Num salão que “celebra a liberdade de expressão” 

 

Até ao próximo dia 6 de novembro, a Biblioteca Municipal (BM) Dr. Renato Araújo tem patente ao público a exposição “Top 50 – World Press Cartoon 2019” comissariada pelo cartoonista português António Antunes.

A provar que não é um mero “depósito de livros” e que, num período em que se fala que “as bibliotecas estão em crise”, está empenhada em se “renovar”, a BM de S. João da Madeira (SJM) recebe, uma vez mais, este salão que “celebra a liberdade de expressão”. E ao fazê-lo, por iniciativa da coordenadora Graça Oliveira, retoma – segundo palavras do autarca sanjoanense – “uma boa tradição”, que iniciou em 2008.

Na altura o concurso era apoiado pela Câmara Municipal de Sintra. Presentemente conta com o apoio da congénere das Caldas da Rainha, cidade ligada ao maior caricaturista do país de todos os tempos – Rafael Bordalo Pinheiro. O World Press Cartoon (WPC) conta já com 14 edições.

Protagonistas e temas para todos os gostos

Composta por desenhos premiados e distinguidos com menções honrosas no concurso do WPC deste ano, esta mostra inclui trabalhos publicados em 2018 e que se dividem em três categorias distintas: caricatura, desenho de humor e cartoon editorial.

Neste salão, há protagonistas e temas para todos os gostos, desde a caricatura de Bashar al-Assad a cartoons editoriais sobre as ligações perigosas entre Vladimir Putin e Donald Trump, não esquecendo os desenhos de humor que nos fazem pensar como a tecnologia ou o aquecimento global estão a transformar-nos.

A propósito da caricatura do presidente da Síria, foi a grande vencedora da 14.ª edição do WPC. Trata-se de um trabalho da autoria dos espanhóis Javier Carbajo e Sara Rojo, que foi publicado no jornal ABC, em Espanha, em abril de 2018.

World Press Cartoon “é um retrato da liberdade de expressão que ainda resta”

GN

Colaborador do semanário “Expresso” desde finais de 1974, António Antunes é o diretor do salão World Press Cartoon desde a sua fundação em 2005. Também tem vindo a integrar o júri ao longo das várias edições do WPC.

Entre muitos trabalhos, é conhecido por dois particularmente polémicos. Um deles remonta a 1993 e é um cartoon do Papa João Paulo II com um preservativo no nariz. O outro, de abril deste ano, mostra o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, cego e a usar uma kipá (símbolo judaico) na cabeça. A guiá-lo está um cão com o rosto do primeiro-ministro de Israel. Este último cartoon foi publicado pelo New York Times sem autorização do autor.

António Antunes, “figura de referência da cultura, da imprensa e da liberdade em Portugal”, como lhe chamou o presidente da câmara Jorge Sequeira,regressou a S. João da Madeira na passada sexta-feira para marcar presença na inauguração de mais uma exposição do WPC. Na BM Dr. Renato Araújo, fez uma visita guiada aos vários trabalhos expostos e chamou à atenção dos presentes para o facto de o desenho de humor estar a passar um “momento complicado a nível mundial”.

Vivem-se tempos em que há a “concorrência da internet, das redes sociais”, em que se assiste ao “fecho dos jornais em papel” e ao “aumento da censura em alguns países”. “Há relatos recentes de prisões de cartoonistas na Turquia e na China, despedimentos nos EUA e no Canadá, encerramento de jornais um pouco por todo o lado”, disse o cartoonista, referindo, de seguida, que “este salão é um retrato da liberdade de expressão que ainda resta, que resiste”. “Não podemos deixar que o desenho de humor caia em desuso, que desapareça das páginas dos jornais que restam ou até mesmo da própria internet”, apelou ainda em SJM.

Em declarações ao labor, já no final da inauguração, António Antunes sublinhou que “o cartoon é uma forma importante de comunicação, forte e incisiva, daí estar a ser atacado”. “Esta atenção dos poderes político e financeiro sobre o cartoon tem a ver com a sua eficácia”, reforçou a ideia.

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