A mensagem da peça “A Arte de Não Ser Invisível” do grupo de teatro Recriarte da CERCI – Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos com Incapacidade de S. João da Madeira – foi simples e direta para todos os que estiveram presentes no 40º aniversário desta instituição, dia 11 de dezembro, na Torre da Oliva.
À medida que dois atores interpretavam médicos que conversavam sobre o futuro de pessoas portadoras de síndromes como Down, Angelman, Asperger, Autismo, Turner, Prader-Willi, Edwards, Trissomia21, entre outros, os restantes atores exibiam um cartaz em que estava escrito cada um destes síndromes mesmo em frente ao seu rosto. “Ninguém traz um selo na testa a dizer quanto vale” foi dito em alto e bom som ao longo da peça, dando assim voz aquilo que tantas e tantas vezes deve passar pela cabeça das pessoas portadoras destas síndromes, mas que muitas vezes não o conseguem dizer. E logo a seguir os médicos especulam sobre o futuro destas pessoas: “é uma vida de limitações. É melhor seguirem a vida como se fossem invisíveis. Eles são imprevisíveis em situações sociais. O mundo é perigoso para eles. Não está preparado para eles nem eles para ele. O que interessa é proteger e resguardar. O interesse deles é o nosso principal interesse”.
O que também interessa é aquilo que pensam as pessoas que portam estas síndromes. A prova disso está na forma como acabou a peça de teatro com os atores de costas viradas para o público com diferentes letras nas suas costas que juntas diziam: “eu sou capaz”, complementada pela mensagem dita em alta voz: “Eu não sou invisível, não me vou esconder, eu sou capaz. As limitações que tu vês não são as minhas, mas as tuas”.
E esta foi a mensagem transmitida entre quatro paredes a cada um dos presentes com a esperança de que sejam capazes de transmiti-la sem limitações.
O 40º aniversário contou ainda com um momento de poesia do grupo “Voz Atrevida” da CERCI que é um dos participantes da Poesia à Mesa em S. João da Madeira e um momento musical com o violinista “La Mouche” antes de serem cantados os parabéns e servido o bolo.
“A mensagem foi muito bem transmitida e precisa de ser transmitida no dia a dia por todos nós”
“A CERCI continuará viva”, garantiu o seu presidente António Cunha, considerando como “positivo” todo o trabalho que tem sido feito ao longo destes anos pelo “engrandecimento” desta instituição criada a 11 de dezembro de 1979 por um grupo de cidadãos de S. João da Madeira para promover o desenvolvimento social, familiar e profissional de pessoas portadoras de deficiência e incapacidades, maximizando as suas potencialidades e otimizando a sua qualidade de vida e bem-estar.
“Em Aveiro vemos com muito orgulho o que é feito nesta instituição” para que “a vida destas pessoas seja feliz” e “acompanhamos muito de perto as dificuldades,” que estão disponíveis a “ajudar a resolver com o apoio do Município e da comunidade”, começou por dizerAntónio Mendonça, diretor do Centro Distrital de Aveiro do Instituto da Segurança Social, assegurando que “o Estado vai encontrar soluções” para alguns destes problemas e adiantando que alguns deles poderão vir a ser resolvidos com o projeto “PARES”.
Já “amensagem foi muito bem transmitida e precisa de ser transmitida no dia a dia por todos nós”, assumiu António Mendonça em relação à peça de teatro, pedindo a cada um para “encarar a deficiência de forma pragmática sem o estigma da deficiência, mas como pessoas de pleno direito”. Este é “o grande desafio educacional e cultural que tem de ser feito na sociedade. Não depende só do Estado, da autarquia, das instituições, mas de cada um de nós. Somos todos cidadãos de pleno direito”, concluiu o diretor da Segurança Social do Centro Distrital de Aveiro.
O Recriarte em palavras
Eu sou capaz de…
“ser um grande amigo para o João”, Tiago Dias, 29 anos
“expressar emoções e afetos através do corpo”, José Miguel Santos, 25 anos
“fazer apostas no Placard”, Ferdinand Santos, 32 anos
“decorar textos para peças de teatro”, Valdemar Martins, 45 anos
“arrumar tudo direitinho o que vejo fora do sítio”, Mário José Zenha, 30 anos
“ganhar medalhas em competições de ginástica”, André Macedo, 33 anos
“ajudar os meus colegas quando precisam”, Fábio Gomes, 33 anos
“fazer apresentações em público”, João Paulo Santos, 27 anos
“dançar”, Patrícia Dias, 37 anos
Patrícia Dias, 37 anos – Eu sou capaz de dançar.
CAO poderá aumentar capacidade
Lista de espera para esta valência era de 32 candidatos até novembro passado
A CERCI tem 60 utentes distribuídos pelas respostas sociais Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) 1 e 2, 20 utentes em cada, Formação Profissional, com outros 20, e nove no Lar Residencial que estão inseridos nas respostas anteriormente mencionadas.
