E também “ajustado à realidade social”, defendeu o comandante Normando Oliveira em dia de festa para os bombeiros sanjoanenses
Em dia de aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira (AHBVSJM) e também Dia Internacional do Bombeiro (4 de maio), Normando Oliveira mostrou desencanto com o estado do voluntariado no país. Na sessão solene integrada nas comemorações dos 91 anos da AHBVSJM, o comandante do corpo ativo dos “soldados da paz” defendeu, em tom emotivo, que “o voluntariado tem de ser mimado e acarinhado”, bem como “ajustado à realidade social”.
“É imperioso, urgente, que tenhamos um reforço de profissionalização durante o dia”
Segundo o responsável, “é impossível” “manter um corpo de bombeiros 365 dias por ano, a todas as horas”, apenas “à custa do voluntariado”. E tanto é assim que, mesmo “se fazendo das tripas coração” de forma a assegurar a operacionalidade de uma corporação, “alguém vai ter de ficar mal um dia”.
“A nossa boa vontade não é a resolução do problema”, chamou à atenção Normando Oliveira, que pediu este último sábado “os serviços mínimos profissionais” para a população residente e não residente de S. João da Madeira (SJM).
Imagine-se que só “durante o dia a cidade movimenta mais de 50 mil pessoas”. O comandante não quer “50 nem 500 profissionais, mas sim o número mínimo” num corpo ativo que, na sua ótica, tem de ter “uma dimensão para além da que é necessária para S. João da Madeira”.
“É imperioso, urgente, que tenhamos um reforço de profissionalização durante o dia”, avisou, dirigindo o olhar para Jorge Sequeira. “Deixo este desafio ao senhor presidente da câmara”, afirmou o líder dos voluntários, para quem neste século XXI “a visão sobre os bombeiros tem de ser completamente diferente” da que se tem assistido até à data.
Município vai atribuir “subsídio extraordinário” de 50 mil euros à AHBVSJM
“É nosso dever apoiar esta forma de voluntariado”, deixou claro Jorge Sequeira, dando nota do que o “seu” executivo municipal já fez nesse sentido desde que tomou posse. O autarca – “filho de um bombeiro” e que até evocou, na ocasião, os 34 sanjoanenses que fundaram a AHBVSJM a 30 de abril de 1928 – recordou o reforço de 30 mil euros, para além do subsídio anual, destinado à Equipa de Intervenção Permanente (EIP) e, ainda, o RegulamentoMunicipal de Atribuição de Benefícios Sociais aos Bombeiros Voluntários do Concelho de S. João da Madeira, esclarecendo que este último “não é o [tão ansiado] cartão social do bombeiro, mas dá igualmente benefícios ao nível do IMI [Imposto Municipal sobre Imóveis], fatura da água”, etc., e “está a ser seguido [como exemplo] por outras câmaras”.
Além disso, o “número um” do Município anunciou que “vamos começar a preparar o reforço das EIP” e que “na próxima reunião de câmara” vão propor “a atribuição de um subsídio extraordinário no valor de 50 mil euros” com vista a “repor duas viaturas que terão de ser abatidas”.
Bombeiros precisam de uma nova autoescada
Carlos Coelho não tem dúvidas que a AHBVSJM “não consegue gerar receitas que suportem os tais necessários investimentos ao corpo de bombeiros (necessidades de equipamento de proteção individual, renovação de viaturas e demais equipamentos diversos de socorro)”. E, assim sendo, fez ver que os investimentos terão de “continuar a ser suportados por apoios extraordinários”, quer da edilidade, quer de beneméritos ou de empresas locais.
“Cada euro transferido para os bombeiros é sempre bem empregue”, disse o presidente da direção, lembrando, por exemplo, que a autoescada conta já com 23 anos e dezenas de milhares de horas de serviço, respondendo “cada vez menos às necessidades de socorro e proteção civil municipal”. A substituição deste equipamento, no entender do dirigente, poderá ser possível através de “fundos comunitários”, “estatais” ou até mesmo “verbas locais”.
“Esta tutela não gosta dos bombeiros voluntários do país”
A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) fez-se representar por Marco Braga, que em SJM não poupou críticas ao Governo. De acordo com o vice-presidente da LBP, “esta tutela não gosta dos bombeiros voluntários do país”. Aliás, na sua opinião, “o que os salva [a estes homens e mulheres voluntários] são as câmaras municipais”, que neste momento estão a desempenhar “o papel” que compete à tutela.
