No seu novo livro, “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço”, que foi apresentado em S. João da Madeira
Esta última sexta-feira, passado quase um mês desde a inauguração da exposição “PARAGENS onde as viagens cabem”, nannipinto regressou a S. João da Madeira, sua terra natal, e à Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo. Precisamente aqui, neste equipamento municipal, onde tem patentes as suas aguarelas até ao dia 8 de janeiro, a escritora sanjoanense, que vive em Braga, apresentou o seu novo livro “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço” (Edições do Auctor), lançado em maio deste ano.
Esta apresentação “em casa”, digamos assim, “foi a continuidade de muitas emoções…Desde a chegada de tantos amigos – alguns que não via há muitos anos – até à simpatia e amabilidade de Graça Neves, responsável pela Biblioteca Municipal”, contou nannipinto ao labor, sublinhando, também, as presenças do “Quarteto ‘Con Spirito’, vindo de Braga” e “que encheu o coração a todos”, e do “professor Emílio Ferreira, que uma vez mais apresentou o livro”. A todos, e através do nosso jornal, faz questão de agradecer “profundamente”.
“Estaremos preparados e educados para entender o Sofrimento como um caminho rumo à felicidade?”
Falando concretamente acerca de “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço”, a autora definiu-o “como sendo um diálogo interno que vai ganhando forma entre o narrador e o diário de Carlito, o palhaço”. “Foi uma forma encontrada para emergir das memórias que vão entre o encantamento da vida e a desilusão de viver por não saber o que isso quer dizer, – porque Carlito apenas quer ser ele próprio. Reflete uma idade de muitas discussões em monólogo desesperado, carregada duma crise existencial, que acredito ser de todos, duma forma ou de outra, e em qualquer momento da vida e por diversas vezes”, prosseguiu, completando: “Este livro fala da primeira grande crise existencial, que eu própria experimentei. Também diz que tudo passa, mas que enquanto se está, é bom, como anuncia o final do livro, através do diálogo entre Carlito e o Velho do circo”.
Questionada sobre qual é a principal mensagem que quer passar, nannipinto respondeu: “Aprender com o sofrimento”. Este seu livro “anda entre a tristeza e a alegria. As cores dele, através das ilustrações, equilibram estes estados dicotómicos. É um livro que exalta o sofrimento”, “um sentimento muito nobre”, que para muitos “é um tema tabu”, mas que para nannipinto não é. Aliás, em seu entender, “quando partilhamos o sofrimento encontramos melhor o seu sentido”.
“Já vivi algumas experiências, agora noutra idade, profundamente dolorosas, e o que descobri nesta dor foi a possibilidade de pensamentos novos e libertadores. Estou a falar da dor profunda duma perda!”, confidenciou ao labor, perguntando, de seguida: “Estaremos preparados e educados para entender o Sofrimento como um caminho rumo à felicidade?”.
Em “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço”, cujo nascimento remonta a 2016 quando “num determinado dia, comecei a fazer uma série de aguarelas, e eram palhaços”, “nannipinto trata, como ninguém, o sofrimento por tu, fala com ele, vive, indissoluvelmente, com ele, carrega-o e revela-o ao mundo com delicadeza, anuindo, sem receios, os atributos da transcendência da vida-mistério, sem fechar as portas gnósticas à religiosidade. É o preço do nascer para morrer agostiniano!”, escreve Emílio Ferreira, no posfácio.
“Que ‘palhaço’ é este? E que sofrimento é este que ‘trata por tu’?”
Mas, afinal, “que ‘palhaço’ é este? E que sofrimento é este que ‘trata por tu’?”. Em resposta a estas duas perguntas do nosso semanário, nannipinto foi perentória: “Que palhaço é este? Sou eu, Edson, Eduardo, Maurício… e todos aqueles que se identificarem nele. E o sofrimento, o meu próprio sofrimento”.“Na verdade, foram os dias de adolescência que se empoleiraram nas minhas memórias através das aguarelas que surgiam; inadaptação à vida, à morte e a mim. Via-me entre o céu e a terra, dentro dum ‘Eu’ que desconhecia, isolado e perdido… Era um sintoma de abandono num lugardesconhecido, que é a própria vida! Via-me obrigada a viver e eu não sabia o que isso queria dizer, ou seja, é o primeiro despertar para a existência e a crise dela!E dentro deste viver, só entendia uma forma: ser quem sou!”, continuou a explicação, rematando: “Embora o livro retrate a primeira fase da vida, ele pode ser o resumo até ao dia de hoje, porque me envolvi de muitas memórias…”.
“Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço” custa 12 euros e está à venda na biblioteca municipal Dr. Renato Araújo.
Escritora vai lançar dois novos livros em 2020
A digressão do livro “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço”, após o seu lançamento a 17 de maio em Braga, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, “tem sido uma experiência muito emotiva, desde o chegar a rever tantos amigos à partilha do tema”. Também na “cidade dos arcebispos”, nannipinto apresentou-o na Casa do Professor e, como revelou ao labor, tem “tido vários pedidos para apresentar o livro em escolas, para podermos debater o tema, o que me agrada imenso”. Além disso, estão também agendadas “algumas apresentações no Minho, em escolas e bibliotecas”.
Quanto às próximas obras da sua autoria a serem lançadas, tem uma – “Cartas do meu Jardineiro” – que já estava escrita ainda antes de “Dicotomia do Ser ou Diário dum Palhaço”, “mas este último impôs-se naturalmente e que faz todo o sentido para mim assim ser”, como explicou nannipinto ao nosso jornal, adiantando ainda que “Cartas do meu Jardineiro” “é um livro que revela o infinito desejo de mergulhar com toda a intensidade na vida; que é o emergir dum processo de autoconhecimento, através das sucessivas memórias que compõem a vida do ser humano”. “Será editado no próximo ano, mas ainda sem data certa”, acrescentou a escritora natural de S. João da Madeira.
Quanto ao “LPH, livro de Poemas Haiku”, “deverá ser apresentado ao público no mês de junho”.