O Major-General do Exército Francisco Sousa tem 58 anos, é natural de Ovar, mas reside há muitos mais anos em S. João da Madeira do que na sua terra natal, e é o 2º Comandante do Comando das Forças Terrestres de Portugal.

Este desafio tem nos levado a estar, completamente, absorvidos nas respostas aos pedidos que têm surgido das Autoridades e Instituições Civis, tendo sido alterado o ´centro de gravidade´ do nosso pensamento e da nossa ação, da atividade operacional centrada nas ações militares, nomeadamente a preparação de forças para os Teatros Externos, para assumirmos que agora o fulcro da nossa atividade tem de ser o combate à Covid-19”.

Nesse sentido, “temos o Exército a trabalhar, por equipas de pessoal, 24 sobre 24 horas, sete dias por semana, desde 6 de março do presente ano, orientado para as operações em território nacional, para que possamos apoiar melhor todos os nossos cidadãos e Portugal”, disse o Major-General do Exército Francisco Sousa ao labor.

O impacto do novo coronavírus levou a “uma mudança de paradigma no meu dia a dia, para a qual o treino e a disciplina militar a que estou há 41 anos habituado me têm facilitado a adaptação”. Tais como “regras de distanciamento que se tem de cumprir, cumprimentos mais impessoais que passam a ser a regra, treino físico que tem de ser feito em espaços mais restritos e limitados, algum trabalho que tem de ser feito com recurso às novas tecnologias, preocupações acrescidas connosco e com os outros, para estarmos atentos às suas preocupações e às necessidades silenciosas que, por vezes, a vergonha e o medo não deixam ter voz, etc.”, que se passam “com qualquer outro cidadão”.

Toda a situação vivida em Ovar “provocou, em mim, uma grande preocupação. O descontrolo que se viveu, nas semanas que antecederam esta, no âmbito da propagação da doença, foi encarada como uma ameaça que colocava em perigo todos os vareiros, nos quais incluo os meus entes queridos”. “Sabe, quando a ameaça é visível ou conhecida, é mais fácil conviver com ela. Quando ela se reveste de segredos, a revolta de cada um de nós tende a ser potenciada, mas por sermos impotentes em a combater”, confessou.

O mundo já passou por muitas ´pestes´, mas o Homem continua cá”

Já em S. João da Madeira, “o que tenho visto é uma cidade que guardou a alegria para quando o desafio passar, exceto entre as 20h00 e as 22h00, em que, em pelo menos dois locais da cidade, a música ecoa de dois apartamentos, junto à Praça de Táxis e ao Estádio da ADS, vindo as pessoas à janela com luzes, o que, em boa verdade, por uns momentos, faz esquecer que estamos confinados, para bem de todos, nas nossas liberdades”. Por isso, um “bem haja a quem assume essa ação” porque “todos parecem começar a esperar por esses momentos, para que se sintam mais próximos uns dos outros, através daquela música”, considerou o 2º Comandante do Comando das Forças Terrestres, mencionando outra situação que tem visto com alguma apreensão. “Mais frequentemente do que seria admissível ver, tenho visto, quando estou na cidade, à noite, pessoas a ´vasculhar´ o caixote do lixo. A cidade tem alguns ´sem abrigo´, que já são figuras conhecidas da maior parte dos sanjoanenses, que têm expedientes, que a vida lhes ensinou, para a sua sobrevivência. Tenho visto esses, mas tenho visto novas caras. Tanto uns como os outros deveriam merecer atenções, na minha opinião, de solidariedade, não como solução definitiva para os seus problemas, pois essa tem de ser alvo de projetos e ações mais estruturados e que envolvam a Segurança Social e outras entidades institucionais, mas como uma medida de mitigação da fome, quando o comércio, em especial os restaurantes, não têm sido uma fonte de ´desenrasque´, pois estão fechados”.

Entre as escolhas mais difíceis que teve de tomar foi “ter de me refrear e ser educado, quando, recentemente, em duas estruturas de saúde diferentes, quando acompanhava uma pessoa que necessitava de auxílio, fomos, os dois, literalmente, corridos, por pessoal que, pelas suas funções e missão, deveria ter a consciência das situações e o sentido de refrear o seu pânico, pois a sua ação foi motivada pelo pânico e o medo, que estava a fazer com que olhassem para todos, quantos precisavam de cuidados, como tendo a Covid”, confidenciou o Major-General do Exército Francisco Sousa, preferindo não mencionar o nome das mesmas ao nosso jornal. Passadas três semanas sobre o acontecimento, “fico confortável e até orgulhoso de me ter dominado e não ter reagido mal perante aquelas atitudes e exemplos vergonhosos que nos devem fazer pensar no meio de tanta solidariedade e de valores que o desafio da doença exponenciou”. “Ao contrário das imagens mais cruéis, que na minha vida tenho assistido, esta despoletou-me sentimentos que não seriam nobres, fazendo-me refrear para que não me envergonhasse mais tarde. E disso, apesar de tal me ter custado, ainda me orgulho”, assumiu o 2º Comandante do Comando das Forças Terrestres de Portugal.

Para o Major-General do Exército Francisco Sousa, “a única mensagem insofismável é que o Mundo já passou por muitas ´pestes´, mas o Homem continua cá. E, estejam certos, que não será este vírus que nos irá vencer. Temos é de o combater com os ´instrumentos´ que agora possuímos: a paciência, o resguardo, a responsabilidade e a vontade férrea de triunfar. Os portugueses em geral e os sanjoanenses em particular são gente de trabalho e habituados ao sacrifício. Vale a pena mais um pouco de paciência, vamos acreditar em todos nós e vamos deixar que a inteligência humana encontre o caminho para a conquista porque isso vai acontecer, talvez não tão tarde quanto alguns profetizam”.

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