Em inauguração de mais uma exposição da sua autoria em S. João da Madeira
Depois de ter exposto “talvez umas três ou quatro vezes” em S. João da Madeira (SJM), Adão Cruz voltou esta última sexta-feira à cidade onde tem família e consultório médico aberto para inaugurar mais uma exposição.
Integrando o programa da Campanha Poesia à Mesa que está a decorrer em SJM desde o passado dia 1 de março, “…como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro” é uma mostra de pintura e poesia repleta de sentimento(s) que pode ser apreciada na Biblioteca Municipal (BM) Dr. Renato Araújo até 20 de abril. A entrada é gratuita.
Além da presença de familiares e amigos, entre os quais alguns poetas locais, do artista que se diz “autodidata”, o ato inaugural contou com uma intervenção emotiva do próprio Adão Cruz, que não deixou ninguém indiferente.
O cardiologista natural de Vale de Cambra assumiu estar ali “com alguma desilusão, resultado de uma vida inteira”, já com mais de oito décadas. E, logo de seguida, reconheceu não saber “se esta exposição ainda é algum ato de sobrevivência ou se é mais uma máscara”. Sim, porque, em seu entender, “vivemos hoje quase exclusivamente de máscaras para esconder a realidade e mascaramo-nos para ver a realidade”.
“Criamos entretenimento em grande escala que, muitas vezes, serve para estupidificar as sociedades”
Adão Cruz falou de “máscaras” criadas pelas “sociedades ditas civilizadas”, “que escondem máscaras de carne viva como a Palestina, o Iémen, os milhares de refugiados afogados no Mediterrâneo, os milhões de crianças que morrem, em pele e osso, de fome”, etc.. Mas a verdade é que, na sua ótica, também as “temos dentro do próprio país”.
“Como é que uma elite político, económica e financeira consegue roubar e saquear uma população inteira não tendo o mais pequeno escrúpulo e a mais pequena ponta de ética?”, questionou o pintor e escritor, para quem “criamos entretenimento em grande escala que, muitas vezes, serve para estupidificar as sociedades”.
A propósito do Dia Internacional da Mulher (celebrado, precisamente, naquela sexta-feira), Dia do Pai, Dia Mundial da Poesia, Dia Mundial da Criança, entre outras datas temáticas, perguntou “se isto são atos de resistência ou máscaras?”, admitindo que começa “a esmorecer” e a acreditar “muito pouco em poucas coisas”.
Aliás, Adão Cruz só aceitou participar na Poesia à Mesa “pela honra que me dá o convite e pelas relações de amizade que temos [ele e a sua irmã Eva Cruz] com a Biblioteca Municipal”. E daí as suas palavras de agradecimento, logo no início do discurso, dirigidas ao presidente da câmara, Jorge Sequeira; BM, na pessoa de Graça Neves; entre outros.
“Artes são catalisadoras fantásticas, insubstituíveis, no progresso de uma sociedade justa”
Tal como já havia adiantado em primeira mão ao labor, na edição anterior, com“…como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro” o médico valecambrense não pretende passar “mensagem” alguma. Até porque, como esclareceu, “não sou mensageiro de nada”. Apenas “pinto e escrevo para mim e aquilo que vai no meu mundo”.
No entanto, é de opinião – e partilhou-a com os que o ouviam naquele final de tarde – que as “artes são catalisadoras fantásticas, insubstituíveis, no progresso de uma sociedade justa”.
Adão Cruz aproveitou, assim, a ocasião para deixar no ar “alguns pontos de reflexão”. Até porque, na sua ótica, “paramos muito pouco para pensar”.
Jorge Sequeira lança desafio a artista
Jorge Sequeira fez questão de estar presente na inauguração de “…como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro” e de felicitar pessoalmente “um grande vulto da medicina, da pintura e das letras e um grande sanjoanense que, com a sua generosidade habitual, ofereceu à cidade esta exposição absolutamente magnífica”.
Segundo o presidente da câmara, estamos perante “uma conjugação fantástica e maravilhosa [de pintura com poesia]” inserida no festival de poesia” da cidade. Também em seu entender, o facto de a maioria dos quadros ser ocupada “por figuras femininas é uma coincidência feliz”, uma vez que aquele era o Dia Internacional da Mulher.
Ainda antes de terminar, o autarca “espicaçou” Adão Cruz convidando-o a regressar para o ano a SJM com uma nova exposição.
Na altura, o médico ainda foi desafiado a declamar poemas da sua autoria. Sem dúvida, mais um momento forte em emoções da sessão de inauguração.