“Se continuarem curiosos vão encontrar as respostas”, garantiu o cientista Carlos Fiolhais
O ciclo de conferências “Pensar Futuro” com o tema “O Direito à Ciência” teve como convidado o cientista Carlos Fiolhais que a começou e terminou da mesma forma ao “tirar o chapéu” ao Município e aos presentes, sábado passado, nos Paços da Cultura.
“É com muito afeto que estou aqui em S. João da Madeira” e “tiro-vos o meu chapéu imaginário para louvar o trabalho que fazem em prol da cultura” porque “precisamos de cultura na nossa vida”, começou por dizer Carlos Fiolhais.
E para falar do direito à ciência, o professor catedrático teve de falar da Declaração Universal dos Direitos Humanos que foi decretada a 10 de dezembro de 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), fundada a 24 de outubro 1945 e à qual Portugal apenas aderiu em 1955, e que hoje é liderada pelo português António Guterres.
O cientista destacou três dos 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
o primeiro que diz que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”; o 26º que afirma que “toda a pessoa tem direito à educação”; e o 27º que declara que “toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam”. “Vejam como isto está bem redigido. É ser parte do processo. A ciência é nossa e é um direito da humanidade”, constatou Carlos Fiolhais.
“O problema de Portugal foi a falta de escola e educação” depois de termos tido o mundo aos nossos pés no século XVI e de termos sido um dos países mais ricos em 1830, considerou Carlos Fiolhais, acreditando que este subdesenvolvimento se refletiu no crescimento lento do nosso país em comparação com os restantes da União Europeia.
Para o cientista é por demais evidente, por mais que seja suspeito ao falar no assunto, que “o investimento em ciência é igual a riqueza” comparando os investimentos entre os países da União Europeia em que Portugal continua, uma vez mais, aquém do necessário especialmente quando a “evolução da tecnologia de informação” demonstra que “vivemos tempos em que o progresso é avassalador”.
“Uma mistura inflamável de ignorância e poder”
O cientista recorreu a uma citação do livro “Um Mundo Infestado de Demónios” de Carl Sagan para descrever o que se está a passar no mundo. “É isso que está a acontecer. Uma mistura inflamável de ignorância e poder. O fascismo é oposição à ciência”, afirmou Carlos Fiolhais em relação às realidades que estão a ser vividas por determinados países.
Tendo em conta a crise ambiental que se vive um pouco por todo o planeta Terra, “estamos a precisar de mudar de vida – mas não para condições de vida pior – mas encontrarmos alternativas ao investir na ciência e na tecnologia”. “Temos direito à ciência, não podemos renunciar a esse direito. Se continuarem curiosos vão encontrar as respostas”, assegurou o cientista, concluindo que tal como dizia Einstein “o importante é nunca parar de questionar”, bem como “procurar consensos nas respostas”.
E a prova disso está na curiosidade contínua de Luigi Galvani, Alessandro Volta, Hans ChristianOersted, Michael Faraday, James Clerk Maxwell, Heinrich RudolfHertz, William Bradford Shockley, John Bardeen e Walter Houser Brattain que lhes permitiu chegar às suas descobertas, relembrou Carlos Fiolhais. Depois de um momento em que o público colocou questões ao convidado relacionadas essencialmente com a ciência, a humanidade e o ambiente, o cientista terminou a conferência a tirar um chapéu, desta vez real e dado pelo Município, a todos os presentes.