CDU sugere que a cidade crie “um marco” que recorde a vítima e rejeite a forma como lhe foi tirada a vida

A CDU manifestou um voto de pesar a todos os familiares e amigos da sanjoanense Maria Antónia de Guerra Pinho, mais conhecida por Irmã “Tona”, na Assembleia Municipal realizada no dia 23 de setembro.

“Era uma pessoa popular na nossa cidade, religiosa católica, freira, da Congregação das Servas de Maria Ministras dos Enfermos que dedicou a sua vida a ajudar o próximo” e foi “vítima de um assassino, violador e toxicodependente, concidadão nosso, que já tinha cumprido pena de prisão por crimes de violação, estava em liberdade há poucos meses, mas recentemente tinha tentado violar uma jovem”.

Por isso, “a forma como ocorreu a sua morte deve-nos mobilizar para o combate à violência na nossa sociedade”, disse o deputado Jorge Cortez, confessando que “os seus assassinato e violação chocam-nos a todos e levam-nos a sugerir que a cidade dedique um marco que recorde a vítima e repudie a violência da sua morte”.

O presidente da câmara, Jorge Sequeira, associou-se ao voto de pesar da CDU, relembrou o voto aprovado por unanimidade em reunião de câmara, realizada a 10 de setembro, e anunciou que já deu “instruções aos serviços para sinalizarem na cidade o trabalho feito pela Irmã”.

Por sua vez, a bancada socialista, através da sua deputada Rita Pereira, apresentou um voto de pesar pela morte da Irmã “Tona”, aprovado unanimemente pela Assembleia Municipal, seguido de um minuto de silêncio.

Ao longo da sua intervenção, Rita Pereira apelou para que este crime trágico seja “objeto de reflexão sobre o valor da vida”.

Por coincidência ou não, estes dois votos de pesar não foram apresentados na sessão da Assembleia Municipal realizada a 16 de setembro, mas apenas na de 23, ou seja, depois do polémico texto publicado pelo Bispo do Porto D. Manuel Linda, a 17 de setembro, no sítio da internet da Diocese do Porto (https://www.diocese-porto.pt/pt/documentos/mensagens/mensagens/dados/45-critérios/).

Bispo do Porto critica justiça, feministas e políticos

“Obárbaro assassinato da Irmã Maria Antónia, em S. João da Madeira, está a ter uma repercussão internacional fora do comum” em grande parte devido à “notícia muito detalhada” dada pela Agência Fides, das Pontifícias Obras Missionárias, do Vaticano, começa por dizer D. Manuel Linda, considerando que, “no mínimo, o martírio da ´Irmã Tona´ tem muito de paralelo com tantas mulheres, de todas as idades, que, na defesa da sua honra e dignidade, acabaram por pagar com a vida a resistência ao agressor depravado” e “muitas foram mesmo declaradas beatas e santas”.

O Bispo do Porto apresenta a sua reflexão em três pontos e logo no primeiro esclarece que se somos todos iguais por natureza, distinguimo-nos no comportamento, referindo a existência de “verdadeiros monstros” como o que assassinou e violou a Irmã “Tona”. Para D. Manuel Linda, “a sociedade tem a obrigação de os curar, se tal for possível, ou, no mínimo, de proteger os mais vulneráveis da sua ação devastadora. Neste caso concreto, não sei se se fez isso. Não sei se as prisões são centros de recuperação ou ´escolas do crime requintado´”. No ponto seguinte, o Bispo do Porto diz que “o sistema judiciário falhou redondamente” pelo facto de o mandado de detenção do suspeito ter chegado demasiado tarde para evitar a morte de Maria Antónia de Guerra Pinho, depois de ter tentado violar uma jovem em agosto deste ano em S. João da Madeira. “Se é pouco previsível que o sistema judicial seja ´chamado à pedra´, pelo menos moralmente algumas pessoas hão de sentir-se culpadas pelo homicídio da religiosa”, aponta D. Manuel Linda. No último e terceiro ponto, o Bispo do Porto destaca que “com honrosa exceção da Câmara Municipal de S. João da Madeira, nenhum político, nenhum (e nenhuma…) deputado desses radicais, nenhum organismo que diz defender os direitos humanos, nenhuma feminista veio condenar o ato. Nenhum e nenhuma!”, considerando que esse “silêncio” poderá estar relacionado com o facto de “para elas (e para eles…) as vidas perdem valor se se tratar de pessoas afetas à Igreja”. A mensagem com o título “Critérios” de D. Manuel Linda termina com a ideia de que estes são “critérios” que não são os seus.

Movimento Democrático das Mulheres repudia crime desumano 

O Núcleo de Aveiro do Movimento Democrático das Mulheres (MDM) envia ao labor uma nota de imprensa em que repudia o assassinato e a violação de Maria Antónia de Guerra Pinho, no dia 18 de setembro, um dia depois do texto publicado pelo Bispo do Porto.

Para além de repudiar este crime, este movimento exige “medidas de combate e prevenção da violência sobre as mulheres, nomeadamente a violência sexual, criando mecanismos de segurança que envolvam forças policiais, tribunais e serviços de saúde” e “ocombate continuado a estereótipos e preconceitos de género, que ferem os valores humanistas da liberdade e da igualdade, é igualmente uma luta do nosso tempo, que urge promover e intensificar”.

Uma vez que a Irmã “Tona” foi “mais uma vítima de um assassino, violador e toxicodependente, que já tinha cumprido 16 anos de pena de prisão por crimes de violação e estava em liberdade há três meses, mas recentemente já tinha tentado violentar uma jovem, este acontecimento terrível levanta, entre outros, o problema do acompanhamento social e psicológico de violadores, que saem da prisão”, destaca MDM.

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