Sempre que procuro, lá o encontro. À esquina da cidade que conhece como ninguém, tem sempre uma palavra avaliativa sobre a situação política ou o desempenho do seu clube do peito, é pessoa importuna mas solidária, ferve de revolta interior pelo crescimento da injustiça e da corrupção que mancha o país, mas deseja sempre o melhor para os amigos, o justo castigo para os malandros, o prestígio da sua cidade, o orgulho de Portugal que o viu nascer e onde gostava de sentir felizes os filhos e netos.
O “Chico da Esquina” está na rua como em sua casa, trabalha e movimenta-se como formiga desconhecida, mas cada vez menos resignada, corta o silêncio com a sua voz crítica, acutilante de quem está farto “desta escória social” e anseia mudança. Não sabe como será, mas acredita que é para melhor. Os políticos escutam pouco a rua, só dão atenção à sua voz à porta das eleições, mas ele percebe já o “truque” e começa a não ir em “cantigas”, ou seja, em “conversa fiada”. Quer seriedade no compromisso, espera por justiça rápida, clareza de contas de palavra
honrada. Ele próprio reconhece que por vezes até é de “esperteza saloia e nem sempre de boas contas”, mas honrado à sua maneira, trabalhador que cria riqueza e não tem vida fácil, cumpridor do seu dever para com o fisco, adepto apaixonado do seu clube à seleção, que lhe devolveu o respeito pelo Hino e Bandeira.
Sempre que me despeço dele com saudade, confesso, sinto que a esquina já o não dispensa como voz da cidade, com toda a naturalidade chega à junta, à câmara porque acredita, porque insiste ao Governo que o há de ouvir. Sem ele e a esquina, seu espaço de opinião e conforto, a cidade não seria a mesma!