No início de junho foi eleito para o quinto mandato consecutivo. Como foram os últimos oito anos à frente dos destinos da Sanjoanense?

Ao longo destes oito anos houve uma redução drástica do passivo na ordem dos 75 por cento, que é uma grande vitória. Além do aspeto financeiro, em termos desportivos as nossas equipas, tanto de formação como seniores, têm vindo a subir, gradualmente, vários patamares, que culminou, nos últimos anos, com a conquista de vários títulos nacionais e subidas de divisão. É o resultado de um trabalho rigoroso que tem vindo a contribuir para a recuperação financeira sem, no entanto, se perder a competitividade, que até aumentou, tal como o número de atletas e de modalidades. Também foi feito investimento em infraestruturas do clube, com a recuperação de algumas das nossas instalações, como os balneários do estádio, a substituição do piso e da iluminação do pavilhão e a criação da sede. A próxima obra será a substituição dos portões do pavilhão.

Por tudo isso, considero que os quatro mandatos à frente do clube foram bastante positivos.

Ao longo dos vários mandatos tem sublinhado que a sua prioridade passa pela redução do passivo que, segundo os números apresentados na última Assembleia Geral, se situa nos 377 mil euros. Este valor está dentro do que esperava para oito anos de exercício?

Acho que posso considerar que o valor até foi ultrapassado e para o qual também contribuíram as verbas extraordinárias que entraram no clube, nomeadamente com a venda de alguns atletas, e prémios conseguidos pela equipa sénior de futebol na Taça de Portugal. Penso que se conseguiu ultrapassar as metas definidas porque, neste momento, o clube tende a caminhar para a estabilidade, algo que praticamente não existiu nos primeiros oito anos. É certo que ao longo deste tempo atletas e treinadores foram privados de muita coisa que mereciam, mas tínhamos um rumo orientador, que era abater o passivo. E no próximo mês de agosto damos mais um passo nesse sentido com a liquidação final do último empréstimo que ainda resta. Depois disso, para além dos fornecedores de conta corrente, o passivo cinge-se a diretores e antigos presidentes que, em altura própria, substituíram a banca.

Não nos podemos esquecer que estaremos sempre “dependentes” da Câmara Municipal, que é, talvez, o principal patrocinador do clube, e da boa vontade dos empresários da cidade em nos ajudar.

“Considero que os quatro mandatos à frente do clube foram bastante positivos”

Alguns clubes defendem que devem trabalhar no sentido de reduzir, ou até cortar, a dependência financeira que existe com a Câmara Municipal. Não acha que a Sanjoanense deveria seguir esse caminho?

Devia, mas para isso temos de arranjar fontes de receitas extraordinárias, como a venda de atletas ou outro tipo de situação que permita que haja uma contribuição direta para o clube.

No entanto, é preciso ver que o clube está a substituir o Estado em muitas funções ao prestar um serviço pelo qual somos pagos através da Câmara Municipal. Não somos dependentes da autarquia, estamos, sim, a assegurar a prática desportiva quando o Estado não o garante. Ao proporcionarmos a prática desportiva estamos, indiretamente, a contribuir para o combate/prevenção à obesidade infantil, que custa milhares de euros por ano ao Estado. Se os clubes estão a substituir o Estado nesse trabalho porque é que não devem ser devidamente recompensados por isso?

Posso é discutir se o valor é muito ou pouco, e pelo que estamos a fazer, para mim, continua a ser pouco quando comparado com os milhares que o Estado gasta sem alcançar o efeito pretendido.

Outro aspeto que importa referir é que a Sanjoanense movimenta 1.200 atletas, mas a comparticipação da autarquia não tem aumentado em proporção com o número de praticantes. Neste momento recebemos menos do que recebíamos há alguns anos por metade dos atletas

Assumiu recentemente funções para mais um mandato. Ao longo dos últimos oito anos há algum momento positivo ou negativo que destaque?

Positivos foram muitos. Tudo o que aconteceu, quer ao nível financeiro como desportivo, com os diversos títulos alcançados ou o aumento de atletas e de modalidades é de realce. Em termos negativos tive momentos muito difíceis que tive que ultrapassar, mas houve um aspeto que me marcou, que foi o falecimento de um atleta de 13 anos devido a doença e que ainda tinha muito para dar, quer em termos desportivos quer pessoais.

E há algum desses momentos que teve que ultrapassar que se evidencie?

