Lembro ainda, era rapaz, anos idos, trinta e tal…
Do nosso século passado, de uma expressão banal,
Quando se inquiria alguém, sobre como ia a vida,
E logo nos respondiam sem hesitar, de seguida:
Quartel General de Abrantes, estará tudo como dantes.
Passado que foi quase um século, perto está dois mil e vinte;
Parece que as coisas andam, ao mesmo ritmo da sorte,
Tudo andará como dantes, bem ao estilo do pedinte:
Do vá com deus, deus o ajude e que o livre da morte…
Talvez um pouco diferente; poucos sabiam do rumo,
Dos destinos da nação; alguns só, e mais ninguém
Sabiam dos seus meandros, apenas e só os do “prumo”.
Tomariam as medidas, pouco certas, e até bem.
Hoje! tudo será igual e no geral se mantém;
O combate à corrupção? Continua, e, ela mais forte,
Decerto estará p´ra estar; qualquer lei que não convém
Tem o poder soberano, sobre a nossa triste sorte…
Violências! Tantas são, com seus ecos mais audíveis,
Ressoam aos quatro ventos num chamariz que reclama.
A sua manutenção, pelos tempos, imperecíveis,
Superfícies estiradas em tambores de pele humana…
Da Justiça! Não se fala, apenas p´ra a denegrir
Os seus atalhos são tantos, como contas de um rosário.
Neles se perdem conceitos, em algo mais a parir
Abortos por todos os cantos neste aflito calvário…
Senso! Bala de canhão a ressoar tão estrondoso.
Em miríades de estilhas, cortam como diamantes.
O que importa é o poder, lucro fácil, o pomposo
Estilo de vida fácil, tudo estará como dantes.
E a economia! Mas essa, perdeu-se o sentido dela;
Um balão, mito, uma bolha que rebenta e põe-nos loucos,
Esvaindo-se em ar e vento por tudo quanto é janela.
Voltando à penúria de antes entre os muitos que eram poucos,
Quartel General de Abrantes, tudo igual como era dantes.
Flores Santos Leite