Com apenas 23 anos, Luís Matos já ganhou vários prémios e integra projetos musicais como o trio de oboés Trigemini e o Quinteto Promenade. Este sábado, pelas 17h00, o jovem oboísta sobe ao palco dos Paços da Cultura para, juntamente com a pianista Eugénia Lameiro, participar no Musicatos
Sendo natural de Ponta Delgada, o que o levou a vir para o continente, em particular para o Porto?
Nasci em Ponta Delgada, sim, mas nenhum dos meus pais é natural dos Açores. Por isso, inevitavelmente, acabámos por nos mudar para o continente. O Porto foi uma escolha que veio através da colocação do meu pai, que é polícia marítimo, na capitania do mesmo distrito.
Quando e como surge a sua ligação ao mundo da música?
O meu falecido avô paterno tocou clarinete e violino na sua juventude, tendo construído, inclusive, o seu próprio arco e as suas palhetas. Na minha família existe, penso eu, uma certa transmissão do gosto pela música de avós para netos, visto que o avô do meu avô também tocava um instrumento. Esta “tradição”, se é que lhe podemos chamar isso, acabou por levar os meus pais a inscreverem-me, com nove anos, penso eu, na Escola de Música da Sociedade Filarmónica de Crestuma, freguesia onde habitamos. Foi aí que comecei a dar os primeiros passos na minha formação musical.
Porquê o oboé e não outro instrumento?
Tendo aulas numa escola de música ligada a uma banda, surgiu a oportunidade de experimentar todos os instrumentos que compunham a mesma. Penso ter experimentado quase todos os instrumentos, mas aquele com que me identifiquei desde a primeira tentativa de emitir um som foi mesmo o oboé. Não consigo explicar o porquê, mas houve algo no som do instrumento que me cativou desde o início.
Como é o seu dia a dia neste momento? Dedica-se exclusivamente à música?
Finalizei em dezembro o meu mestrado em Ensino de Música, na Universidade de Aveiro (UA), e estou atualmente a lecionar na Academia de Artes de Chaves. Se me dedico exclusivamente à música? Exclusivamente não digo. Mas, sim, a música ocupa grande parte do meu tempo, quer com as aulas, quer com os meus projetos musicais, ou com o trabalho de orquestra que vou realizando.
“Sempre fui um pouco influenciado para ser o melhor”
Em que pretende vir a tornar-se? Numa grande referência?
Sempre fui um pouco influenciado para ser o melhor. Penso que muitos pais acabam por fazer o mesmo com os filhos. Isso fez-me passar por algumas frustrações no passado, mas hoje compreendo que não precisamos de ser os melhores, mas antes sermos cada vez melhores naquilo que fazemos. Obviamente que gostaria de me tornar uma referência do oboé, contudo, para já, foco-me em iniciar alguns projetos que me permitirão distinguir o meu trabalho daquele que tem vindo a ser realizado a nível do oboé.
É membro fundador do trio de oboés Trigemini e do Quinteto Promenade com os quais se tem apresentado em concerto e concurso. Pode falar-nos um pouco sobre estes dois projetos?
O trio Trigemini é um trio de oboés formado no âmbito da unidade curricular de música de câmara na UA. Inicialmente éramos três amigos, da mesma classe que queriam simplesmente explorar um pouco o repertório para a formação e ajudarem-se mutuamente para alcançarem os melhores resultados juntos. Com todas as experiências que partilhámos juntos, acabámos por criar uma amizade sincera que ainda hoje partilhamos, apesar da distância causada pelos nossos percursos individuais.
O Quinteto Promenade é um projeto que está em atividade regular. Começámos a tocar juntos há cerca de dois anos e nesse espaço de tempo já pudemos realizar alguns concertos espalhados por várias salas, participar em dois concursos e realizar alguns cursos de aperfeiçoamento em Paris com músicos e professores extraordinários de reconhecida carreira. Tivemos ainda a excelente oportunidade de participar, com um concerto, no “Verão na Casa” de 2017, uma atividade realizada pela Casa da Música.
Luís Matos venceu o Concurso de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette” do ano passado
Temos conhecimento de que já ganhou alguns prémios. Quais foram os mais importantes e porquê?
Todos foram importantes e penso que, apesar de querermos sempre ganhar, o mais importante é realmente o processo de preparação que nos faz evoluir. Obviamente que gostamos quando, no momento da verdade, as coisas correm como pretendíamos e respondendo à pergunta, há dois prémios que me são especiais. O 1.º Prémio na categoria Sénior do Concurso de Instrumentos de Sopro “Terras de La Salette” (2018) e o 3.º prémio no festival “Verão Clássico” (2017). Apesar das rivalidades e do espírito competitivo, em ambos os concursos construí algumas amizades.
