“E sinceramente é muito triste ouvir ambulâncias a passar a toda a hora”, contou Sofia Silva ao labor
Qual o impacto do novo coronavírus no teu local de trabalho?
Estou a fazer “smartworking” desde o início de março até 15 abril no mínimo e a usar um dia de férias por semana.
Quais as tuas funções e de que forma estão a ser afetadas?
Como sigo lojas na Ásia e “Middle East”, neste momento deveria estar a viajar nessas áreas e devido à Covid-19 não é possível.
Qual o impacto deste surto no teu dia a dia, em particular, e nas infraestruturas de Itália, em geral?
Eu, o meu marido e a minha filha estamos em quarentena há três semanas. Neste momento, os hospitais estão a abarrotar de doentes. Para além dos transportes que funcionam com um número máximo de entradas ao mesmo tempo, os supermercados e as farmácias são os poucos serviços abertos. Os supermercados estão a fechar ao domingo e a reduzir o horário nos outros dias.
Como tem sido estar quase há um mês em quarentena?
Quando a quarentena foi declarada, ou seja, quando Itália ficou “red zone” – ninguém entra, ninguém sai – acho que as pessoas começaram a ficar mais tempo fechadas em casa. Um dia antes de isto ser oficial, e com um rascunho do decreto que saiu para as notícias, tivemos pessoas em Milão que entraram em pânico e muitos “imigrantes” do Sul que residiam em Milão apanharam comboios para a cidade de origem. Este comportamento gerou bastante polémica e com razão porque se alguma dessas pessoas fosse infetada passaria para o Sul, onde existiam menores condições sanitárias comparadas com o Norte.
Para mim, inicialmente foi um “não querer acreditar no que estava a acontecer”, seguido de uma negação, mas agora já estamos quase há um mês em casa e já criámos uma rotina nossa. Custa muito não poder ir passear, mas é para o bem de todos. Tanto eu como o meu marido estamos em “smartworking” há quase quatro semanas com uma filha de quase dois anos para cuidar porque todas as escolas foram fechadas há um mês. É muita coisa e devo dizer que é muito cansativo.
“Esperemos que em breve tudo passe e volte à normalidade, aquilo a que nunca damos valor e que é tão bom”
E ver a forma como este vírus está a atacar Itália?
Lá fora está tudo fechado. Só mesmo farmácias e supermercados abertos. Ao domingo fecha tudo, mas ainda vejo algumas pessoas na rua. Felizmente poucas. Enquanto não tomarem medidas mais restritivas a quarentena vai continuar.
Itália é um dos países mais afetados pela Covid-19, os hospitais estão cheios e sinceramente é muito triste ouvir ambulâncias a passar a toda a hora. Estou convencida que em breve vai melhorar. Afeta a vida de tudo e de todos, há muita gente com férias forçadas porque as empresas fecham, outras em “smartworking”, e quem é empreendedor tem de fechar o negócio, sem entrada de dinheiro. Esperemos que em breve tudo passe e volte à normalidade. A normalidade, aquilo a que nunca damos valor, e que é tão bom. Outra coisa que tento fazer é viver um dia de cada vez, sem pensar quando é que tudo isto vai acabar porque na realidade não se sabe. Inicialmente era até três de abril, mas há dois dias anunciaram que era até 15 de abril. O melhor é encarar tudo de forma positiva e viver o tempo com a família que normalmente nunca temos. Quando estamos felizes o tempo passa mais rápido, se bem que há dias em que estamos mais em baixo.
De que forma estás a acompanhar a evolução do vírus em Portugal?
Todos os dias através da família e dos amigos.
Tens estado em contacto constante com familiares?
Sempre.
Para quando prevês regressar a Portugal?
Gostaria de ir quando tudo isto acabar e abraçar bem forte os meus pais, a minha família e os meus amigos. Tenho muitas saudades.
Covid-19 em Itália*
Até ao momento, este é o país mais afetado da Europa e, a seguir à China, do Mundo
69.176 casos confirmados
6.820 mortes
8.326 recuperados
*Dados atualizados até ao fecho da edição que podem ser consultados em https://www.worldometers.info/ ou https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda7594740fd40299423467b48e9ecf6