Tive um que foi bastante difícil ao nível pessoal. Por ser presidente da Sanjoanense estive com termo de identidade e residência por uma dívida antiga que o clube tinha referente ao Totonegócio. Deparei-me ainda com algumas situações aflitivas no clube no aspeto financeiro que contribuíram para que me privasse, e ainda acontece, do meu próprio ordenado, em prol da Sanjoanense, dos funcionários, dos atletas e treinadores e dos fornecedores.

Referiu há pouco que os últimos oito anos do mandato foram de instabilidade. Neste momento, no início de um novo mandato, o clube já tem alguma estabilidade?

Caminha para a estabilidade, mas temos de estar preparados para alguma situação que surja e que não conseguimos dominar. São situações imponderáveis com as quais temos de contar e que podem destabilizar, pontualmente, a vida normal do clube. Mas posso referir que, neste momento, a Sanjoanense está estabilizada em termos de fornecedores, enquanto ao nível bancário estamos prestes a liquidar a última prestação. No que diz respeito à Segurança Social estamos com as contas em dia.

“Foi unicamente pelas modalidades que me recandidatei”

Tem sido uma gestão fácil?

Não, e independentemente dos contratempos da gestão financeira, acho que o mais difícil tem sido a gestão dos egos pessoais. São várias modalidades e vários objetivos e conseguir gerir tudo isso acho que é a grande virtude de qualquer presidente.

Depois encontramos também dificuldade na gestão dos egos pessoais de muitos encarregados de educação, que olham para o seu filho como um superatleta. E esta é uma situação que tem vindo a agudizar-se ano após ano.

Todas estas dificuldades e sacrifícios têm valido a pena ao longo destes oito anos?

Sim, mas é claro que não se pode agradar a todos e não prometo, por exemplo, mudar o emblema do clube. Acho que, atualmente, cerca de 90 por cento dos nossos atletas não conheceram outro emblema sem ser o atual. Todos temos de estar preparados para a evolução e acho que a grande maioria dos clubes já mudaram, de uma ou outra forma, o seu emblema.

Foi eleito para mais um mandato, mas tinha garantido que não se iria recandidatar, no entanto apresentou uma lista a poucas semanas do ato eleitoral. A mudança deve-se ao apelo das secções, como justificou na altura?

Claro. Com exceção de uma saída ou outra, todos os vice-presidentes e equipas diretivas mantiveram-se. Não houve nenhum conflito institucional nas várias modalidades e a transição de um mandato para outro foi feita praticamente sem alterações diretivas. O clube esteve estável e foi unicamente pelas modalidades que me recandidatei.

Acabaram por ser umas eleições históricas, com duas listas, pela primeira vez, a votação.

Foi excelente para o clube. Primeiro porque contrapuseram-se dois tipos de ideias, com uma a apontar para a estabilidade, que está a acontecer, e outra direcionada para a mudança. Se ganhou a estabilidade é porque parte dos sócios reconheceram todo o trabalho realizado e que, neste momento, isso era importante no clube.

Para além disso o ato eleitoral ficou também marcado pelos mais de 300 sócios a exercer o direito de voto. Como justifica este número?

Quem acompanha mais de perto a Sanjoanense manifestou a sua vontade na estabilidade. Já quem esteve ligado ao clube noutros tempos e que via a hipótese de alterar o emblema foi a altura para apostar, não na mudança dos programas, mas do símbolo. Julgo que o que estava em causa era a questão da mudança de um símbolo. Reconheço que temos de ter orgulho nos nossos símbolos, mas também temos de acompanhar as novas realidades.

“Julgo que o que estava em causa era a questão da mudança de um símbolo”

Quando apresentou a recandidatura a outra lista já contava com algum tempo de trabalho. Alguma vez pensou que poderia perder as eleições?

Como foi a primeira vez que existiram duas listas para mim também foi uma novidade. Democraticamente temos de respeitar as vontades da maioria. E nesta situação estaria sujeito a ficar ou a sair, mas 60 por cento dos sócios optaram pela continuação.

Créditos: Nuno Santos Ferreira

“Orgulho no passado, estabilidade no presente, projetar o futuro”, foi o seu lema na campanha. Qual o significado da frase?

Temos de ter sempre orgulho no passado, seja ele longínquo ou mais próximo, e orgulho nas diversas gerações, quer de atletas, treinadores, funcionários e até sócios, que contribuíram para o engrandecimento de um clube que está quase nos 100 anos. Quanto à estabilidade no presente é preciso referir que além da financeira e desportiva, o clube duplicou, nestes últimos 10 anos, o número de atletas e tem mais três ou quatro modalidades. Projetar o futuro é cimentar esta estabilidade que existe no presente. É evidente que no futuro temos de nos aproximar dos patamares superiores e melhorar, ainda mais, a nossa formação, que é para onde o clube tem de caminhar. Se calhar devemos apostar mais na progressão competitiva, visto que em termos quantitativos estamos quase no limite de atletas e modalidades.

