A liberdade conquistada pela revolução de 25 de Abril de 1974 foi celebrada de forma livre, mas condicionada ao interior da casa de cada um.

Para além da referência aos direitos conquistados na Revolução dos Cravos, como era de esperar, a pandemia Covid-19 esteve presente em todos os discursos previamente gravados e divulgados na página do Facebook da Câmara Municipal (CM) de S. João da Madeira (SJM). Esperando que este seja o único ano em que vivemos assim, socialmente ativos através das tecnologias, mas fisicamente distantes, vamos dar o protagonismo ao novo coronavírus porque quer queiramos quer não o seu capítulo está ser escrito na nossa história.

A celebração do 25 de Abril deste ano foi feita “num tempo especialmente difícil e complexo” em que “o mundo está a ser atacado por uma pandemia que também chegou, infelizmente, ao nosso território”, começou por dizer o presidente da câmara, Jorge Sequeira, assumindo que “subitamente descobrimos que somos vulneráveis e frágeis e que o nosso poderio industrial, científico e tecnológico tem limites e não nos assegura proteção contra todos os fenómenos da natureza”.

Para o presidente da câmara, “a forma de superar esta crise assenta como sempre nos melhores valores da humanidade: a solidariedade e a cooperação entre todos aqueles que asseguram a continuação de serviços essenciais para o funcionamento regular da nossa sociedade”.

Nesta luta, a liberdade também é essencial. Sem ela, “o direito à informação tão vital não existiria, o que bloquearia o progresso científico e o conhecimento pelos cidadãos das características e da evolução da doença”. Por isso, pelos direitos conquistados em Abril graças ao sacrifício de tantos portugueses, “saibamos hoje em liberdade e cooperação, no gozo da liberdade e da democracia, vencer a batalha contra esta pandemia com o desígnio fundamental de jamais deixar alguém para trás”, apelou Jorge Sequeira.

Por sua vez, Clara Reis, presidente da Assembleia Municipal, destacou o facto desta data tão importante na história do nosso país estar a ser celebrada pelos municípes que estão “livremente presos em suas casas” e aproveitou para “enaltecer o valor de outras prisões sofridas por aqueles que a elas se sujeitaram para nos oferecerem a liberdade”. Também deixou uma palavra de agradecimento a “todos os sanjoanenses” por “serem agentes de saúde pública com responsabilidade e civismo” e “a todos os que nos têm protegido e corrido riscos pessoais a favor do nosso conforto e saúde”. Clara Reis pediu ainda a todos que cantassem “até que a voz doa” a “Grândola, Vila Morena” de José Afonso, uma das canções da Revolução de Abril, junto à sua janela ou varanda, entre as 15h00 e as 16h00, altura em que dois carros com altifalantes ecoaram a mesma nas ruas sanjoanenses, para que fosse possível fazer “passar a todas as gerações a força da canção e da música como expressão de luta e de conquista” e de apelo “à fraternidade e à solidariedade não só do nosso povo, como de todos os povos do mundo”.

Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde e educação”

Um outro exemplo da liberdade e da democracia a funcionar é o projeto Assembleia Municipal Jovem (AMJ) que tem permitido, nos últimos dois anos, aos alunos das escolas sanjoanenses participar de forma ativa no trabalho desenvolvido pela CM de SJM.

Tudo isto é devido a esta conquista revolucionária que se deu há 46 anos. A democracia foi conquistada em 1974 pelos Capitães de Abril, mas foi também o resultado de muitos anos de luta, sofrimento e resistência contra a ditadura”, reconheceu Alexandre Gomes, representante da AMJ, demonstrando assim, em seu nome e de todos os jovens, uma “homenagem a uns e a outros” porque “sem o seu esforço não estaríamos a viver em liberdade nem em democracia”.

Apesar de ser jovem, Alexandre Gomes deixou bem clara a sua noção de que “a democracia não é garantida, precisa de ser constantemente renovada, alimentada em todo o lado. No nosso país, na nossa cidade, nas nossas escolas, no nosso dia a dia”. O representante da AMJ terminou o seu discurso com a menção à frase da canção “Liberdade” de Sérgio Godinho: “Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde e educação” como forma de relembrar “o papel de muitos poetas, cantores e músicos para a defesa de direitos fundamentais antes e após o 25 de Abril”.

O aproveitamento que está a ser feito do estado de emergência”

Vivemos hoje em Portugal e no mundo uma situação excecional que não podemos de maneira nenhuma ignorar. Vivemos como há 100 anos uma pandemia que põe em risco a nossa saúde coletiva. A situação que se continua a viver torna urgente toda a atenção para a doença da Covid-19, reduzindo e minimizando os seus impactos na saúde e na vida dos portugueses”, considerou Jorge Cortez, representante da CDU, o que no seu entender “tem de significar colocar como primeira e urgente prioridade a adoção de medidas de prevenção de alargamento da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde de modo a proteger e a cuidar daqueles que correm maior risco”.

Para além da preocupação que tem em relação à saúde, a CDU também demonstrou o mesmo sentimento sobre “o aproveitamento que está a ser feito do estado de emergência a servir de pretexto para despedimentos, explorar e restringir drasticamente a possibilidade de os trabalhadores se organizarem, defenderem e fazerem valer os seus direitos”, exigindo, por isso, “a defesa e salvaguarda dos trabalhadores; o apoio às micro, pequenas e médias empresas; e a tomada de medidas efetivas no plano da educação”.

