Sem-abrigo recusou “soluções de alojamento e de acompanhamento médico”
A PSP de S. João da Madeira recebeu no dia 31 de janeiro, por volta das 17h30, o alerta de que um homem estaria morto no parque de estacionamento da Oliva.
As autoridades deslocaram-se de imediato para o local onde encontraram o homem e confirmaram o seu óbito.
Ele era “uma pessoa sem-abrigo que estava sinalizada, referenciada e acompanhada” por uma das instituições da Rede Social de S. João da Madeira e tudo indica que ali seria onde “ele pernoitava”, confirmou Hélder Andrade, comissário da PSP, ao labor.
Apesar de não existir qualquer indício de homicídio, o corpo foi levado para ser autopsiado no Hospital de S. Sebastião em Santa Maria da Feira.
O homem encontrado sem vida era conhecido por muitas pessoas porque costumava estar a arrumar carros em frente ao Novo Banco na Praça Luís Ribeiro.
A Câmara Municipal de S. João da Madeira demonstrou o seu “lamento e pesar” pelo sucedido. “Não obstante a sua recusa em receber acompanhamento social, assim como em aceitar as várias propostas de alojamento que lhe foram feitas, tanto a câmara municipal como o Trilho da Santa Casa da Misericórdia monitorizavam e acompanhavam informalmente este cidadão sem-abrigo, que se encontrava a pernoitar na rua em S. João da Madeira há cerca de três anos e que estava sinalizado no âmbito do plano de intervenção para essa população”, informou o Município ao labor.
Apesar de os técnicos de ambas as instituições terem efetuado “junto dele contactos sucessivos, propondo soluções de alojamento e também de acompanhamento médico, dada a sua saúde muito débil”, “estas propostas tiveram, no entanto, a sua oposição reiterada”, revelou o Município, acrescentando que “a própria família lhe oferecia apoio, incluído alojamento, mas igualmente sem sucesso”.
Plano para Sem-Abrigo está a dar “passos consistentes e muito importantes na conquista de novos recursos para qualificar a intervenção social junto desta população”
Uma das primeiras medidas do primeiro ano de mandato do presidente da câmara Jorge Sequeira foi a implementação de um Plano de Inclusão para Pessoas Sem-Abrigo que conta com o acompanhamento e envolvimento do próprio e de Paula Gaio, vereadora da Ação Social. Até ao momento, foram “dados passos consistentes e muito importantes na conquista de novos recursos para qualificar a intervenção social junto desta população”, adiantou o Município ao labor.
Um dos passos que está a ser dado é a “disponibilização de um apartamento de autonomização, para gestão e monitorização por parte da equipa do Trilho da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira que deverá arrancar já em março”. Além desse, outros passos têm sido dados como “o pagamento das refeições da Cantina Social que vão para além do total estabelecido e comparticipado pelo Estado e ainda a vacinação contra a gripe para a população sem abrigo, em cooperação com esta equipa técnica e o Centro de Saúde local”, indicou a câmara municipal.
A campanha de vacinação e de rastreio para pessoas sem-abrigo levada a cabo pelo Município em conjunto com o Centro de Saúde, contou com “12 comparências e foram efetivamente vacinadas sete pessoas” até ao dia 31 de janeiro, apurou o labor. Os rastreios ainda continuam a decorrer, adiantou o Município.
No âmbito do plano do Município, aguarda-se ainda a aprovação de uma candidatura à linha de financiamento “Parcerias para o Impacto”, no âmbito da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, em que o Município se constituiu como investidor social e a entidade promotora é a Santa Casa da Misericórdia.
Plano de Contingência sem adesão
O Município também criou um plano de contingência para pessoas sem-abrigo devido às temperaturas extremamente adversas, de 9 a 18 de janeiro, no quartel sede da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira.
Uma medida levada a cabo em articulação com o serviço de Proteção Civil Municipal para monitorização das condições climatéricas e validação do espaço alojamento das situações de emergência, bem como da divulgação por inúmeras entidades concelhias, nomeadamente pela PSP, Trilho e Centro Comunitário da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira, Centro Comunitário da Associação de Jovens Ecos Urbanos, Serviço de Ação Social da Segurança Social local e Conferência de S. Vicente de Paulo e S. José.
O espaço que já estava equipado com colchões e roupas de cama também serviria uma refeição quente a quem lá comparecesse. Apesar de ter sido efetuado um contacto direto durante a tarde e a noite com pessoas sem-abrigo “para divulgação desta resposta de emergência”, “nenhuma pessoa em condição de sem-abrigo” tinha recorrido ao espaço até ao fim da tarde do dia 15 de janeiro, revelou o Município, na altura, ao labor.
O Municípioprocedeu “à verificação da existência de cobertores e agasalhos adequados, bem como de alimentos suficientes” nos casos em que decidiram não aceitar este apoio.
Além disso, levou a cabo uma “monitorização permanente, ao longo dos dias de contingência, das pessoas em alojamento e do aparecimento de novas situações”, assegurou, na altura, ao labor.
O labor tentou perceber junto do Município o que é que poderá ter falhado para não existir adesão ao plano de contingência, mas não recebeu informação até ao fecho da edição.