Vão-se do nosso convívio, da memória, da saudade,
Com eles também os sinos, p´las lonjuras da tarde.
Vão-se os dias de sol, do arrebol, na verdade
De que a vida é um momento de cirio que já não arde…
Luz que se apaga no sopro, de uma aragem tão suave,
Como se fosse um candeio que deixou de iluminar
Esse caminho tão curto, traçado por frágil ave,
Que fenece no seu voo, o último do seu pairar
O que é a vida ao ser humano, o que é ela se não
O tal momento de espera, na antecâmara da morte?
Onde se julgam os atos pelos quais fomos a mão
Do destino que julgamos, na bussola da nossa sorte.
Mas por muito que se julgue sermos nós os seus senhores,
O que fomos, mas não somos os executores ativos,
Outros estarão para o alterar, tornando-se os seus autores
Aqueles que estarão por trás, mudando os objetivos.
E assim quando se esvai, já que o tempo acabou,
Fica-nos o amargo do fel daquilo que vivemos:
Afinal ao fim e ao cabo em que é que resultou
Se no computo da existência não se foi o que queremos?
Diz-se que já nascemos com um destino marcado,
Mas ele muda decerto no momento crucial,
De repente o movimento dos ponteiros é parado
E regressa a outro tempo este agora virtual.
Esta temporalidade não estará ao nosso alcance,
Pertence a outro universo, para além da ficção,
Fará parte das partículas que nos não dão qualquer chance
De cumprir o nosso destino, agora fora de mão…

Flores Santos Leite