Não era slogan, mas está a ser. Este abril vai abrir um maio. Este abril que nunca mais acaba para que possamos voltar a viver um abril como temos vivido nos últimos 46 anos. E um maio, um junho e por aí fora. Estamos a ficar cansados desta coisa nova a que chamam confinamento. Que obriga a maior parte de nós a estar num sítio que não é um estádio e não vai ser em breve que lá iremos. Ao estádio. Estamos antes num estado tal que agora é que nos apetecia mesmo desfilar em qualquer lado. Ao sol. Seja em abril ou num mês qualquer. Com cartazes ou sem cartazes. Até com flores. Qualquer flor. Talvez cravos porque o abril é deles. Cravos. Que raio de pesadelo nos havia de aparecer no meio do sonho de dias bons que estávamos a ter. Talvez por isso este abril tenha um simbolismo diferente. Um que reforça o sentimento de liberdade que queremos voltar a ter. Mas liberdade mesmo. De voltar a ir trabalhar porque esta coisa de trabalhar em casa por força do isolamento forçado não nos enche a alma. Precisamos de argumentar cara a cara. De discutir. De voltar a ver filas de trânsito apesar do CO2. Por mais surreal que possa parecer queremos voltar a ver a Greta a protestar. Queremos voltar a estar na fila da gasolina e não na do supermercado ou da farmácia. Todos queremos que o maio chegue depressa porque temos saudades do antes de abril. Mas do antes de abril há dois ou três meses atrás. Não do outro antes de abril. Por isso comemorar abril hoje é relembrar o de 1974, é saudar o que de bom todos conquistamos, mas é também o de cerrar fileiras para que o mês acabe depressa. Queremos que este abril acabe para que todos os outros meses voltem a ser… abril!
O Abril que Maio vai abrir
Editorial