A última Assembleia Geral, onde se realizou a abertura do processo eleitoral, decorreu sem a apresentação de contas relativas ao último exercício. Algum motivo em particular para não terem sido apresentadas?

Tenho lutado constantemente para que os resultados dos exercícios sejam apresentados a tempo e horas, mas por vários motivos quase nunca foram.

Não se gere este clube, em termos contabilísticos, como uma empresa, porque estamos dependentes de vários fatores, como a apresentação de contas das várias modalidades e da disponibilização atempada dos documentos das várias federações e associações.

É obvio que tenho que exigir aos vice-presidentes, diretores e seccionistas para que o façam a tempo e horas, mas não nos podemos esquecer que são pessoas que disponibilizam tempo em prol do clube após a sua vida profissional.

Não é uma situação que me agrade pelo que já implementei, ao nível interno, regulamentos para que isso não volte a suceder.

Mas dois meses depois da última Assembleia Geral, as contas já não deveriam ter sido apresentadas?

As contas serão apresentadas na segunda quinzena de setembro. Prefiro demorar mais tempo e apresentar as contas reais, do que tentar cumprir os prazos e ter uma situação que não reflete a realidade financeira do clube.

Este ano irá ser apresentado, juntamente com o Resultado do Exercício de 2018, o Relatório de Atividades da época bem como o Relatório de Atividades e Orçamento da temporada 2019/2020.

Foi eleito para o quinto mandato consecutivo. Quais os objetivos para o próximo biénio?

Aumentar o nível qualitativo na vertente desportiva, manter a estabilidade financeira e realizar, dentro do possível, melhorias nas nossas infraestruturas. Foi também promessa eleitoral ser restabelecida a entrega do emblema de ouro aos sócios com mais de 50 anos.

Refere que pretende fazer algumas obras de melhoria nas infraestruturas do clube e já foram realizadas algumas, mas o relvado continua sem uma intervenção profunda.

Quem assistiu aos jogos da época passada verificou que o relvado apresentou melhorias significativas, algo que se deve a uma intervenção, que não é visível, feita pela SAD, com a introdução de mangas de escoamento de água e não há dúvida que o relvado recuperou bastante.

É claro que uma intervenção no relvado é necessária, mas, se calhar, é mais urgente obras nas bancadas e nas casas de banho do estádio.

“Aos poucos ultrapassámos obstáculos e conseguimos uma certificação de quatro estrelas”

Que balanço faz da época que terminou?

Em andebol alcançámos o quinto lugar na fase final da 2.ª Divisão e com hipótese, até três jornadas do fim, de subir. Registou-se o regresso da equipa sénior feminina, enquanto os juniores subiram de divisão e sagraram-se vice-campeões nacionais. Os veteranos, como tem sido habitual, foram campeões regionais e estiveram na fase final.

No basquetebol conseguimos a quinta posição na fase final da Proliga, cumprindo os objetivos, fomos campeões distritais em sub16 femininos, com participação no Campeonato Nacional, e registamos também o regresso da equipa sénior feminina, que foi finalista da Taça Nacional. Foi uma modalidade onde se verificou ainda um aumento significativo no número de atletas.

No futebol, pela quinta época consecutiva, foi conseguida a manutenção no Campeonato de Portugal, uma competição que é cada vez mais difícil e exigente. Nos juniores, depois de um início de campeonato com alguns percalços, a equipa realizou uma ponta final espetacular conseguindo, no espaço de uma semana, a Taça e a Supertaça Distrital. Já os juvenis e juniores acabaram a temporada com lugares honrosos, enquanto no futebol de 7 todas as equipas estiveram presentes nas finais distritais, situação que já não se verificava no clube há muito tempo.

No hóquei em patins foi alcançado o feito da época em termos coletivos com a conquista do título nacional e a subida à 1.ª Divisão com uma equipa bastante homogénea e formada, em grande parte, por atletas provenientes dos escalões de formação. As seniores femininas atingiram, mais uma vez, a fase final da 1.ª Divisão, enquanto os sub20 também estiveram na fase final do respetivo campeonato nacional.

