Em apenas uma semana, a “SandSpace” foi descarregada mais de 1.500 vezes
Ainda nem sequer começou a época balnear e já toda a gente fala na “SandSpace”. Bruno Dylan, Diogo Resende, Jorge Correia e Nuno Castro, com idades compreendidas entre os 17 e os 19 anos e residentes nos concelhos de Santa Maria da Feira e de Arouca, são os jovens criadores daquela que é a aplicação (app) móvel mais badalada nas últimas semanas em todo o país. Criaram-na em apenas quatro dias. Não só porque quiseram arranjar uma forma de ir à praia durante este verão ensombrado pela pandemia da Covid-19, mas também para submeter a sua app a concurso no âmbito do Apps For Good, programa internacional que desafia alunos e professores a desenvolverem aplicações para smartphones ou tablets, mostrando-lhes o potencial da tecnologia na transformação do mundo e das comunidades onde se inserem.
E por falar em Apps For Good, já passaram à fase regional e têm “esperança de passar à fase nacional”, para grande gáudio da professora Fátima Pais, que os apoia incondicionalmente nesta e noutras “aventuras” informáticas. Segundo esta docente, “na Serafim Leite quando desenvolvemos um trabalho gostamos de o capitalizar”, enquadrando-o em várias atividades. E, de facto, é o que está a acontecer mais uma vez (ver caixa).
Sistema de georreferenciação inclui já 865 praias
Sob coordenação de Fátima Pais, estes estudantes do 12º ano do curso Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos da Escola Básica e Secundária Dr. Serafim Leite – que é como quem diz “do melhor curso e da melhor escola do mundo” como fizeram questão de sublinhar ao labor em videoconferência esta última segunda-feira – desenvolveram uma app, cujo nome traduzido para Português significa “espaço de areia”, que visa a recolha da perceção dos utilizadores quanto à frequência das praias e a sua disponibilização ao público em geral.
Através de um sistema de georreferenciação, que começou por incluir 580, mas que agora já vai em 865 praias oceânicas e fluviais de Portugal Continental, Madeira e Açores, os utilizadores da “SandSpace” terão acesso a um sistema de semáforos que lhe indicam a situação em cada praia: verde, pouca gente; amarelo, poucos lugares vagos; vermelho, praia encerrada. As praias sem informação aparecem referenciadas com sinais verdes de menor dimensão. A informação é fornecida pelos próprios utilizadores e refere-se às duas últimas horas.
Esta aplicação está disponível para download gratuito na Google Play Store e pode ser encontrada em https://play.google.com/store/apps/details?id=com.essl.sandspace. Em pouco mais de uma semana e até ao momento, foi descarregada mais de 1.500 vezes, estando certamente, como referiu Fátima Pais, a caminho dos 2.000 downloads.
Tudo isto gera em Bruno Dylan, Diogo Resende, Jorge Correia e Nuno Castro “um sentimento muito bom”. “Não estávamos habituados a ter tanto reconhecimento da comunidade”, confidenciou Bruno Dylan ao nosso jornal.
Os quatro andam na mesma turma (12º C) e querem ingressar no ensino superior. Embora em universidades diferentes, todos querem tirar Engenharia Informática.
App também vai permitir saber se praias estão fechadas devido a “bactérias, medusas ou outros”
Na sequência de um contacto por parte do Governo Regional dos Açores, que se mostrou interessado em tornar a “SandSpace” na sua “app institucional”, foi adicionada uma nova funcionalidade às que já havia. Sensibilizados por aquele Governo que muitas vezes tem as suas praias “encerradas não por causa da taxa de ocupação, mas das medusas”, “adicionámos um novo ponto – ‘fechada por bactérias, medusas ou outros’”, explicou, desta feita, Nuno Castro.
De acordo com Fátima Pais, “a ‘SandSpace’ está a ser aperfeiçoada”. Ainda “hoje ou amanhã vamos lançar uma nova ‘release’” e, por isso mesmo, “pedimos para que os que já são utilizadores façam a atualização, porque já tem uma data de funcionalidades que não tinha inicialmente”. E aos que ainda não fizeram download apelou para que o façam, porque “como é um projeto que depende das pessoas, quanto mais pessoas usarem a app melhor vai ser a informação”.
