Um Centro de Arte que ensine

Editorial

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Num mês ainda de pandemia, passou praticamente despercebido o dia em que o município comemoraria a passagem de vila a cidade. Na época, esta alteração de designação dos aglomerados urbanos de “vila” para “cidade”, era uma ambição de praticamente todos os políticos locais e de grande parte das populações porque acreditava-se que ser “cidade” era como que uma promoção social para todos. Equipararia qualquer burgo a um Porto ou a uma Lisboa trazendo consigo a aparente promoção dos “parolos” das vilas. E tanto assim foi que o corrupio das clientelas políticas junto do poder legislativo permitiu, em dias diversos, a aprovação em lote de promoções de vilas a cidades e de aldeias a vilas e por aí fora. Foi, praticamente, uma desbunda administrativa. Só que a História deu as suas voltas e, com uma ou outra diferença, tudo ficou mais ou menos na mesma. Em importância. Trinta e seis anos depois apetece dizer que ser vila, hoje, até poderia ter mais encanto. Estaria tudo na mesma, mais ou menos qualidade de vida, mais ou menos rotundas, mais ou menos serviços, mais ou menos festas, mais ou menos associações e subsídios, mas tudo mais ou menos… Hoje até se percebe que é menos. Em alguns casos muito menos. Essa tal de História levou da vila/cidade para a capital do distrito (ou para além disso…) muitos serviços que lhe davam importância e o município, hoje cidade, passou a ser menos relevante em termos nacionais. A qualidade de vida terá mudado, em alguns casos até para melhor, mas tudo isso aconteceria também na vila de sempre.

Outro aniversário que passou despercebido foi o da criação do Centro de Arte de S. João da Madeira. O verdadeiro Centro de Arte! O que nasceu na Quinta do Rei da Farinha pela mão do então vereador da Cultura, Marques Pinto, com a ambição de dotar a cidade de uma escola de artes, de formação nas artes e de meio de divulgação da arte. E que incentivou o idealismo de Víctor Costa. Na altura foi uma “pedrada no charco” e uma referência a nível nacional. Desenho, pintura, escultura, serigrafia, fotografia foram algumas das disciplinas durante anos “ex-libris” daquele Palacete que hoje está praticamente votado ao abandono. Remodelado por fora para inglês ver, mas ainda mais deteriorado por dentro. A vetusta escadaria de madeira deve estar agora a cair aos bocados e a valiosíssima intenção da candidatura socialista em transformar esse palacete na Casa da Memória apronta-se já para voltar a fazer parte do programa eleitoral nas autárquicas de 2021!

Nessa altura, pouco depois da criação do Centro de Arte de S. João da Madeira, Aníbal Lemos foi desafiado para elevar o conhecimento dos alunos de então na área da Fotografia, tarefa que tem continuado a desenvolver no que ainda resta, do valiosíssimo projeto de formação.  Com o andar do tempo, embriagados pela absorção de fundos comunitários e com uma boa dose de idealismo, os responsáveis políticos foram despromovendo o apoio ao ensino e à formação dessa escola para dar lugar ao aparecimento de novos projetos que, ainda que de algum interesse para o público, tiveram também muito interesse para privados em nome de quem foram assumidos públicos compromissos e custos questionáveis. É no meio deste aniversário esquecido (mais um) que se assinala o início de funções de Aníbal Lemos como novo diretor do Centro de Arte. Uma nomeação que merece uma saudação especial dirigida ao Presidente da Associação Alão de Morais, Manuel Rocha, e que não deixará de possibilitar ao Centro de Arte o regresso à sua insubstituível função de voltar a disponibilizar aos cidadãos a possibilidade de formação nas artes para depois, então sim, ter bases para os ajudar a comtemplar…

Afinal, este maio está a ser muito proveitoso.

 

 

 

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