A última aula

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Armando Margalho chegou a S. João da Madeira para jogar basquetebol na Associação Desportiva Sanjoanense. Quase em simultâneo, ficou indexado pela antiga Direção Geral dos Desportos, como técnico de Natação, no Tanque Piscina construído nas traseiras da Escola Primária do Parque. Durante a década de 70 e princípio da seguinte, várias crianças, jovens e alguns adultos tiverem Margalho como professor, monitor, ou técnico de natação. A longevidade neste ensino permitiu-lhe ensinar a nadar a pelo menos duas gerações de sanjoanenses. Aproximando-se nalguns casos, a três gerações.

Amante da atividade física, do desporto, Margalho – como o próprio gostava de ser conhecido e tratado, sem o título de professor, procurando o relacionamento próximo – procurou envolver-se na comunidade local. Apesar de atleta da ADS, foi um grande impulsionador do associativismo, estando no grupo dos dinamizadores d’os Kagados, quando a atividade desta coletividade era em torno do Parque da Nossa Senhora dos Milagres. Nos anos 80, foi um dos fundadores da Associação Estamos Juntos e seu primeiro presidente. No final do século, foi um dos grandes incentivadores para ser criada a Associação É Bom Viver.

Ainda neste capítulo,  recordar a alegria que emanava nas suas de aulas de adaptação ao meio aquático, junto das crianças do infantário e a criatividade ao idealizar os exercícios, em que à falta de equipamento adequado, surgiam soluções incríveis, para as crianças fazerem os mergulhos e habituarem-se a ter a cabeça debaixo de água. Assim também era nas aulas de “ginástica“ no infantário (IOS), onde era incentivada a flexibilidade e agilidade de movimentos. Abro umas linhas, para recordar umas aulas no antigo Jardim do Sol, numa cave e com uns colchões, onde se aprendia a dar umas cambalhotas e outras piruetas e às vezes, o Margalho levava-nos em grupo a passear pela Vila. Fui assim que conheci os caminhos do açude até ao Parrinho, o monte das Travessas, um belo pinhal no Espadanal, os moinhos dos Fundões e os da encosta de Casaldelo, quem desce para o Roupal.

No desporto, tudo mudava. Margalho era um técnico exigente fisicamente. A doçura que transmitia às crianças, transformava-se em dureza. A responsabilidade era diferente. Assim treinou os jovens basquetebolistas da ADS e também os nadadores do mesmo clube, ainda no Tanque Piscina. Anos mais tarde, quando abriu a piscina municipal das corgas, liderou uma equipa da AEJ. Nessa época, 1988, atendendo à melhoria das condições de treino, preconizou que S. João da Madeira haveria de ter um atleta Olímpico. 24 anos depois, Ana Rodrigues conseguiria esse feito. Apesar de se ter afastado dos treinos de Natação, Margalho manteve-se como treinador de basquetebol e enveredou pelo hóquei em patins, durante umas épocas. É no basquetebol, antes da viragem do século que recupera a mística da ADS, organizando um torneio de homenagem ao malogrado Cassiano Inácio e aproximando antigos jogadores ao clube, condição em que tem funcionado a direção da modalidade, desde essa época.

Margalho é claramente recordado como atleta de basquetebol. Na ADS foi capitão de uma equipa que em três épocas subiu da 3ª à 1ª Divisão. Ainda foi jogador da AEJ e voltou a jogar como Master na ADS, já nesta década.

Pelo exposto, há várias formas de perceber a importância que Armando Margalho teve no Desporto e na atividade física em S. João da Madeira.

Há ainda duas vertentes que importa referir para perceber a sua total participação na comunidade. A ocupação de tempos livres no período de férias escolares, sendo um dos primeiros dinamizadores do Campo de Férias Estamos Juntos, atividade pioneira na região surgida em 1982. A outra menos conhecida, é a de divulgação cultural. Além de um programa de rádio, Margalho foi um dos organizadores do festival de artes Adeus ao Verão, realizado em 1989, na Praça Luís Ribeiro, onde se exibiram durante um dia vários artistas da cidade, das mais variadas expressões musicais, além de dança, teatro e pintura.

Na passada sexta-feira, dia 31 de maio, pelas 17h00, realizou-se a última aula de Natação de Armando Margalho. Milhares de pessoas foram seus alunos. Mais de 40 anos a trabalhar no desporto local, não deixam ninguém indiferente.

Felizmente, escrevo esta homenagem sabendo que Margalho irá continuar ligado à comunidade.

Haverá, no futuro, outros assuntos para serem descritos.

Se não for pela sua dinâmica desportiva, será certamente pelo acompanhamento familiar aos seus três filhos, ou então, aos netos e netas.

 

 

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