DESAPROVEITAR A GRETA
Eu gosto do nosso Presidente. E não é por ter destacado, enquanto professor-comentador na TVI, o livro História do Calçado que foi por nós editado. Nem por ter tido a oportunidade de, numa ocasional e breve “viagem de elevador”, ter podido constatar, ao vivo e a cores, que o senhor é mesmo tal qual parece: simpático e comunicativo mesmo com quem nunca viu na vida – como foi o caso. Não. Não é por isso. É porque sim. Porque ainda gosto das suas intervenções genuinamente pedagógicas sobre tudo o que à nossa volta mexe. Seja política, desporto, incêndios, acidentes, inundações, sem-abrigo, pobreza, educação, economia, emprego, desemprego, investimento, corrupção, sindicatos, patronato, ambiente, etc. E neste etc cabe mesmo tudo o que, assim de repente, nem sou capaz de me lembrar. O Presidente vai a todas. Há uma iniciativa do grupo A e quem lá vai comentar para as televisões? O Presidente. Há um incendio e quem vai lá comentar? O Presidente. Há uma vitória nacional no mundial da bugalhinha e quem …? O Presidente. E por aí fora. Por todo esse histórico foi com enormíssima perplexidade e surpresa que o ouvi dizer que não ia receber a Greta ao rio porque isso poderia ser considerado um aproveitamento político por parte dele. Leiam bem: aproveitamento político. É caso para perguntar: E o resto? O que é? O nosso Presidente não passa um dia sem ir a trinta e tal sítios dizer qualquer coisa para as televisões. Os jornalistas já nem dormem bem se não ouvirem a opinião dele sobre qualquer coisa que se passe em qualquer lugar. E ele gosta disso. Acho até que ele precisa disso. De continuar comentador. Assim sendo o senhor Presidente, o nosso Presidente, não foi receber a Greta por receio disso ser considerado aproveitamento político?
Balha-me Deus!
AI A PEGADA, A PEGADA DA MENINA…
E por falar em Greta. Não é um fenómeno que me desperte especial simpatia. Percebo que cada geração tem os seus ícones e esta menina pode ajudar a despertar consciências para o que cada um deve fazer pelo ambiente ou, pelo menos, não deve fazer contra o ambiente. Mas não mais do que isso. Acho que esta coisa de faltar à escola à sexta feira com o pretexto de fazer greve climática é o que no meu tempo se chamava fazer gazeta para ir jogar à bola. Ainda por cima os líderes dessas gazetas usam uns megafones de plástico que funcionam a pilhas poluentes. Não me convencem. Mais depressa o faz o empregado de um dos mais antigos restaurantes da cidade que há muitos anos retira a película de cortiça das tampas das garrafas de cerveja (as caricas) e separa ambos para reciclar, que há anos recicla as lâmpadas do restaurante que fundem, que há anos separa o vidro e o plástico para reciclar, que há anos, enfim, se preocupa com essas questões sem ter tido necessidade de andar por aí a alardear as suas responsabilidades ambientais. E são estes pequenos gestos que nós, simples cidadãos, devemos fazer. Não é por deixar de andar de avião, de automóvel ou de navio que se polui menos. O que é necessário é que a sociedade, a ciência e as empresas, encontrem soluções para que esses meios de transporte poluam menos. A Greta veio num barco que polui pouco. Mas atrasou-se mais de um dia. E ainda não mediram a pegada ecológica das centenas que a foram esperar, das televisões que se fartaram de transmitir, em simultâneo, a “espera” da menina com utilização, muito provável, de centenas de telemóveis com baterias poluentes e por aí fora…
Balha-me Deus!