Um médico sem pacientes, poeta sem inspiração!
É como um corpo sem alma, um ferido da existência,
Sem qualquer um lenitivo, mesmo só de ocasião,
Uma mente sem sentido, ou só da conveniência.
Falta-lhe aquela outra veia, na rede que em si circula,
Pois espoliado dela há um défice que lhe assiste,
Nas horas em que a razão por dentro dele pulula,
Na busca do estro perdido ou do estro que não existe.
Torna-se ele em paciente que dentro sofre e implora,
Por um momento de vida, nem que haja desamor,
Mas o bastante de dor, “quantum satis” para quem chora,
Para fazer o seu poema, onde haja a palavra amor.
Serão assim todos aqueles que acompanham a dor humana,
Companheiros de viagem, quem à pele a traz colada,
Não passam jamais sem ela, mesmo quando nos engana
Sobre qualquer outra forma, mesmo em morte disfarçada.
A dor é-nos necessária, dá sabor à poesia,
Sem ela qualquer poema tem o salobro das águas,
É preciso o sal das lágrimas para dar melancolia,
Com temperos de ilusão e assim nascem nossas mágoas.

Flores Santos Leite