Tomás Francisco fez uma serenata à madrinha no Domingo de Ramos
Diana Francisco praticamente não sai de casa “há mais de dois meses”. Mesmo antes do isolamento social imposto como medida de combate ao novo coronavírus à generalidade das pessoas, mas sobretudo a doentes de risco como ela, que é asmática, esta jovem de 30 anos, de S. João da Madeira (SJM), viu-se obrigada a ficar “em repouso absoluto” poucas semanas antes do nascimento do seu primeiro filho. Sebastião nasceu a 13 de fevereiro. Desde então, e agora devido à Covid-19, ele e a mãe só têm saído para ir às consultas (ver caixa).
Quando o companheiro lhe pediu, neste Domingo de Ramos, “para ir lá baixo buscar a carta da água à caixa de correio”, Diana estava longe de imaginar o que a esperava. Se bem que já parecia pressentir alguma coisa. Ela, que quase sempre anda de pijama, tomou banho e até vestiu “uma roupinha”, o que não é habitual.
É verdade que “a minha tia [e mãe do afilhado] já me tinha dito que iam preparar uma surpresa”, mas Diana garantiu ao labor que “nunca pensei que fossem sair de casa”. “Estava à espera de um desenho ou de uma carta”, acrescentou.
Inicialmente, a serenata era para ser no exterior, com a madrinha a ouvir o afilhado à varanda. Só que a chuva fez mudar os planos. Tomás cantou para Diana no interior do prédio. Para além disso, deu-lhe “um ramo e duas prendas para o bebé”.
Madrinha e afilhado já não estavam juntos há um mês
Já com o afilhado, Tomás, e os pais à espera no hall de entrada do prédio “para aí há uns 20 minutos”, Diana lá desceu as escadas, para evitar o elevador, e qual não foi o seu espanto ao ver os três! Madrinha e afilhado já não se encontravam há um mês. A última vez tinha sido a 6 de março, dia do aniversário de Diana. Depois disso têm contactado todos os dias, mas apenas através das redes sociais.
“Peguei no ramo e o Tomás começou a cantar. Ao início, ele nem conseguia olhar para mim nem cantar”, contou ao nosso jornal esta professora de Educação Física e atleta, confidenciando ainda que “nem sei como não chorei”. Segundo descreveu, Tomás “estava muito emocionado” e a ela “só apetecia estar ali a abraçá-lo” tempos infinitos.
Para além de Tomás, Diana tem mais três afilhados. Normalmente, os mais novinhos, inclusive Tomás, vêm passar uns dias com ela por altura das férias de verão e da Páscoa. “Têm um quartinho só para eles, fazemos sempre muitos programas divertidos e eles gostam muito”, coisa que este ano não aconteceu. Mas não é por isso que se deixam de amar e de estar ligados.
“Estou muito feliz”
Falámos com Tomás na segunda-feira passada. E, verdade seja dita, mesmo não o vendo, pelo facto de o contacto ter sido à distância, a nossa reportagem sentiu o quão estava feliz. Aliás, feliz não. “Muito feliz”, como começou por dizer.
Tomás, de 10 anos, mora em SJM há poucos meses. Frequenta o 5º ano na Escola Básica e Secundária Oliveira Júnior e não há dúvida que é um menino “fora de série”. A ideia da surpresa partiu dele. “Já tinha visto algo parecido nos Morangos com Açúcar e decidi fazer uma coisa do género, mas mais natural”, relatou ao labor, assegurando que quando contou aos pais o que queria fazer “eles acharam incrível”.
Tomás, que não sabe tocar “ainda muito bem viola”, ensaiou durante duas semanas para cantar à madrinha a canção “Canta, amigo, canta”, de António Macedo, que “foi a primeira música que o pai me cantou”. Confessou que “ao princípio estava muito nervoso”. Ficou assim ao ver Diana ao abrir a porta. Mas depois lá acabou por cantar e o resto já se sabe. Trata-se de uma história com final feliz, que ficará para sempre gravada na memória e no coração de ambos. “Fiz o que fiz, porque já tinha saudades do sorriso da minha madrinha! Aquele sorriso entra mesmo em mim!”, revelou.
Hoje, dia 9 de abril, Tomás completa 11 anos. A equipa do jornal labor deseja-lhe uma longa vida, repleta de momentos especiais como este último que viveu com a madrinha.
Como é ser uma recém-mamã em tempos de pandemia?
“Estou fartinha disto. Estou ansiosa que o ‘bicho’ [Covid-19] ‘morra”, desabafou Diana Francisco. Contando com as semanas em que esteve “em repouso absoluto” para que o seu bebé não nascesse antes do tempo e as em que está em isolamento social devido ao novo coronavírus, esta recém-mamã está em casa “há mais de dois meses”. Depois de o Sebastião nascer, “ainda tive algumas visitas”, o que já não acontece desde que a pandemia também atingiu o nosso país.
Os dias vão-se passando, porque “estamos bem e isso é o que verdadeiramente interessa”. Mas Diana não vê a hora de poder sair à vontade com o Sebastião, assim como de fazer os seus treinos de basquetebol ao final da tarde.
Com “as hormonas ainda à flor da pele”, como descreveu, esta jovem sanjoanense admitiu à nossa reportagem que tem “momentos de tudo”. Não escondeu, por exemplo, sentir “medo” agora que o companheiro regressou ao trabalho. Lá em casa, cumprem-se todas as regras. “Quando ele chega a casa, deixa os sapatos lá fora, toma banho e só depois é que estamos juntos, mas há sempre receio, porque contacta com muitas pessoas”, disse.
Diana e o companheiro ainda falaram na possibilidade de “eu ir para casa dos meus pais”. Só que como estes também ainda estão a trabalhar, o risco seria idêntico. Diana acabou por optar por ficar no seu “cantinho”, onde “tem todas as coisinhas do menino”.