Aproveito este espaço para sublinhar que o meu primeiro intuito é motivar os comerciantes do comércio tradicional de S. João da Madeira que estão desmotivados, desiludidos.
Por esta profissão estou sempre presente, defendo-a o melhor que sei, até aos meus últimos dias de vida comercial e já lá vão 40 anos.
Fiel ao legado doutrinário dessa honrosa profissão que nunca andou em busca da pureza da classe, aliás meta sempre inalcançável.
Nos comerciantes sempre houve espaço para diversas correntes de opinião, mas unidos em defesa da classe, incompreendida, mal apreciada pelo poder político nacional, local e da sua associação comercial.
No entanto, direi que a designação de comércio tradicional é a mais comum e a que melhor é percebida pelos consumidores para identificar o pequeno comércio.
Mesmo assim, a designação de comércio tradicional arrasta atrás de si conotações negativas incompreensíveis.
A isto os consumidores não associam o comércio tradicional a uma forma de comércio antiquada, desatualizada e pouco dinâmica. Para esta perceção muito contribuíram alguns discursos derrotistas, alarmistas, até anunciavam o desaparecimento do comércio tradicional face à abertura das grandes superfícies, à incapacidade de competição dos pequenos comerciantes.
Mas por causa da herança, comércio tradicional, é que há quem prefira utilizar outras designações como comércio local ou comércio de rua.
Não são de todo conotações depreciativas. Longe disso, mas, por força dos 40 anos que levo de comércio, prefiro utilizar a designação comércio tradicional, assim reconhece a maioria das pessoas.
A verdade é que o comércio tradicional constitui um património insubstituível na afirmação de qualquer cidade ou vila deste país. É parte integrante da memória coletiva das populações.
Não nos podemos esquecer, a maioria das localidades desenvolve-se a partir de zonas existentes de comércio tradicional, que foi e será sempre o motor da economia local. O comércio tradicional tem futuro, precisa é de ser capaz de inovar, reinventar, de se adaptar às exigências, às expectativas de novos consumidores, que pela tradição procuram a novidade, novos produtos. É assim que o comércio funciona. No entanto, a chave para o sucesso, para que o comércio tradicional se volte a impor como preferido dos portugueses é ter um serviço de excelência, uma forte relação de confiança e de proximidade afetiva com os clientes.
Só assim julgo ser possível ao comércio tradicional prevalecer na mente dos consumidores perante a concorrência agressiva propositada dos grandes centros comerciais e das grandes superfícies. Nestes locais tudo parece apelativo; os horários alargados; o conforto; as zonas de lazer; a facilidade de acesso e de estacionamento; a oferta comercial. No entanto e nestes formatos comerciais as relações com o cliente tornam-se frias, subtraindo o que de melhor há no comércio que é a magia da relação entre o vendedor e o comprador.
Creio que mais dia, menos dia os consumidores reconhecerão as vantagens do comércio tradicional, da sua capacidade de oferta, da envolvente histórica cultural, dos afetos, sentido que ao comprar no comércio tradicional estão a contribuir para sua própria riqueza e para o desenvolvimento da sua cidade ou vila.
O comércio tradicional tem presente e muito futuro. Assim seja acarinhado!