Tomás Toscano contou à nossa reportagem que voltar à escola o ajuda a “reter informação e manter o interesse”. Este aluno do 12º ano da Serafim Leite está a poucos meses de ingressar no ensino superior 

 

Tomás Toscano, de 18 anos, é aluno do 12º A da Escola Básica e Secundária (EBS) Dr. Serafim Leite. Frequenta o curso de Ciências e Tecnologias e está a poucos meses de ingressar no ensino superior.

Neste momento, admite ainda estar “um bocado indeciso” relativamente ao que quer seguir. O seu “principal foco” é o curso de Engenharia de Micro e Nanotecnologias da Universidade Nova de Lisboa, contudo, não põe de parte “outras engenharias mais expansivas, que abranjam mais tópicos”. A ideia é optar por “algo que me abra um leque bastante grande de oportunidades”.

Esta última terça-feira, ainda antes das 9h00, o labor conversou com este estudante finalista à porta da escola. Uma escola em muito diferente da escola que fechou portas em março passado: praticamente sem pessoas, sem rebuliço matinal, sem toque de entrada. Uma escola que agora recebe a conta-gotas os alunos e os tenta proteger o mais possível de “um bicho que ainda anda aí”.

Após dois meses confinado em casa e a ter ensino à distância, Tomás Toscano regressou na semana passada à EBS onde estuda desde o 10º ano. É aqui que vai concluir o terceiro período escolar, que decorre até 26 de junho, e que, tal como a maioria dos colegas de turma, vai consolidar conhecimentos para em julho ir a exame. Tudo isto no meio de uma crise pandémica sem fim à vista.

“Tenho de admitir que estando em casa faço muito menos do que se estivesse na escola”

A primeira semana de aulas presenciais “correu basicamente como estava à espera: toda a gente distanciada, muitos mais cuidados a ter”, relatou Tomás Toscano. É verdade que, com este regresso condicionado, este jovem sanjoanense já não pode sentar-se, “encostado à parede, como fazia normalmente” e tem de usar máscara mal põe os pés no estabelecimento educativo, permanecendo assim durante algumas horas.

“Três horas [sem poder sair da sala de aula] é um bocado maçante”, sublinhou. De qualquer modo, e conforme também garantiu à nossa reportagem, esta “nova” normalidade não é assim tanto “um bicho de sete cabeças” como muitos querem fazer crer.

Não é que não tema ficar infetado. Este aluno da Serafim Leite acabou por reconhecer ao labor que tem receio de “apanhar o vírus e contagiar alguém da minha família”. Mas, tirando isso, vê com bons olhos as aulas presenciais. Estas são, como justificou, “algo que me ajuda imenso”, “algo bastante necessário para reter informação e manter o interesse”. Sim, porque, conforme reconheceu, “tenho alguns problemas em prestar atenção e em ficar motivado se não tiver pessoas em cima de mim”. “Tenho de admitir que estando em casa faço muito menos do que se estivesse na escola”, completou.

Já faltou mais para os exames de Matemática e de Física e Química que Tomás Toscano tem de fazer para prosseguir estudos. Mas isso também não é coisa que o “preocupa muito”, tendo em conta a média de 19,4 valores que tem atualmente e que “está bastante acima da do curso em que quero entrar”.

Foi, pois, um Tomás Toscano “relaxado” aquele que encontrámos, no dia 26, prestes a ter mais uma aula de Matemática com a professora Cecília Santos. A descontração é, aliás, uma das suas características. No entanto, não deixou de mostrar preocupação face às mudanças que o Ministério da Educação implementou nos exames nacionais deste ano letivo. As provas que os alunos vão fazer em julho não vão servir, desta vez, para aumentar as notas internas do ensino secundário, valendo apenas como específicas para o ingresso no ensino superior e só nessas condições podem ajudar a subir as médias. E, assim sendo, “podem haver colegas a ficar para trás de forma bastante injusta”, chamou à atenção este estudante de S. João da Madeira.

“O ensino nunca mais vai ser igual”

DR

Cecília Santos é professora de Matemática na Serafim Leite desde 1985. Volvidos 35 anos, já se sente como fazendo “parte da mobília da casa”, conforme confidenciou.

Em conversa com o labor, Cecília Santos falou deste seu “amor à primeira vista” – entenda-se Escola Básica e Secundária Dr. Serafim Leite – e do que tem vivido desde que a pandemia assolou o país. Esta docente de 59 anos, que dá aulas aos 10º e 12º anos, nunca imaginou passar por uma situação como esta, “em que efetivamente o Mundo parou” “ao ponto de as portas das igrejas estarem fechadas”, como pessoas mais velhas já lhe chegaram a dizer.

Relativamente ao ensino à distância, ao qual teve de se adaptar quase de um dia para o outro, não tem razões de queixa. “Reagi muito bem a este novo método de ensino. Se calhar por ter andado na telescola e porque o meu 12º foi o primeiro ano propedêutico. Ou seja, foi também à distância e nem sequer tinha um professor de apoio”, relatou, acrescentando: “Tínhamos as aulas pela televisão. Aliás, a minha mãe teve de ir comprar a antena do segundo canal, imagine só”.

Além disso, e mesmo antes do encerramento das escolas devido ao novo coronavírus, Cecília Santos já “tirava dúvidas aos alunos mais interessados aos fins de semana durante o tempo extra-aula”. É certo que, com a implementação do ensino à distância, teve “dificuldades”. Mas estas foram sendo ultrapassadas “com a ajuda da escola” e também dos alunos. “Tem sido, assim, uma mútua aprendizagem”, descreveu.

Aliás, em seu entender, “o ensino nunca mais vai ser igual”, porque “por muito que o professor não estivesse adaptado às novas tecnologias viu-se obrigado a experimentar”. Ela própria passou a dominar “ferramentas” até então desconhecidas. Também “o aspeto humano da nossa escola” saiu a ganhar. “Acho que com toda esta situação os laços fortaleceram-se, houve mais interajuda. Há agora uma maior união entre os colegas, entre professores e a direção e também os alunos”.

“Acho que é uma aprendizagem de vida”

À semelhança de Tomás Toscano, Cecília Santos encarou bem o facto de terem sido retomadas as aulas presenciais. Segundo mencionou ao nosso semanário, “esta primeira semana foi pacífica”, apesar dedar aulas com máscara não ser muito fácil” e de ser grande a tentação de chegar perto dos alunos, o que deixou de poder fazer.

Mas, e condicionalismos à parte, “acho que é uma aprendizagem de vida, que também tem a ver com a minha maneira de estar”. “Estas dificuldades servem para fortalecer os alunos e levam-nos a pensar que na vida não é tudo assim tão linear, que há acontecimentos inesperados”, fez ver esta professora, cuja maior preocupação, assim como a de muitos pais, “é eles apanharem a doença e ficarem impedidos de fazer o exame”. Quanto ao resto, “é viver um dia de cada vez”.

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