Após se ter oposto “ininterruptamente contra o fascismo nos 48 anos de ditadura”, “durante estes anos de regime democrático, o PCP tem tido um papel incansável e insubstituível na luta pelo desenvolvimento, pela justiça social, pela defesa dos direitos garantidos na constituição e pela melhoria de vida dos portugueses”, concluiu Jorge Cortez.

Preocupa-nos o futuro e a situação sócio económica que virá a seguir à pandemia”

A situação que vivemos não impede que a voz da liberdade, da democracia e da fraternidade ecoe mais alto do que a adversidade que atingiu o planeta e afligiu todas as comunidades”, declarou Manuel Almeida, em nome da coligação PSD/CDS-PP, admitindo que “neste dia que deveria de ser de festa e celebração pela conquista da liberdade em 25 de Abril de 1974, preocupa-nos o futuro e a situação sócioeconómica que virá a seguir à pandemia Covid-19 e que já se verifica no terreno”.

Nesse sentido, a coligação apresentou “um programa de medidas temporárias de diminuição de taxas e impostos sem colocar em causa a estabilidade financeira do Município e os investimentos municipais imprescindíveis ao desenvolvimento e bem-estar comunitário ou aqueles que estão contratualizados e têm comparticipação comunitária” com o objetivo de minimizar aquele que se prevê ser “um desastre económico” resultante desta pandemia. Como “o 25 de Abril restituiu a todos nós a liberdade e o direito de dizermos o que pensamos”, Manuel Almeida lamentou “a decisão tomada pela DGS (Direção-geral da Saúde) de proibir a comunicação das autarquias sobre dados estatísticos fidedignos, fiáveis, respeitáveis e que estão na primeira linha de combate à Covid-19”. Relembramos que, entretanto, a CM de SJM voltou a divulgar os dados da Covid-19 com base nas informações dadas pela autoridade de saúde local e não pela DGS.

“Não podemos permitir que o vírus impeça a mudança e o progresso em S. João da Madeira”

Para Susana Lamas, representante da coligação PSD/CDS-PP, “falar sobre o 25 de Abril é falar sobre a liberdade, a democracia e responsabilidade, mas também é falar sobre revolução e sobre mudança”.

Passados 46 anos da Revolução de Abril, “precisamos de vencer abril, este abril que nos retira liberdade e nos deixa parados no tempo, estagnados, suspensos”, por isso, “perante as exigências do momento, contribuímos com propostas numa atitude responsável” porque “é preciso preparar e implementar medidas que mitiguem os impactos sociais e económicos decorrentes desta pandemia”, indicou Susana Lamas.

S. João da Madeira é uma cidade de empreendedores, quer e precisa de evoluir”, “os sanjoanenses são pessoas competitivas, ambiciosas e criativas” que “procuram estar sempre um passo à frente”, logo “não devemos nem podemos estar estagnados, parados no tempo como estivemos até agora”, alertou a representante da coligação PSD/CDS-PP.

Susana Lamas terminou com a certeza de que “não podemos permitir que o vírus impeça a mudança e o progresso em S. João da Madeira”.

Um ano de desafios, um ano de esperança, um ano de expectativas forjadas”

Este será o ano, esperamos que único, em que as comemorações ficarão marcadas de forma inequívoca não só pelo medo social, mas também pelo medo físico. Um ano de distanciamento em que a comemoração da liberdade implicou que abandonássemos a mesma e suspendêssemos de forma controlada a nossa democracia”, descreveu Rodolfo Andrade, representante da bancada do PS, sobre este que será recordado como um “episódio negro na história da humanidade” que “nos permitirá compreender o perigo da limitação, da abstinência democrática, da subjugação social”. Mas as mazelas deste novo vírus não vão ser sentidas só até determinado mês, mas ao longo de todo o ano. Este será “um ano de desafios que nos obrigará a questionar os modelos económicos, um ano de esperança que nos permitirá pensar mais e melhor do ponto de vista social, um ano de expectativas forjadas”, constatou Rodolfo Andrade.

Para o representante dos socialistas, “o momento que agora vivemos é, sem dúvida, um momento decisivo e importante na vida dos sanjoanenses e é com clara satisfação que confirmamos a expectativa de que podemos confiar neste executivo e com a certeza de que todos sem exceção estão a dar o seu máximo para garantir a segurança e a estabilidade social que precisamos e merecemos”.

Com ou sem pandemia, agora e sempre, “não nos esqueçamos nunca que foi o 25 de Abril que restituiu a todos os portugueses, mesmo aqueles que são contra ele, o direito de viver sem medo”, pediu Rodolfo Andrade, assumindo que “a democracia tem problemas” e é “imperfeita”, mas “ deve ser feita por cada um de nós e praticada em sociedade de forma coerente”, permitindo assim “à população a participação na construção de uma cidade mais justa e tolerante”.

Os tradicionais discursos de Abril foram acompanhados de momentos musicais interpretados pela Banda de Música e pelo Coro de Câmara de S. João da Madeira.

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