Na oitava temporada desta que é a série mais vista e premiada de todos os tempos, Vasco Temudo faz parte do exército dos “Unsullied” 

 Desde 2009,ano em que foi estudar para o Porto, que Vasco Temudo não vive em S. João da Madeira (SJM). A sua atual ligação à terra natal é “estritamente familiar”, “além de ter alguns amigos que ainda vivem na cidade”, como disse em exclusivo ao labor.

Este ator sanjoanense de 26 anos, formado pelo Balleteatro – Escola Profissional (Interpretação), vive há um ano em Lisboa. E, tirando no Natal e na Páscoa, não vem “muitas vezes a S. João da Madeira”. Neste momento, está focado no trabalho, contando já no curriculum vitae (CV) com, por exemplo, participações em duas telenovelas, da TVI e da SIC; em três dos quatro videoclips lançados pelo ator, cantor e modelo Ângelo Rodrigues, sendo que num deles é o único intérprete; em vários espetáculos musicais; e agora na oitava e última temporada d’ A Guerra dos Tronos que estreou em Portugal no passado dia 15 de abril.

“Foi das coisas mais imprevisíveis da minha vida”

E por falarna sua participação nesta que é a série televisiva mais vista e premiada de todos os tempos, baseada na saga literária de George R.R. Martin, “bem… foi das coisas mais imprevisíveis da minha vida”, contou Vasco Temudo ao nosso jornal.

O jovem de SJM já tinha enviado CV para a produção “há já alguns anos”, na altura em que estavam a gravar em Espanha, tendo ficado sem resposta até ao ano passado, quando o seu telemóvel tocou.

Era um domingo de manhã e Vasco Temudo “estava a trabalhar numa loja de roupa portuguesa de uma amiga de um amigo meu quando me ligam da produção do ‘Game of Thrones’ a dizerem que me tinham enviado para o email um mapa de disponibilidades”.

“Pensei que era uma brincadeira, mas quando olhei para o visor do telemóvel vi que o número que me ligava não era português”, afirmou, não escondendo que ficou “perplexo” com tudo aquilo que estava a acontecer. Ainda mais porque estava em Lisboa e queriam que estivesse às 5h00 da madrugada do dia seguinte nos Titanic Studios, que são dos maiores estúdios de gravação do mundo e que ficam em Belfast, na Irlanda do Norte.

Perante aquela “janela de oportunidade”, que se estava a abrir, Vasco Temudo só tinha mesmo de fazer quase o impossível para que à hora combinada estivesse nos Titanic Studios. E assim foi: “Procurei voos, liguei à minha mãe a pedir ajuda, que me lembrou que de Faro as possibilidades de ter um voo eram maiores”. Imagine-se que teve só uma hora para ir a casa, fazer a mala e apanhar um autocarro que o levou de Lisboa até Faro. Ao longo da viagem até à capital algarvia concluiu a reserva do voo e do hostel onde ficou em Belfast.

Entretanto, “durante o voo, conheci dois casais de Irlandeses” que, além de lhe oferecerem 20 libras, “pois à hora que cheguei não havia nenhum balcão de câmbio aberto”, levaram-no ao hostel no seu próprio carro e ainda lhe deram snacks no caso de ter fome. “Eram quase duas da manhã. Passadas duas horas, estava eu a levantar-me e a chamar um Uber para me levar aos estúdios, onde dei entrada às cinco da manhã”.

Já nos estúdios viveu aquele que terá sido o maior e o melhor “filme” da sua vida até à data. Sentiu-se, como o próprio sublinhou, “uma criança na Disneyland”. Foi sujeito a regras de confidencialidade “apertadas”; foi-lhe posto à disposição um pequeno-almoço “incrivelmente variado, como nunca antes tinha visto”, pagaram-lhe para rapar o cabelo, etc., etc..

“Vestindo a pele” de figurante, Vasco Temudo fez parte do exército dos “Unsullied”.  “Gravámos cenas de guerra. Foi realmente intenso. Emocionei-me e senti lágrimas a lavarem-me o rosto à medida que a gravidade as forçava a cair”, relatou, acrescentando:  “Há uma frase que nunca esquecerei e que se fazia compor por palavras simples que faziam o meu ritmo cardíaco aumentar – ‘Stand by…Rolling… Shooting… and… Action’”.

“Foram dois dias repletos de cansaço, dedicação, força, perseverança e emoção. Foi fascinante”, revelou o ator, que considera esta sua “aventura” como “um investimento pessoal e profissional”. Em seu entender, “estar presente na maior produção de televisão da atualidade é algo único e que não se faz com regularidade. É uma história que poucas pessoas têm a oportunidade de contar e uma experiência que poucos têm a oportunidade de viver”.

Desta “experiência única” poderão resultar, segundo Vasco Temudo, “frutos a nível profissional”. Ter participado em ‘A Guerra dos Tronos’ “mostra que há um ator português com umas determinadas características e com um determinado currículo”. Além disso, “mostra que existo, que quero trabalhar e que estou aqui para isso. Está a dar-me alguma visibilidade o que neste meio é tudo”.

Aliás, a propósito de projetos, o sanjoanense já tem “umas ideias que quero pôr em prática, mas ainda nada está decidido”.

“Vivemos num país precário” onde “as artes ainda são uma área muito difícil”

“Que conselhos dá aos jovens que querem seguir teatro?”. Para Vasco Temudo, esta é “uma pergunta difícil”. Mas mesmo assim lá acabou por responder ao labor: “Se for o que realmente querem fazer e se não se veem a fazer outra coisa, vão e façam por serem felizes”. “Mas – chamou à atenção – preparem-se porque vivemos num país precário” onde “as artes ainda são uma área muito difícil”.

“Preparem-se para os elevados custos que os recibos verdes terão porque é sempre a recibos verdes. Não terão direito a subsídio de desemprego, não terão subsídios de nada. Fazer créditos para um carro ou uma casa, mais tarde, será impossível. O custo de vida das grandes cidades (onde haverá mais oportunidades e variadas) aumentam e os salários não. Terão de lutar muito, muito e aceitar outros trabalhos fora da área ou trabalhos na área, mas com os quais não se identificam tanto, para poderem viver”, continuou, rematando: Estão a asfixiar a chama que nos faz viver”.

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