Os gritos de guerra alternam-se com os gritos de paz;
Negoceia-se a guerra em troca de paz,
Negoceia-se a paz em troca de guerra,
Tudo sinais de mentira e de não verdade.
Joga-se no fundo da escuridão,
Na mais recôndita furna tão cheia de tudo,
Todos os nadas, todos os vazios do mundo,
Entre montes de lixo e de podridão
De leste a oeste os gritos de paz,
Segue-se a agonia nos gritos da dor,
E entre tantos gritos que é que se faz?
Se não gritos impuros em juras de amor
São os ais substituídos por uis
Mais do que vozes uivos serão,
Cansados dos charcos vindos dos pauis
Por onde se atolam os que morrer vão…
Ao brilho do sol, à luz do luar;
Macabra esta dança de espectros bailando,
Música de fundo, o canhão a troar,
Assistência livre a um concerto nefando.
E ouvem-se constantes os hinos guerreiros,
Sufocados em lágrimas, feitos do estertor,
E haverá sempre os que são os primeiros,
Sem saberem o que será melhor ou pior.
Os gritos já serão palavras do dia;
O silêncio da noite! São murmúrios somente.
O sonido infinito de uma alegria
Jaz morto na Terra, no eternamente.
E a besta humana, alma sem espelho,
Já tem a sua prole em fotos de revista;
Raiadas de morte num tom mais vermelho,
Mais forte que o sangue derramado à vista.
Deixou de funcionar a Humanidade
Tarda em retomar os clichés daquela outra era,
Em que o ser, que somos, tinha na amizade
O desafio final e que tanto se espera.
Flutuamos enfim entre cinismo e ajudas,
Com braços de fora e a cabeça imersa,
Respirando o ar entre graves e agudas
Notas de uma pauta, de uma falsa conversa.
A sociedade aberta sem mais migrações,
Modelos constantes para todos respeitarem,
Conversa fiada de líderes e de nações,
Ludíbrio medonho para nos sepultarem.
Política de robots, tudo está ligado;
Nada está ligado, já não há fronteiras.
Todas estas contidas no mundo apertado;
E dentro da Humanidade a criar barreiras.

Flores Santos Leite