Nesta sua intervenção, Marco Braga ainda garantiu que “mesmo retalhando o distrito [de Aveiro] em quatro, os BVA vão ser sempre os BVA”, referindo-se a “esta coisa da regionalização” que o Governo quer implementar e contra a qual Artur Ferreira, da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro (FBDA), já se tinha insurgido aquando do seu discurso.
Por falar na FBDA, o representante da LBP vincou que as “medidas [governamentais] tomadas não chegaram” e, como tal, “a Liga e a Federação vão continuar a lutar pela revisão da lei de financiamento”. “Não queremos que os bombeiros voluntários andem sempre a mendigar para conseguir meios para as associações”, sublinhou, dando a saber ainda que “o que custa um corpo de bombeiros municipal dá para manter quase 50% dos bombeiros voluntários deste país”.
Quem também marcou presença nesta festa da AHBVSJM foi Paula Ramos. A 2.ª comandante operacional distrital de Operações de Socorro de Aveiroagradeceu, na altura, “a lealdade, postura e maneira de estar” de Normando Oliveira e do seu corpo ativo, assim como a “disponibilidade” para com o CODIS que comanda.
A corporação sanjoanense, à semelhança de outras congéneres, destacou-se pelas suas “disponibilidade e prestação” nos três incêndios que assolaram o distrito e onde estiveram envolvidos mais de 1030 bombeiros.
Seis “soldados da paz” passam ao Quadro de Honra e subchefe recebe crachá de ouro
Depois da imposição de condecorações e promoções em parada (ver caixa), o reconhecimento público aos bombeiros voluntários e dirigentes desta associação humanitária prosseguiu na cerimónia que teve lugar na sala nobre do quartel operacional. A AHBVSJM achou “por bem aproveitar esta sessão, este momento diferente”, para homenagear aqueles que têm sido “exemplos de dedicação, entrega e esforço”.
Assim, os “soldados da paz” Marçal Santos, Álvaro Mendes, Leonardo Costa, José Lameira, João Neto e Silva e José Neves passaram a fazer parte do Quadro de Honra, tendo a “dimensão do seu serviço e altruísmo dentro deste corpo de bombeiros” sido destacados pelo comandante Normando Oliveira. Além destes, o subchefe Carlos Leite foi homenageado pelos seus 35 anos de serviço com o crachá de ouro da LBP.
O “vice” da direção Benjamim Maia foi galardoado com uma medalha por 10 anos de “bons efetivos serviços”, enquanto o presidente Carlos Coelho, o “vice” Diamantino Pinho e o diretor Manuel Pinho receberam uma medalha por 20 anos de “bons efetivos serviços”.
Trabalho dos bombeiros em 2018
– 16.072 serviços efetuados
– 8.553 veículos envolvidos
– 16.017 bombeiros envolvidos
– 30.103 horas despendidas
– 272.372 km percorridos
Câmara aprova “apoio extraordinário” aos bombeiros
Entre outros assuntos, que também foram discutidos e votados na última reunião de câmara, esteve a atribuição de um “apoio extraordinário” à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de S. João da Madeira no valor de cerca de 14.470 euros.
No passado dia 30 de abril, o executivo municipal aprovou por unanimidade conceder o subsídio tendo em vista a reparação do motor de uma ambulância de transporte de doentes. A viatura em causa é do ano de 2007 e conta já com 432 mil quilómetros. Além disso, conforme se pode ler na proposta a que o laborteve acesso, “foi sujeita a uma intervenção para adaptação da célula aos requisitos legais para transporte de doentes, também esta financiada pelo Município em 2018”.
Promoções e condecorações
Promoção a Bombeiro de 1.ª: Ricardo Silva, Hélder Alves, Humberto Conceição, Fábio Pinho, Vítor Coelho, Fernando Duarte, Ana Conceição Ferreira, Magda Fernandes
Promoção a Chefe: André Oliveira
Bombeiros Medalha de 5 anos: Catarina Leite, Nelson Silva, Mónica Barros
Bombeiros Medalha de 10 anos: Tiago Martins
Bombeiros Medalha de 15 anos: Ricardo Ferreira
Bombeiros Medalha de 20 anos: Vítor Correia, Alberto Garrido Oliveira, Hugo Tavares
Bombeiros Medalha de 25 anos: André Oliveira
Nota: passaram ainda de infantes a cadetes, pela idade, Guilherme Henriques, Briana Soares, Diva Melo, Nuno Oliveira