Como surgiu o interesse pela ginástica?
Por sorte, na verdade. A minha irmã, que é três anos mais nova, foi escolhida na escola por um treinador porque viram nela aptidão para a ginástica. No dia em que ela foi experimentar também me perguntaram se queria. Acabei por ficar até ao ano passado.
Qual o balanço que faz até ao momento do seu percurso desportivo?
É difícil resumir 20 anos de carreira gímnica. O mais importante para mim foi que a ginástica me ensinou a trabalhar por objectivos e metas, a organizar o meu tempo com método e disciplina e sempre com a mentalidade de não desistir, resistir e persistir.
Qual o momento mais marcante desses 20 anos?
Foi sem dúvida conseguir colocar o meu nome – ’The Romero’ – no código de ginástica FIG num dos momentos mais difíceis, mas necessários, mesmo antes de terminar a carreira.
“Termino feliz e concretizado com o que alcancei”
Até ao momento cumpriu os objectivos que definiu quando viu as potencialidades que tinha na ginástica como atleta?
Refletindo por tudo o que passei, sim. Termino feliz e concretizado com o que alcancei. Claro que fica sempre o ‘bichinho’ de não ter participado nos Jogos Olímpicos, que é o sonho de qualquer atleta, mas a ginástica atual está a um nível elevadíssimo. O que significa que para qualificar é preciso estar no top mundial.
Há cerca de três anos foi convidado para ser padrinho do Clube A4. Porque aceitou?
Simples. Porque quero inspirar positivamente os mais novos. Depois de uma vida dedicada à ginástica, tanto como atleta como treinador, marcar a vida de crianças com os ensinamentos e valores que a ginástica me proporcionou é algo que me preenche o coração.
Mais tarde integrou o quadro de treinadores do clube. Como define a colectividade e o trabalho que ela desenvolve?
Acho que o Clube A4 é uma escola que consegue criar emoções e memórias positivas em todos os pequenos e pequenas que queiram aprender ginástica.
Em S. João da Madeira o Clube A4 nasce com o propósito certo num projeto gímnico que continua a crescer. Apesar do espaço ser pequeno, pouco a pouco tudo se está a construir para melhorar a qualidade do espaço e a quantidade de atletas e proporcionalmente aumentar as emoções e ensinamentos para os mais pequenos.
“Acho que o Clube A4 é uma escola que consegue criar emoções e memórias positivas”
Mais recentemente foi selecionado para fazer parte do circo de Macau. Como surge este projeto?
Há mais de dois anos que sempre tive em mente candidatar-me para o Cirque du Soleil. Sempre fui apologista de tentar, sabendo que a possibilidade podia ser um sim ou não. Através de amigos acabei por conhecer este show em Macau – The House Of Dancing Water e vi que estavam a fazer casting. Enviei a candidatura e para surpresa minha, mais tarde, fui selecionado.
Alguma vez pensou que viria a integrar o circo de Macau quando se candidatou?
Havia sempre a possibilidade, mas na minha cabeça pensava que seria difícil escolherem-me. Em simultâneo estava também com outros projetos em mente em Portugal, inclusive terminar de entregar a minha tese de Arquitetura da FAUP. Portanto, acabou por surgir como uma surpresa, mas algo que não poderia recusar. É uma oportunidade única na vida de qualquer ginasta que está prestes a acabar a sua carreira.
Como reagiu quando soube que iria fazer parte do projeto ?
Fiquei surpreso, mas muito feliz. Depois de uma carreira tão extensa como ginasta, ser escolhido para fazer parte de um circo desta envergadura, com um contrato de três meses que incluiu viagem, casa, salário e toda formação em Macau, o ‘sim’ é a única resposta possível para alguém como eu, que não gosta de perder oportunidades. Depois de entregar a tese sempre tive em mente sair de Portugal, para conseguir melhor qualidade de vida fazendo o que gosto. E esta oportunidade foi o meu cartão de embarque inesperado.
Como descreve esta aventura que tem pela frente ?
Posso dizer que estou a viver um dos melhores momentos da minha vida, numa altura em que o mundo está numa luta intensa contra uma pandemia.
O contrato era suposto terminar em meados de março, mas com o aparecimento do COVID-19, a empresa fez extensão do contrato até final de junho para continuar a formação do grupo escolhido.
É impressionante ver as regalias e a vida que estou a ter aqui em contraste com o que se está a passar em Portugal, principalmente numa altura como esta. Foi uma oportunidade única que terminou por ser uma sorte, pois ninguém previa uma pandemia mundial. E o governo em Macau mantém a salvo os seus cidadãos e trabalhadores, mesmo em situações como estas.
Todos os dias aprendo algo novo, há diferentes tipos de treino.
“Estou a viver um dos melhores momentos da minha vida”
Qual o objectivo que tem definido?
O único possível, ficar com o contrato e integrar o show no The House Of Dancing Water.
Como se sente ao deixar o trabalho do Clube A4?
Triste, pois afeiçoei-me aos atletas que treinei no curto espaço de tempo que dei treino, mas sei que estão em boas mãos e poderão sempre contar comigo e com a minha futura visita.
Projetos para o futuro?
Objectivamente integrar o show aqui em Macau e terminar a tese, que está para breve.
Rita Veloso, presidente do Clube A4
“Era uma daquelas oportunidades da vida que não se pode dizer que não”
Há cerca de três anos o Clube A4 abria portas e apresentava como padrinho o atleta da Seleção Nacional de Ginástica Artística Masculina Diogo Romero, que mais tarde viria a integrar o quadro de treinadores da coletividade. Para a fundadora Rita Veloso a saída do ginasta, para abraçar um projeto desta envergadura, foi encarada com um “misto de alegria e tristeza”. “Por um lado ‘perdemos’ um mega treinador a meio da época que todos adoram, e não é fácil encontrar treinadores, mas por outro foi um grande orgulho termos lá fora, no melhor circo do mundo, o nosso padrinho”, explica a presidente do Clube A4, que para colmatar a saída de Diogo Romero a coletividade “contratou mais treinadores e reestruturou as classes”. “Os pais foram super compreensivos e acompanham as conquistas do nosso treinador à distância, tal como os ginastas”, refere a dirigente, garantindo que todos perceberam que “era uma daquelas oportunidades da vida que não se pode dizer que não”.