“O romance é um pretexto” para “continuar a falar e discutir” sobre “a dor, a superação e o amor”, assumiu o autor depois já ter escrito sobre isso no contexto do seu filho Luís
O sanjoanense Luís Quintino criou um grupo de autoajuda no IPO de Lisboa em 2016 que tem tido uma existência contínua desde então. E foi lá que conheceu as jovens Filipa Azevedo, psicóloga, e Joana Mosi, artista, que foram duas das convidadas a apresentar o seu primeiro romance “Na raiz das memórias” a 19 de outubro nos Paços da Cultura.
Enquanto Filipa Azevedo foi a revisora do livro, Joana Mosi começou por fazer uma ilustração para a capa e acabou a ilustrar várias partes do livro.
“O romance é um pretexto” para “continuar a falar e discutir” sobre “a dor, a superação e o amor”, assumiu Luís Quintino, relembrando que “já tinha escrito sobre isso no contexto do Luís, mas precisava de fazer algo diferente”.
Ao ver-se confrontado com o desafio de escrever sobre personagens fictícias, o autor sanjoanense decidiu fazê-lo da forma mais simples que foi ao inspirar-se num fundo de verdade, ou seja, nas suas memórias, tal como sugere o título do livro.
Os protagonistas são jovens desta geração, não da sua, daí a ajuda das duas jovens ter sido preciosa nos diálogos e em outras informações. Entre as pessoas conhecidas que inspiraram a criação dos protagonistas estão um rapaz “que tantas vezes vi em cadeira de rodas no IPO” e uma mulher que depois da apresentação do seu livro “A Geometria do Amor. A Luta Contra o Cancro” dirigiu-se a Luís Quintino para que assinasse um exemplar e lhe disse: “Preciso muito deste livro porque também tenho cancro”. Uma pessoa com quem manteve contacto e que faleceu este ano.
O autor sanjoanense assumiu durante a conversa com o labor que tem sido criticado por criar “personagens boas demais” que não correspondem à vida real. A estas críticas “não cedo porque conheço pessoas que são assim, boas, e prefiro dar protagonismo a estas e não às que não o são”.
Luís Quintino começou a escrever este livro em 2016, deitou por duas vezes ao lixo o que já estava escrito e só em finais de 2017 é que começou “a encontrar o caminho”, contou ao labor.
“Para mim escrever sobre o Luís é muito mais fácil”, confessou o autor, deixando-se tomar pelas emoções ao recordar o seu único filho que perdeu a luta contra o cancro com apenas 24 anos em 2012.
“Comecei a escrever por terapia. Foi a escrita que me salvou. Estava perdido, angustiado e ao dar oportunidade de me confrontar a mim mesmo numa altura em que estava a viver das piores situações que se pode viver fiquei lúcido. Se fiquei lúcido tenho de agradecer”, confidenciou Luís Quintino ao labor.
O autor sanjoanense quer continuar a escrever até porque já não se vê sem fazê-lo, mas para já quer liberdade para se dedicar a outros projetos. De futuro “vou querer um projeto diferente, mas ainda não sei qual, vamos ver…”.
Sanjoanense criou grupo de autoajudano IPO
Apesar de Filipa Azevedo e Joana Mosi, cujos familiares estavam a lutar contra o cancro, serem a única ligação deste grupo de autoajuda ao livro, o próprio fundador, Luís Quintino, assumiu que “muitos diálogos e situações refletem muito a maneira como passei a ser depois do grupo”.
Neste momento está a ser construído um caminho no sentido de trazer este grupo para o IPO do Porto, mas ainda nada é certo. “Não está, mas gostava muito que viesse acontecer”, admitiu o fundador sanjoanense ao labor.
A sessão do grupo de autoajuda realiza-se de três em três semanas e é moderada por Luís Quintino que tenta sempre ser o mais justo e equilibrado no controlo de tempo de cada testemunho que é sempre pautado por “grande sentimento, emoção e sofrimento”. O grupo de autoajuda já realizou 60 reuniões, já recebeu a inscrição de 72 familiares e a participação de 255 pessoas em todas as reuniões.