Presentemente, “está a dar mais trabalho fazer as atualizações do que propriamente tê-la criado”, garantiu a professora, esclarecendo que as atualizações surgem a partir de solicitações e/ou sugestões (ver caixa) que são feitas, como foi o caso do pedido do Governo Regional dos Açores.
“Estamos a trabalhar em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente”
Fátima Pais também explicou ao nosso semanário que a “SandSpace” “não quer fazer concorrência à ‘Info Praia’”, lançada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Pelo contrário. “Estamos a trabalhar em conjunto, porque eles querem ter o maior número de fontes de informação”, “desde autarquias, Autoridade Marítima Nacional e nesse pacote também incluiu a nossa aplicação”, afirmou a docente, dando nota ainda que já foi desenvolvido um Web Service, através do qual “a APA em tempo real acede aos dados que os utilizadores colocarem na nossa app”.
White hat hacker alerta para “falhas de segurança”
Nesta breve conversa com o labor por videoconferência, Bruno Dylan, Diogo Resende, Jorge Correia e Nuno Castro partilharam uma recente experiência que tiveram com um white hat hacker, que é como quem diz com um hacker bom/ético, especialista em segurança de computadores.
Nuno Castro foi quem mais falou com João Pina, que “basicamente nos disse que a nossa app tinha umas falhas de segurança não na parte do cliente, mas do servidor e que podia deixar de funcionar de um momento para o outro”. Segundo este estudante do curso Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, João Pina “descobriu essas falhas, que ouviu serem comentadas em fóruns, e ajudou-nos dizendo o que podíamos melhorar na app para deixar de haver essas falhas”.
Para a professora Fátima Pais, “esta foi uma situação rara, porque normalmente os hackers são pessoas muito reservadas”, que dificilmente estes seus alunos esquecerão.
Agradecimentos públicos
Através do nosso jornal, os alunos Bruno Dylan, Diogo Resende, Jorge Correia e Nuno Castro, assim como a professora Fátima Pais, agradecem publicamente a todos quantos ajudaram neste seu projeto. A saber: Anabela Brandão (diretora do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite), Vasco Pinto, Tomás Toscano, Celestino Pinheiro, Mariana Pinheiro, João Pina (hacker), Cristophe (irmão de Bruno Dylan) e encarregados de educação.
“Há muita vida para além da ‘SandSpace’”
Naquela que é a “melhor escola do mundo” – entenda-se Escola Básica e Secundária Dr. Serafim Leite – são mais do que muitos os projetos em curso. Caso, por exemplo, de uma aplicação, para além da “SandSpace”, e de um site “muito interessantes” que Jorge Correia e Nuno Castro estão a criar e que Fátima Pais deu a conhecer ao labor.
Aproveitando este período em que a Serafim Leite está em obras, “estamos a pensar angariar fundos para a requalificação dos campos de jogos”. E, nesse sentido, “o Jorge e o Nuno estão a desenvolver uma app em que cada cidadão pode comprar um bocadinho do campo de jogos”, adiantou a professora, acrescentando que este trabalho está a ser levado a cabo no âmbito da prática simulada de estágio de ambos os estudantes. Ou seja, para Fátima Pais “há [pois] muita vida para além do ‘SandSpace’”.
Época balnear arranca este sábado com regras apertadas
É já este próximo sábado que a época balnear arranca. Arranque que este ano, devido à pandemia da Covid-19, começa mais tarde e traz medidas de contenção impostas pelo Governo.
A partir do dia 6 haverá, pois, distâncias mínimas entre pessoas, de 1,5 metros, e chapéus de sol/toldos, de três metros, para cumprir e o estado de ocupação das praias será feito através de semáforos. Existirão também limitações às atividades desportivas com duas ou mais pessoas, exceto atividades náuticas, aulas de surf e desportos similares. Os vendedores ambulantes serão obrigados a usar máscara e viseira, a manter o distanciamento físico e a circular, preferencialmente, pelos corredores de circulação.
Se as regras não forem cumpridas, tanto pelos banhistas como pelos concessionários, ou houver excesso de pessoas, as praias poderão ser interditas por motivo de proteção da saúde pública.