A experiência do festival “Verão Clássico” foi um pouco diferente dos outros concursos pois insere-se num ciclo de masterclasses onde aprendi muito, tendo aulas com um ídolo meu, o oboísta Ramon Ortega Quero.
Já conhecia S. João da Madeira? É a primeira vez que atua na cidade?
Já conhecia a cidade sim, mas penso que é a primeira vez que venho atuar, especialmente sob a forma de recital.
Como surge a sua participação no Musicatos?
O convite foi um pouco inesperado, especialmente, porque não tenho um grande contacto com região de S. João da Madeira e não conhecia o Musicatos. Apesar disso, vi uma excelente oportunidade para me apresentar a um público novo com um repertório diferente do que estamos habituados.
Recital proporcionará uma “viagem” pela Europa
O que podemos esperar do recital do próximo sábado?
Posso dizer que o recital será dividido em duas partes em que vamos “viajar” por entre alguns países europeus. A primeira parte será dedicada à música para oboé e piano do século XX e a segunda trará novas sonoridades com obras para oboé solo do século XXI. Posso ainda adiantar que farei a estreia nacional de uma obra de um compositor e amigo alemão e interpretarei aquela que será apenas a segunda apresentação de uma obra portuguesa.
Porquê a Eugénia Lameiro e não outro/a pianista?
Durante o meu percurso já trabalhei com vários pianistas e houve, claro, alguns com os quais me identifiquei mais, quer a nível musical, quer a nível pessoal. A Eugénia foi um desses casos, especialmente, porque me acompanhou no início do meu percurso universitário e após estes anos acabámos por criar uma certa amizade. A frontalidade dela e a excelente musicalidade tornam o ambiente de trabalho mais produtivo, apesar de relaxado.
Luís Matos
Natural de Ponta Delgada (Açores), Luís Matos, de 23 anos, vive há 18 no Porto. Deu os primeiros passos no mundo da música em 2004 na Escola de Música da Sociedade Filarmónica de Crestuma, sendo hoje mestre em Ensino de Música, pela Universidade de Aveiro (UA).
O início dos seus estudos em oboé remonta a 2007, quando ingressou na Fundação Conservatório Regional de Gaia (FCRG), tendo-os depois, em 2013, prosseguido na UA.
Já colaborou com a Banda Sinfónica da Feira, Orquestra Sinfónica da FCRG, Orquestra Filarmonia de Gaia, Orquestra Filarmonia das Beiras, Orquestra de Jovens de Santa Maria da Feira, Orquestra Sine Nomine, Art’ Ensemble e Orquestra Com.Cordas. E colabora regularmente com a Orquestra de Sopros da Academia de Artes de Chaves, com a qual já participou em concursos nacionais e internacionais e ganhou prémios.
É membro fundador do trio de oboés Trigemini e do Quinteto Promenade com os quais se tem apresentado em concerto e concurso. Além disso, foi laureado com o 2.º prémio na categoria Sénior do “Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro Terras de La-Salette” (2016), 3.º prémio ex aequo no festival “Verão Clássico” (2017), 1.º prémio na categoria Sénior do “Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro Terras de La-Salette” (2018) e foi finalista no concurso “CulturXis” – Música de Câmara, categoria Sénior (2017).
Apresentou-se a solo com a Orquestra Filarmonia das Beiras em abril de 2017 e, na qualidade de orientador do naipe de oboés, integrou o XIII Curso Internacional de Arte Orquestral e o III Estágio de Sopros e Percussão do Vale Varosa.
Já deu aulas de oboé na FCRG, Curso de Música Silva Monteiro e Escola de Música Joaquim Guimarães – Banda União Musical Paramense. Atualmente leciona na Academia de Artes de Chaves, Escola de Música do Grupo Coral de Esmoriz e Tuna Musical Mozelense.
Programa
1.ª Parte:
Música para oboé e piano do século XX
– (Inglaterra) Benjamin Britten – Temporal Variations
– (França) Henri Dutilleux – Oboe Sonata
Intervalo
2.ª Parte:
Música para oboé solo do século XXI
– (Portugal) Camila Salomé – Lupi for oboe solo
– (Alemanha) Dirk-Michael Kirsch – Danse, Sigillum Saturni