Aceitar significa que recebemos alguma coisa boa ou má sem protestos. Tanto podemos aceitar um presente ou um emprego como jantar com alguém, quando na mesa ao lado está uma pessoa de quem não gostamos, até a morte de alguém que nos é querido, um destino que não se estava à espera.
Entre o muito que temos de aceitar na vida, talvez “os outros” (não me perguntem quem), todos os “outros” façam parte do lote mais difícil. E mais incontornável. Porque sem os “outros” não podemos viver, provavelmente até não fazemos sentido. É no desafio do jogo da vida com os outros que melhor estabelecemos a nossa própria identidade, que definimos o nosso “eu”, mas quando sentimos que fazemos parte de um todo, com os “outros”, torna-se mais fácil aceitar as particularidades de cada um.
Mas quando os “outros” pela diferença querem evidenciar-se em relação a nós e ao nosso grupo ou, como direi, comunidade, cultura, país – temos tendência a olhá-los, primeiro, como uma curiosidade, uma extravagância que traz alguma agitação e mais-valia ao que somos; e, depois, como uma invasão, uma ameaça ao padrão constante que segura a nossa vida.
A entrada de brasileiros e ucranianos na cultura portuguesa, nas últimas décadas, começou por ser uma semi-distância, uma lufada de ar fresco que nos permitia aligeirar as nossas características essenciais, uma emoção inteletual, uma surpresa em termo cultural. Quando começaram a chegar em múltiplos de cem, ou seja, às centenas, e a preencher, pouco a pouco, os espaços do nosso dia-a-dia na tentativa de encontrarem um bem-estar material, passámos a olhá-los como uma ameaça, uma espécie de invasores que minam as nossa estruturas, uns usurpadores dos nossos empregos (se bem que só fiquem com aqueles que nós rejeitamos).
Fechámos-lhos os braços, deixámos de os querer “integrar”, como se de família se tratasse. Pior, catalogámo-los com alcunhas, por vezes até como palavras antipáticas.
E é pena. Porque Portugal é “País irmão” acolhedor e solidário.