Na natação o destaque individual vai para Ana Rodrigues, que está cada vez melhor ao nível dos resultados desportivos, tendo conquistado, esta época, sete títulos nacionais. O aumento da qualidade nesta modalidade também tem promovido atletas que vão tendo resultados consideráveis, como mínimos para os Campeonatos Nacionais.

Na patinagem registou-se um aumento significativo do número de atletas e verificou-se uma progressão ao nível de resultados desportivos, enquanto o bilhar está a sofrer alguns ajustes para que volte a ter campeões distritais como já aconteceu.

A ginástica, que é exclusivamente de exibição, continua a ter bastantes atletas e demonstra, nos vários saraus em que participa, em particular o da Sanjoanense, todo o seu brilho, evolução e glamour.

Por tudo isso foi uma época positiva nas mais diversas modalidades. Em termos de títulos passamos o nosso pecúlio para 42 nacionais. Tenho muito orgulho nos oito títulos nacionais seniores conquistados ao longo do seculo XX, mas também tenho muito orgulho nos 33 títulos nacionais alcançados no século XXI, muitos deles de formação, algo que nunca se conseguiu nos 75 anos anteriores.

Do seu ponto de vista, que análise faz ao trabalho realizado pela SAD ao longo da última época?

Positivo. Além de todos os condicionalismos que existiram na transposição do plantel sénior do clube para a SAD, acho que só posso dizer que se acertou com esta decisão, pois está a ser realizado o que perspetivei. Houve uma redução considerável, senão total, nas despesas do clube em relação à manutenção do estádio, do plantel, de jogadores e treinadores, que foram assumidas pela SAD. É evidente que os resultados desportivos ainda não foram alcançados, que é subir às ligas profissionais, mas considero que esta Sociedade Desportiva está com os pés bem assentes no chão e que os objetivos estão a ser conseguidos.

E qual é o relacionamento que existe entre a direção da Sanjoanense e a SAD?

Cada um exerce as suas funções com completa liberdade. Nunca houve nenhum atrito e, como tal, temos um relacionamento salutar.

“Não podemos viver à sombra da certificação”

O clube foi recentemente reconhecido pela Federação Portuguesa de Futebol como Entidade Formadora Certificada. Isto é resultado de quê?

É resultado de um trabalho que já vem de há três ou quatro anos e que demora o seu tempo já que para ser atribuído o clube tem de cumprir determinados objetivos e requisitos fundamentais em várias áreas, como desportiva, médica, técnica e logística, entre outras. Com a obrigatoriedade do IPDJ na certificação anual dos treinadores, com ações de formação, bem como a criação do novo campo das Travessas e de toda a dedicação dos coordenadores e direção do futebol de formação, o processo desenrolou-se mais rapidamente. Aos poucos fomos ultrapassando obstáculos e conseguimos atingir uma certificação de quatro estrelas.

E em termos práticos o que é que isso significa para a Sanjoanense?

Para qualquer clube é evidente que uma certificação é um prestígio. Em termos práticos é mais fácil “aliciar” ou cativar o interesse de um jogador para representar um clube que é reconhecido com Entidade Formadora Certificada. Por outro lado, depois das mudanças regulamentares que existiram, no final da época todos os atletas são livres, mas agora, com a certificação, o clube pode celebrar contratos de formação com os atletas que poderão ser de potencial valor.

Independentemente disso, a breve trecho, todos os clubes com equipas seniores ou de formação terão de ser certificados para participar em provas nacionais.

São exigências que também contribuem para que o clube melhore todos os seus procedimentos internos, mas também já o merecíamos, pela tradição e resultados desportivos anteriores e pelos atletas que já fornecemos às seleções nacionais jovens e clubes de outra nomeada.

A certificação foi alcançada, mas todos os anos tem que ser renovada e, no mínimo, temos de ter esses itens salvaguardados. Temos de provar, todos os dias, que merecemos este reconhecimento e não podemos viver à sombra da certificação.

A certificação é reflexo de que a Sanjoanense caminha para ser tornar, cada vez mais, um clube de referência?

Claro. Com uma certificação de quatro estrelas estamos no segundo patamar desse processo num universo muito grande de clubes ao nível nacional. Como é evidente, agora a responsabilidade também é maior. Já no basquetebol o clube tem conseguido, todos os anos, uma certificação atribuída pela Federação Portuguesa de Basquetebol ao nível das escolas da modalidade. É uma distinção concedida a clubes que promovem o desporto pela quantidade e qualidade que apresentam na sua iniciação, e não é por acaso que a Sanjoanense tem vários jogadores de basquetebol nas seleções distritais, incluindo em minis.

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