“Um concerto nunca é apenas um concerto e cada um é vivido de forma isolada e especial”, disse o músico ao labor
O Daniel começou a ter aulas particulares de piano aos oito anos. Por sua iniciativa ou de familiares?
Desde pequeno que a música está presente na minha vida. O contacto inicial veio do meu avô paterno, que vivia da música como professor de piano e formação musical, e da minha avó materna, que viveu do fado durante um período da sua vida. Talvez por estas influências e por ter um primo a estudar piano na altura dos meus oito anos, pedi aos meus pais para começar a aprender piano com o mesmo professor. Foi então que contactei pela primeira vez com o instrumento e com a teoria musical. Três anos mais tarde dei início ao meu percurso oficial no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes e foi neste estabelecimento que concluí o básico e o secundário com o professor de piano Rui Daniel da Silva.
Qual a razão para ter escolhido o piano e não outro instrumento?
Na verdade, não foi uma decisão ponderada. Foi tudo muito natural e espontâneo devido à existência de um piano elétrico em minha casa. O meu interesse pelo instrumento nasceu das brincadeiras que nele fui fazendo antes de realmente decidir estudar música.
Atualmente está a tirar a licenciatura em performance em piano na Universidade de Aveiro. Como está a correr?
O grande e único motivo que me levou a escolher a licenciatura em performance em piano na Universidade de Aveiro foi o professor de piano com quem eu queria trabalhar. O professor Álvaro Teixeira Lopes acolheu-me na sua classe de piano e tem sido uma pessoa muito importante e inspiradora no meu percurso pianístico e pessoal.
Quanto tempo dedica ao piano?
O meu foco quando estudo piano é fazer um trabalho sério e organizado. Nunca traço metas a nível de horas de estudo. Penso que ainda se confunde quantidade com qualidade e é perigoso pensar que se alcança necessariamente bons resultados se a carga horária do nosso estudo for elevada. O importante é o foco e qualidade do estudo.
A ideia é dedicar a vida profissional apenas à Música?
Sim, embora a vida de um músico do século XXI não se restrinja apenas a uma competência profissional. Neste caso, penso que um pianista deve sempre procurar desenvolver o maior número de competências possíveis (artísticas, performativas, educativas, sociais, etc.), para dar resposta às necessidades do mercado de trabalho de uma forma competente e profissional. Nesta área premeia-se a excelência e procuram-se músicos completos.
É fácil enveredar pela música em Portugal ou acha que apenas é possível singrar no estrangeiro?
Penso que seja igualmente difícil. A grande diferença penso que esteja na quantidade de oportunidades e na recetividade. Portugal ainda se encontra pouco recetivo e o pouco mercado encontra-se saturado.
O Daniel já atuou em público diversas vezes. Qual a sensação sempre que toca a solo?
Todos os momentos em que me encontro a estudar piano, o meu pensamento está sempre direcionado para o momento da atuação, para o momento em que irei expor as ideias de cada obra, a forma como as vou transmitir e a forma que o público as vai receber. Um concerto nunca é apenas um concerto e cada um é vivido de forma isolada e especial. A exposição que se tem quando se toca a solo provoca em mim alguma ansiedade e nervosismo pré concerto, contudo, a realização sentida em palco é notória e recompensadora.
Como têm sido as experiências em duo e trio?
Música de câmara é um universo que me encanta e que me desperta bastante interesse. Este ano pretendo explorar o Piano a quatro mãos e continuar o trabalho com o Trio (piano, violino e clarinete). Algumas apresentações pensadas, mas mais para o final do ano.
É a primeira vez que tocará em S. João da Madeira?
Sim e estou muito ansioso.
O que é que o público pode esperar deste Musicatos?
Todos aqueles que forem assistir a este Musicatos, podem esperar muita sinceridade e entrega.
Quais os critérios usados na escolha do repertório?
Cada obra tem as suas próprias caraterísticas, dependendo da época em que esta foi composta e dependendo do compositor. Tendo estes aspetos em consideração, a escolha do repertório tem por base dois fatores igualmente importantes. O primeiro fator é o desenvolvimento pianístico que essas obras podem permitir e neste caso a última palavra será sempre a do professor. O segundo fator decisivo é a minha preferência musical, o envolvimento pessoal nas obras é muito importante no resultado final. No fundo é uma decisão entre mim e o meu professor.
Quais os projetos futuros?
Relativamente à universidade, o grande projeto deste ano letivo será o recital final de licenciatura. Fora do contexto académico pretendo apresentar-me em concerto o maior número de vezes possível, participar em alguns concursos de piano e participar em masterclasses e eventos associados ao meu desenvolvimento pianístico.
Programa
Claude Debussy Reflets dans l`eau
Johann Sebastian Bach Partita nº2
Intervalo
Franz Liszt Bénédiction de Dieu dans la solitude S.173
Biografia do pianista
Inserido na classe do professor Álvaro Teixeira Lopes, o pianista Daniel Constantino encontra-se atualmente a tirar a licenciatura em performance em piano, na Universidade de Aveiro. Interessado e focado no estudo do piano, contacta regularmente com inúmeros géneros de música.
Desde novo demonstrou interesse pela música começando a ter aulas particulares de piano em 2005 com oito anos e mais tarde, em 2007, ingressou no Orfeão de Leiria Conservatório de Artes. Entrou na classe do professor Rui Daniel da Silva, professor que muito o marcou a nível pessoal e profissional e foi nesta classe que permaneceu até ingressar na Universidade em 2016.
Igualmente desde novo que atuou em público, tocando em vários concertos, cerimónias, eventos, em concursos internos e externos ao conservatório, bem como em concursos nacionais e internacionais. Em 2017 atuou na abertura do 35.º Festival de Música de Leiria, em 2018 deu o seu primeiro recital na cidade do Porto, na Quinta da Bonjóia e em 2019 deu três Recitais de piano na Reitoria da Universidade do Porto. Neste último ano, Daniel Constantino ganhou “14th International Piano Competition” que decorreu na Escola de Música São Teotónio em Coimbra.
Quer a vertente interpretativa quer a composicional estiveram presentes durante o seu percurso, tendo escrito várias obras originais, muitas das quais já estreadas em público. Frequentou masterclasses com Prof. Eldar Nebolsin (Uzbequistão), Prof. Katy Apekisheva (Rússia), Prof. Filipe Pinto Ribeiro (Portugal), Prof. Fernando Corvisier (Brasil), Prof. Fátima Corvisier (Brasil), Prof. Sergei Covalenco (Moldávia), Prof. Rudolfo Rubino (Itália), Prof. Luiz Costa (Portugal), Prof. Artur Pizarro (Portugal), Prof. Ana Telles (Portugal), Prof. Nancy Lee Harper (Estados Unidos da América).
Para além de solista, interessa-se bastante pela música de câmara, tendo já trabalhado com um trio de flauta, piano e violoncelo, um duo a quatro mãos e um trio de clarinete, violino e piano. Fora da música clássica teve aulas de jazz com o pianista e compositor de jazz Daniel Bernardes.