Da feitura de ferramentas passou para o laboratório e terminou como encarregado da fundição

Os “Dias da Memória” receberam pessoas que ao longo dos dias 17, 18 e 19 de janeiro deram testemunhos, partilharam recordações, fotografias, documentos sobre as indústrias ligadas ao calçado, à Viarco e à Oliva.

Uma dessas pessoas foi José Reis que passou durante a manhã de sábado passado pela Torre da Oliva. Tem 70 anos, é de Escapães e com apenas 16 anos, depois de acabar a Escola Industrial em S. João da Madeira, foi estagiar para a Oliva.

“Eu trabalhei a minha vida toda na Oliva. Comecei a trabalhar a 1 de setembro de 1966 e saí daqui a 31 de março de 2005”, contou José Reis ao labor.

Nos primeiros oito anos e meio trabalhou na Feitura de Ferramentas até que teve de ir durante 36 meses para a tropa, 27 dos quais na Guiné e os restantes, de 15 de abril de 1971 a 19 de junho de 1974, nas Caldas, em Sacavém, em Évora e em Abrantes.

Esta primeira experiência de trabalho “não custou porque entrei na Feitura de Ferramentas, estava à vontade e estava a fazer aquilo que gostava. Acabei por ser serralheiro de bancada, fresador, torneiro”.

Nesta altura, “posso dizer e tenho a prova – porque tenho ali os recibos todos dos últimos três a quatro anos antes de ir para a tropa – que o maior aumento era o meu. 22 ou 24 tostões. Qualquer coisa assim. Quando fui para a tropa já ganhava 96 escudos. Já ganhava mais do que o meu falecido pai”, revelou este antigo trabalhador da Oliva.

Depois da tropa regressou à Oliva. A 2 de janeiro de 1975 entrou para o laboratório e por lá esteve durante 10 anos. “Baixei de grau. Estava no grau sete e baixei para o oito. Mas, felizmente, passado algum tempo passámos para o grau seis”, relembrou José Reis, explicando que o seu trabalho ali começou “com a espectrometria em que fazíamos análises do ferro na fundição” até que passou para “os ensaios mecânicos em que testávamos a resistência do ferro, entre outras coisas”.

José Reis na Sala de Espectrometria

Ao mesmo tempo em que nos contava a sua história, José Reis tinha nas mãos o livro “Oliva – Memórias de uma Marca Portuguesa” de Paulo Marcelo, onde aparece a trabalhar no laboratório, na página 92. Curiosamente, José Reis tem uma fotografia igual à do espectrómetro que está na página 96 deste livro com a diferença de que na sua está a trabalhar com este equipamento (ver foto).

 

“Já estava saturado” com a “falta de pessoal”

Nos últimos 20 anos, desde 2 de maio de 1985 até 31 de março de 2005, José Reis trabalhou como encarregado da fundição, fornos e moldação na Oliva.

“Fui-me embora chateado, chateado não, já estava saturado” com a “falta de pessoal. Não tínhamos muito pessoal. Se alguém faltasse o trabalho tinha que se fazer na mesma”, revelou José Reis ao labor.

Chegou a fazer os três turnos – das seis às duas, das duas às dez e das dez às seis – que variavam de 15 em 15 dias. E durante um tempo tiveram diversos horários. “Cheguei a trabalhar 48, 45, 42, 40 horas semanais. Quando chegámos às 40 já estávamos mais à vontade”, assumiu José Reis.

Ao fim de 38 anos e meio de trabalho sempre na mesma empresa, “alguns calos, algumas mazelas, algum pó e uma surdez acentuada” continuam consigo. Apesar de ter saído saturado, “felizmente, com a minha pensão estou satisfeito”, admitiu o antigo trabalhador da Oliva ao labor.

Documentos, fotografias, postais, boletins informativos cheios de história

Em relação à iniciativa “Dias da Memória”, “acho bem”, por isso é que “passei por aqui para lhes mostrar aquilo que guardei de todos estes anos em que estive na Oliva”, afirmou José Reis.

Na caixa de memórias deste antigo trabalhador da Oliva, encontramos muita história. Como o seu plano de estágio, os documentos de identificação ligados à empresa e ao sindicato, fotografias a trabalhar num dos edifícios, nas competições desportivas em que representava a Oliva, acompanhadas de recortes de jornais com os resultados, os recibos de vencimento de todos os anos de trabalho, as folhas de comunicação de faltas, os postais e os boletins informativos da Oliva (que podem ser vistos na galeria anexa a esta notícia em www.labor.pt).

 

“Dias da Memória”

Acolheram mais de 180 pessoas

94 foram entrevistadas, algumas em casa, outras na Torre da Oliva e na Misericórdia

44 relacionadas com a Oliva

26 relacionadas com o lápis

19 relacionadas com o calçado

sem especificação

Este projeto está inserido num outro, “Memórias para Todos” da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, é promovido pelo Município de S. João da Madeira através do Turismo Industrial, em parceria com a associação KEEP e a Oliva Creative Factory, e irá permitir a visibilidade de toda a informação recolhida numa plataforma digital que poderá ser consultada em www.memoriasparatodos.pt.

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