Obra de André da Loba foi inaugurada no mesmo dia do arranque da “nova” Associação de Moradores do Orreiro
O Circuito de Arte Urbana do Hat Weekend – Festival do Chapéu conta com mais uma obra que “antecipa” a terceira edição deste evento camarário que vai decorrer em S. João da Madeira (SJM) de 19 a 21 de julho.
Este último sábado, o mural do ilustrador André da Loba pintado numa das fachadas de um dos prédios (Bloco D 2) do complexo de habitação social do Bairro do Orreiro juntou-se aos outros dois que já foram inaugurados junto ao Museu da Chapelaria (em julho de 2018) e do campo de lazer da Cooperativa 11 de Outubro (em abril já deste ano), respetivamente, um da autoria de Mariana, a Miserável e outro de Andrés Lozano. Faltam mais duas intervenções artísticas do género para completar este circuito promovido pela câmara municipal (CM) e que conta com a curadoria do Canal 180. A ideia é reinterpretar a herança chapeleira da região, conduzindo à descoberta de novos olhares sobre o património edificado e imaterial da cidade de SJM.
Câmara aposta na valorização também da periferia da cidade
Segundo informação avançada ao labor pela autarquia, vivem no Bairro do Orreiro aproximadamente 290 famílias. E foi para muitas delas que Jorge Sequeira falou no passado dia 1 de junho.
Perante uma praça em festa, o autarca começou por evocar a história de S. João da Madeira cuja independência em 1926 “foi por causa da indústria chapeleira”, na altura, representada por “cerca de 200 fábricas” e que, com o passar dos anos, foi substituída pela “indústria do calçado”.
Hoje, apesar de SJM ser conhecida como “a capital do calçado”, “ainda temos fábricas de chapéus, designadamente uma das mais importantes do mundo que faz chapéus para os cowboys nos Estados Unidos da América, como os que vemos na série ‘Dallas’, e temos também uma fábrica que produz matéria-prima para chapéus”, sublinhou o edil.
“Em defesa da sua dama”, que é como quem diz da câmara, Jorge Sequeira chamou à atenção, desta feita, para a aposta na valorização também da periferia do concelho. Inicialmente previsto para o centro de SJM, o mural de André da Loba “passou” para a Rua A do Orreiro, o que, no entender do político, “valorizou muito o bairro em que estamos e esta praça, deu-lhes uma nova vida e uma nova cor”, reforçando “a qualidade de vida deste espaço”.
Reabilitação de mais sete blocos habitacionais no Orreiro
Jorge Sequeira garantiu que “temos feito um grande esforço para valorizá-lo [ao Bairro do Orreiro]”. Provas disso são não só “esta obra, como também a intervenção nestes prédios”. Aliás, “anuncio que já está em curso a contratação de um empreiteiro para recuperar estes sete blocos e colocá-los nas mesmas condições dos quatro que já foram recuperados. O concurso já está lançado”, adiantou, deixando claro, também, que se trata de “um esforço desta câmara e de todas as câmaras que nos antecederam”. Ao que o labor conseguiu saber após contactar o gabinete de comunicação da CM, já à margem do ato inaugural, a requalificação dos restantes sete prédios do Bairro do Orreiro custará “cerca de dois milhões de euros”.
Ainda na ocasião, o responsável político fez questão de recordar que, fruto de uma parceria com o Ideias Café, “este ano também trouxemos aqui pela primeira vez a Poesia à Mesa”, situação que se repetirá em 2020. Mas ainda antes, conforme anunciou, os moradores do Orreiro vão voltar a ter um concerto de verão, à semelhança do que já aconteceu no ano passado.
“Vou fazer parte do imaginário deles até ao fim da vida deles”
André da Loba não quis intervir publicamente, mas aceitou conversar com a comunicação social no final da inauguração. À imprensa, o artista natural de Aveiro, considerado em 2010 como um dos 200 melhores ilustradores de todo o mundo, explicou que com este seu trabalho de grande dimensão, com cerca de 11 metros de altura e seis metros de largura,que demorou três dias a executar, quis “tornar isto [aquela praça] num espaço único”. Além disso, também “pretendo combater o sedentarismo infantil, promover a brincadeira ao ar livre”.
Para pintar este mural, onde se veem “garotos e coelhos a correrem e a saltarem”, o ilustrador teve a ajuda do pai, da irmã, de um amigo e – imagine-se! – das próprias crianças do bairro. “A malta do bairro sente-se muito confortável com isto e privilegiada por ter aqui uma obra minha ou de outro artista. Isto fá-los sentir especiais”, disse, acreditando, por isso, que “vou fazer parte do imaginário deles até ao fim da vida deles”.
O balanço que faz desta sua experiência profissional é, pois, “extraordinário”. “Para mim é porreiro ser convidado para este tipo de coisas e para os moradores também porque significa que o bairro existe no mapa”, rematou André da Loba que naquela tarde também dinamizou um workshop de desenho/ilustração em pequeno formato (cartão/papel) para a comunidade, no espaço do parque infantil local.
Associação de Moradores do Orreiro retoma atividades

Depois de alguns anos inativa, a Associação de Moradores do Orreiro (AMO) está de volta pela mão do jovem André Rodrigues e de outros carolas também ligados ao Bairro do Orreiro, entre os quais “a presidente da antiga associação”.
No passado sábado, e em simultâneo com a inauguração do mural de André da Loba, a “nova” AMO levou a cabo o seu primeiro evento público, digamos assim, organizando jogos tradicionais populares e a venda de rifas. Em relação a esta última iniciativa, André Rodrigues adiantou ao labor e aos outros órgãos de comunicação social presentes que com o dinheiro angariado “vamos realizar obras necessárias que a câmara, devido a demasiadas burocracias, não consegue fazer no imediato como, por exemplo, renovar caixotes do lixo, recolocar um bebedouro que aqui existia, etc.”.
A ideia do atual líder da AMO e da sua equipa é “fomentar o espírito de bairro”, juntando novos e menos novos num ambiente saudável que nada tenha a ver com o que já se viveu ali em outros tempos.
VOX POP

Maria Adelaide Ferreira, 70 anos, Mosteirô
“O mural está lindo. Mal vi, adorei. Todos os prédios deviam ter um. Foi uma boa ideia fazerem isto aqui, porque o lugar estava um bocado morto”.

Pedro Bacalhau, 44 anos, SJM
“Está bonito. Dá outra vida e mais cor ao bairro. Devia haver mais iniciativas como esta”.

Diana Oliveira, 16 anos, SJM
“Está giro. Dá mais vida e cor ao bairro. Este lugar fica mais vivo e acolhedor”.

Alberto Silva, 66 anos, Cucujães
“Está muito interessante. Não moro aqui, mas desejo que continuem a fazer obras como esta. O mural está muito bonito”.