No período de um mês a autarquia teve duas baixas importantes.
Anunciada pela imprensa na semana transata, a renúncia do Vereador Pedro Silva causou admiração pela sua passagem fugaz pela atividade política. Eleito como quinto elemento na lista vencedora às eleições autárquicas, este Vereador passou como um meteoro pela política local. Sendo um profissional da Educação Física, esperava-se que o seu contributo para o desenvolvimento desportivo da Câmara Municipal de S. João da Madeira alavancasse a Carta Desportiva do Município e se traduzisse numa significativa melhoria dos níveis de atividade física e desportiva dos cidadãos, em especial, dos jovens. Infelizmente, a sua prematura saída não permitiu perceber qual o seu legado para a cidade.
Aliás, a política desportiva da autarquia continua a basear-se – e bem – no apoio às associações locais, acrescentando-se a necessidade de aumentar (e melhorar) as infraestruturas desportivas, continuando a faltar o vetor de fomento, quer desportivo, quer da atividade física da população.
A entrada em funções de Rosário Gestosa, para assumir o pelouro do Desporto, poderá ser uma lufada de ar fresco, pois à sua experiência como profissional no setor deve-se acrescentar o seu passado como atleta e mesmo o seu interesse como adepta, o que poderá ser impulsionador de algumas melhorias na política desportiva da autarquia.
Em contrapartida, a saída em dezembro da Chefe da Divisão Cultural da Câmara Municipal de S. João da Madeira, Suzana Menezes, para uma Direção Regional da Cultura, não é uma boa notícia para a cidade. É certo que o seu vínculo à autarquia coincidiu com um forte investimento municipal em reabilitação de edifícios históricos da cidade e sua reconversão em espaços culturais. Tudo isto permitiu a recuperação de património industrial, da constituição de núcleos museológicos em torno de produtos icónicos da indústria local, devendo-se listar igualmente a abertura de salas para acolher espetáculos. Suzana Menezes não se limitou a gerir as novas oportunidades, procurou impor programação, com conteúdos diversificados (destaque para a Poesia à Mesa). A longevidade na sua ligação com a câmara municipal permitiu-lhe trabalhar com quatro presidentes da autarquia. Ambos os fatores deram um estatuto inédito na autarquia à antiga Chefe de Divisão e a cidade reconheceu o seu trabalho.
Pelo exposto, pode-se perceber que estas duas saídas têm um valor diferente para o funcionamento da autarquia, o que acaba por ser curioso, porque num dos pratos da balança está a definição de políticas municipais e noutro a sua execução (ou um plano bem delineado sem qualquer ligação partidária). Parece claro que a execução tem neste caso um peso mais elevado no quotidiano do município.
É tempo agora de cimentar o trabalho desenvolvido pela câmara municipal na área da cultura, nas últimas duas décadas. Devendo-se aproveitar a oportunidade de mudança de agente para apostar: na revisitação do património humano da cidade, incluindo uma pesquisa à arqueologia de ofícios e primitivas formas industriais; no fomento do associativismo exclusivamente cultural; na fidelização de público, para estar presente nos vários palcos dos eventos a promover; na produção sistemática de eventos culturais, tendo como base a população local (tendência nacional, com consequência visibilidade na imprensa especializada); finalizando as hipóteses de melhorias, pela criação de sinergias de programação com os concelhos vizinhos, de forma a atingir uma massa crítica mais numerosa.