A exposição “Não sejas cúmplice. Dá um passo contra o Femicídio”, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), pode ser visitada desde o dia 8 de março no Museu do Calçado.

Os 28 pares de sapatos vermelhos prestam homenagem ao número de mulheres assassinadas em 2018.

O vermelho adota um significado duplo. Por um lado, o do amor na e da história de cada uma delas. Por outro, a violência do crime que derramou o seu sangue e ceifou a sua vida.

A exposição “Não sejas cúmplice. Dá um passo contra o Femicídio” da UMAR convida cada um dos seus visitantes, metaforicamente, a calçar os sapatos das vítimas e a imaginar e a sentir o que é ser a “Sandra, ter 41 anos e ter sido assinada pelo marido com recurso a uma arma branca no dia 7 de dezembro de 2018”. Esta é apenas uma das 28 histórias das mulheres que deixaram de ter direito a viver só porque o marido, ex-marido, companheiro, ex-companheiro, namorado, ex-namorado e outros familiares entenderam que tinham o direito de interromper a vida de um outro ser humano.

Esta exposição também é uma crítica ao “silêncio” e à “indiferença” de “uma sociedade machista e patriarcal que coloca a responsabilidade nas vítimas e não nos agressores”, à “falta de proteção adequada para muitas destas mulheres (mesmo quando já apresentaram denúncia/s)” e à “mensagem de tolerância e impunidade tantas vezes enviada pelo nosso sistema judicial” que “muito contribui para este crime”, salienta a UMAR no folheto informativo sobre “Não sejas cúmplice. Dá um passo contra o Femicídio”.

Por todas as mulheres assassinadas e por todos aqueles que ficaram sem elas, os filhos, a família, os amigos, “não podemos calar. Vamos lembrar, vamos falar, vamos dizer publicamente que nos indignamos, que não aceitamos e que censuramos a violência contra as mulheres”, assegura a UMAR, apelando “a todos e a todas que deem connosco mais um passo contra o Femicídio, exercendo a sua cidadania, enviando uma mensagem clara de censura aos agressores, manifestando indignação por todos os atos que sejam atentatórios dos direitos humanos e trazendo à memória coletiva as vítimas e o seu sofrimento”.

A UMAR pretende ainda “enviar a mensagem inequívoca de que os agressores/assassinos têm de ser condenados e de que a sensação de impunidade de que gozam os crimes de violência doméstica e de Femicídio em Portugal tem de terminar”.

A exposição “Não sejas cúmplice. Dá um passo contra o Femicídio” da UMAR está patente até ao dia 30 de abril no Museu do Calçado.

“Somos cúmplices quando não queremos ver, ouvir ou falar”

O presidente da câmara, Jorge Sequeira, nomeou Paula Gaio, vereadora da Ação Social, como Conselheira para a Igualdade do Município pouco depois do executivo tomar posse em novembro de 2017. Nesse sentido, o Município de S. João da Madeira assinou um protocolo com a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) que visa promover isso mesmo, a igualdade de género, em janeiro de 2018. Sensivelmente um ano depois, em fevereiro de 2019, S. João da Madeira aderiu à Rede de Municípios Solidários com Vítimas de Violência Doméstica num protocolo celebrado entre a CIG e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses. Desde então, o Município sanjoanense passará a trabalhar em colaboração ativa com 153 autarquias portuguesas, na prevenção e combate da violência doméstica.Estes dois momentos foram mencionados por Paula Gaio, vereadora da Ação Social, durante a inauguração da exposição da UMAR, no dia 8 de março, pelas 15h00, no Museu do Calçado, como exemplo de que o Município sanjoanense está a fazer o caminho que deve de ser feito para a promoção da igualdade de género e para combater a violência doméstica.

Por sua vez, Joana Galhano, diretora do Museu do Calçado e do Museu da Chapelaria, deu a conhecer que esta exposição corresponde ao primeiro momento do projeto “Sapatos que Pensam” que é um “projeto-processo que se vai construindo a si mesmo e onde o sapato toma o lugar de destaque”, “apelando à inquietação, à emoção e à reflexão sugeridas pelos sapatos que usamos no nosso tempo e nosso mundo”.

As centenas de mulheres que formaram a UMAR em 1976 vieram das movimentações do 25 de abril em lutas por direito a uma casa, a creche, a emprego com salário igual, acesso à educação e qualidade de vida. Entre as lutas da UMAR destaque para aquela em que adota o lema “O pessoal é político” para a luta pelo direito à contraceção e ao aborto. No ano de 1977, a UMAR tinha tomado a posição pública sobre o direito ao aborto e participou na recolha de cinco mil assinaturas entregues no dia 8 de março na Assembleia da República. O aborto foi legalizado por referendo 30 anos depois, em 2007.

Uma das maiores lutas da atualidade é o combate à crescente onda de violência, na maior parte dos casos, de homens sobre mulheres. Uma violência física e psicológica que tem terminado com muitos casos em que os agressores assassinam as vítimas.

O número de mulheres mortas, vítimas de violência doméstica, aumentou de 20 em 2017 para 24 em 2018. Só de janeiro a março deste ano, 12 vítimas do sexo feminino foram assassinadas por agressores do sexo masculino, um número que corresponde a metade do número de vítimas do ano passado.

A violência doméstica foi identificada pela UMAR desde o seu início, ou seja, há 43 anos em Portugal. “Somos cúmplices quando não queremos ver, ouvir ou falar” desta problemática, destacou Ilda Afonso, diretora técnica do centro “Para Ti” da UMAR, apelando a todos os presentes para denunciar ao invés de ignorar.

A luta pela igualdade de género na vida pessoal, familiar e profissional, o combate à violência doméstica, entre outras causas, da UMAR continua dia após dia. É certo que “as coisas vão evoluindo lentamente e ainda não conseguimos dizer que existe igualdade” a todos os níveis, mas “só conseguimos evolução se trabalharmos de forma sistemática e contínua”, considerou Ilda Afonso, acreditando que esta é uma missão que mais tarde ou mais cedo vai ser cumprida pela UMAR e por todos os elementos civilizados da sociedade. É uma questão de tempo, de luta constante e contínua, o que tem sido feito desde a criação da UMAR e, cada vez mais, por outras “Umares”.

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