo mudar e de não quererem continuar com os gatos no sexto piso”, Irene Guimarães e Paula Gaio continuarão a cuidar deles.

Município dá o exemplo e quer que outros o sigam

Com esta inédita adoção, a câmara quis dar o exemplo contra o abandono dos animais de companhia, que, por mais campanhas de sensibilização e alterações da lei, continua a ser uma realidade no nosso país. Irene Guimarães garantiu ao labor que esta iniciativa camarária “só trouxe vantagens”, quer para os colaboradores do Município, quer para “os animais que deixaram de estar enclausurados e agora são gatinhos felizes e queridos por todos”, conforme a nossa reportagem pôde constatar in loco.

Segundo a vereadora da Educação, esta “é uma prova mais do que provada que podemos conciliar o trabalho com o acolhimento destes animais”. Para Irene Guimarães, “o gasto [que se tem] é muito reduzido comparativamente com os ganhos, não só a nível da interação entre colegas de trabalho, mas também é uma mais-valia que representa o bom ambiente, a capacidade de entrega das pessoas aos animais”. Daí o apelo para “que outros sigam este exemplo”.

O sexto piso nunca mais foi o mesmo

GN

Escusado será dizer que o sexto piso do edifício camarário nunca mais foi o mesmo desde a chegada do Sanjo e da Oliva. Há funcionários que, logo pela manhã, fazem questão de “ver os gatos e fazer-lhes festinhas”. Outros há que chegam a vir buscá-los e levam-nos ao colo a outros departamentos.

“Em termos de relacionamento interpessoal, criaram-se relações que antes não havia. Há, inclusive, pessoas externas ao sexto piso que até à chegada deles nunca tinham vindo cá e passaram a vir”, afirmou Paula Gaio, acrescentando que o Sanjo e a Oliva vieram melhorar “a dinâmica relacional do Município”.

A possibilidade de outros pisos do Fórum Municipal virem a fazer o mesmo não está fora de questão. Apenas basta “que assegurem boas condições de vida [aos gatos]”, tal como acontece no sexto piso.

O Sanjo é “explorador, corajoso, atrevido, sem medos”. Já a Oliva é “cautelosa, tímida, muito difícil de conquistar, observadora”. Ambos são “muito meigos” e complementam-se. Não fossem dois irmãos, pertencentes a uma ninhada de sete gatos que nasceram em S. Roque (Oliveira de Azeméis).

Mas foi a uma clínica veterinária de S. João da Madeira que a autarquia, depois de Jorge Sequeira ter lançado o desafio às duas vereadoras e por intermédio da Ani São-João, foi buscá-los. “Estavam dentro de uma transportadora durante o dia e à noite dormiam numa jaula”, relataram Irene Guimarães e Paula Gaio.

A nível de autarquias, o Município de S. João da Madeira será o único do país a ter dois gatos adotados. No entanto, segundo notícia recente do Público, há empresas públicas e privadas portuguesas onde também vivem cães e gatos.  Há, aliás, estudos que dizem que a produtividade e o bem-estar podem aumentar com a presença dos “amigos de quatro patas”.

Ainda relativamente à edilidade sanjoanense, esta permite que os funcionários levem os seus animais de estimação para o local de trabalho desde que se verifiquem condições adequadas para o efeito. É o caso de uma técnica responsável pela área do Turismo que leva, por vezes, o seu cão Eddie para o gabinete.

Trata-se de “medidas simples” que, na ótica de Jorge Sequeira, “podem fazer toda a diferença, facilitando as condições para que as famílias possam ter animais domésticos e combatendo-se, assim, possíveis casos de abandono”.

“Somos uma cidade reconhecida pela qualidade de vida que proporciona aos seus munícipes e pela solidariedade para quem mais precisa. Queremos ser também uma cidade amiga dos animais”, defendeu o presidente da câmara.

Abertura do albergue está para “breve”

Arquivo Labor

Confirmando o que já havia sido adiantado em reunião de câmara e, depois, na última sessão da Assembleia Municipal (AM), fonte do Município de S. João da Madeira disse ao labor, esta última quarta-feira, que a mudança da Ani São-João para o novo Albergue de Animais Errantes acontecerá “a breve prazo”. Aliás, “neste momento, decorrem contactos” com a associação nesse sentido.

Ao que o nosso jornal conseguiu apurar, “a câmara municipal tomou a iniciativa de vedar o espaço [situado em Casaldelo] e criar uma zona de recreio para os animais – também vedada -, tendo construído mais oito “boxes” do que as inicialmente previstas (quatro), o que representa que a capacidade para acolher animais passou para mais do dobro”.

Por sua vez, Raquel Pinho, da Ani São-João, acrescentou, em declarações ao labor, que “faltam ultimar pormenores de escoamento e endurecimento do solo do terreno e reforço de segurança da rede do perímetro”.

S. João da Madeira vai ter Provedor Municipal dos Animais

A propósito do Provedor Municipal dos Animais, o Município sanjoanense aprovou, em setembro de 2018, a abertura do procedimento tendo em vista a elaboração do respetivo regulamento interno. Nesse âmbito, segundo informações recolhidas pelo labor, foi publicitada a possibilidade de constituição de interessados e recolha de contributos, tendo chegado à autarquia a pronúncia sobre esta matéria por parte da Ani São-João, que será apreciada em sede de elaboração do projeto de Regulamento Interno de Designação, Organização e Funcionamento do Provedor Municipal dos Animais de S. João da Madeira.

O documento será, posteriormente, levado a reunião de câmara para aprovação e envio para consulta pública. Posto isso, terá que ser aprovado pela AM, de forma a entrar em vigor. Nessa altura, e nos termos desse regulamento, será designada a pessoa que irá exercer as funções de Provedor Municipal dos Animais.

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