A média de idades é de 42 anos no CAO 1 e de 33 anos no CAO 2 e os utentes são de S. João da Madeira e de freguesias dos concelhos de Santa Maria da Feira e de Oliveira de Azeméis.

Para todos os utentes e respetivos familiares, a CERCI é “bastante importante para a cidade”, afirmou o presidente António Cunha, depois da cerimónia, à comunicação social.
Depois de interpelado em relação ao fecho do Centro de Atividades e Tempos Livres (CATL), António Cunha manteve a posição de não prestar mais declarações do que as do comunicado que enviou em edição anterior às redações. “Não estou aqui hoje para falar sobre o CATL, mas do aniversário da CERCI”, disse o presidente aos jornalistas.
Já apanhado desprevenido sobre este assunto foi António Mendonça. “Não tenho conhecimento disso” e “temos excelente relação com a CERCI”, disse o diretor da Segurança Social do Centro Distrital de Aveiro. De qualquer das formas, o certo é que “temos de tentar que os cerca de seis utentes não sejam prejudicados e ver que consequências pode ter para a própria instituição”, acrescentou António Mendonça. De acordo com António Cunha, a informação de término do acordo de cooperação entre a CERCI e a Segurança Social para o funcionamento do CATL já foi enviada, mas pelos vistos ainda não tinha sido, pelo menos até quarta-feira passada, encaminhada para António Mendonça.
Entre os assuntos que António Cunha quis falar estão o Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) e o Lar Residencial.
“Vamos aumentar o CAO para ver se conseguimos pô-lo a funcionar com 10 utentes em cada valência”, adiantou António Cunha. Caso seja possível este aumento, o CAO passará a dar resposta a 60 pessoas em vez das 40. A lista de espera para esta valência era de 32 candidatos até novembro de 2019.
“Instituição acompanhará os utentes e suas famílias até encontrar novas soluções”
Já os seis utentes do CATL que são de S. João da Madeira e das freguesias de S. Roque, Nogueira do Cravo e Milheirós de Poiares, dos concelhos de Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira, respetivamente, têm idades compreendidas entre os 14 e 18 anos e “vão continuar na CERCI a desenvolver o PIT (Plano de Individual de Transição), duas tardes por semana, de acordo com o acordado com as escolas que frequentam”, disse a diretora técnica Dulce Santos, assegurando, tal como o presidente António Cunha em edição anterior do labor, que “a instituição acompanhará os utentes e suas famílias até encontrar novas soluções”. No CATL “não temos utentes em lista de espera”, deu a conhecer Dulce Santos ao nosso jornal.
Projeto do Lar Residencial continua em execução
Mas poderá ter oportunidade de financiamento em 2020
A construção do tão almejado Lar Residencial nas instalações da CERCI de S. João da Madeira poderá ter uma oportunidade de financiamento no início do próximo ano através do programa PARES – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais que visa a remodelação de infraestruturas ou a construção de novas para aumentar a capacidade de resposta nas áreas da infância e juventude, pessoas com deficiência e população idosa, mencionado por António Mendonça durante a sua intervenção na cerimónia de aniversário da CERCI.
Depois do programa PARES 2.0 ter estado com candidaturas abertas até novembro passado para a criação de novas tipologias em creches, tal como António Mendonça mencionou, está prevista a abertura de candidaturas para a criação ou melhoramento de infraestruturas de instituições para deficientes e idosas em 2020.
Nesse sentido, quisemos saber qual o ponto de situação do projeto para a construção do Lar Residencial.
“A câmara municipal está a executar o projeto que está em fase final e esperamos que haja oportunidades de candidatura para remodelação/construção de IPSS” e que “o Governo abra uma linha financeira” porque “sem comparticipação do projeto não conseguiremos executar o projeto”, assumiu António Cunha.
52 candidatos em lista de espera
A CERCI tem um Lar Residencial que resultou da união e adaptação de três apartamentos cedidos pela Câmara Municipal de S. João da Madeira, conforme as condições exigidas pela Segurança Social e funciona desde 2005.
Neste momento, nove utentes da CERCI vivem neste Lar Residencial. Esta valência tem 52 candidatos em lista de espera, um número que poderá ser minimizado com a construção do novo Lar Residencial nas instalações da instituição.
Até ao fim do ano
CERCI vai comprar carrinha em vez de miniautocarro
Um dos desígnios da CERCI era a compra de um autocarro, mas vai optar pela compra de uma carrinha de nove lugares para evitar constrangimentos “financeiros,” uma vez que o miniautocarro é mais caro, e de “espaço” em relação ao espaço existente nas instalações, esclareceu António Cunha.
“O que está a previsto é a compra de uma carrinha de nove lugares que satisfaz neste momento plenamente as necessidades da CERCI”, revelou o presidente, adiantando que a intenção é “comprá-la até ao fim do ano”.